_
_
_
_
_

George Clooney: “Donald Trump não vai ser presidente dos Estados Unidos”

Jodie Foster apresenta fora da competição ‘Jogo do Dinheiro’, um thriller sobre a crise financeira

Gregorio Belinchón

Donald Trump não será presidente dos Estados Unidos porque o medo não é algo que sirva para manipular nosso país. Quando o fenômeno Trump tiver que aterrissar, veremos como a situação muda. Só se fala de seu discurso, da forma, não do mais profundo, e ainda não lhe fizeram as perguntas pertinentes, que ponham suas palavras em seu lugar. Que haja redes de notícias 24 horas não quer dizer que haja notícias diferentes a cada momento, mas que se repete o mesmo várias vezes. Este filme fala sobre esse processo, no qual perdemos a capacidade de investigar e trazer os fatos à luz.” Assim de contundente se apresentou George Clooney no Festival de Cannes, quando lhe perguntaram na coletiva de imprensa de Jogo do Dinheiro sobre a possibilidade de que Donald Trump se torne em novembro o presidente eleito dos Estados Unidos.

Jodie Foster e George Clooney, nesta quinta em Cannes.
Jodie Foster e George Clooney, nesta quinta em Cannes.LOIC VENANCE ((AFP))

Ao lado de Clooney, Jodie Foster e Julia Roberts, diretora e coprotagonista respectivamente do filme, concordavam com a cabeça. Minutos antes, o cineasta havia abordado o tema de outra maneira, muito mais brincalhona, quando um jornalista iraniano lhe disse que quando o olhava via um possível futuro presidente dos Estados Unidos. “Quem diz é alguém que vem do Irã”, respondeu, entre risos.

Mais informações
‘Aquarius’ marca a volta do cinema do Brasil a Cannes em grande estilo
Kleber Mendonça: “Sucesso não é fazer dois milhões de espectadores e nada mais”
Começa a 69° edição do Festival de Cannes

Jogo do dinheiro, que estreará no Brasil em 26 de maio, é um thriller com reféns, mas também se movimenta nesse lado cômico. Seria o resultado de somar Rede de intrigas; O plano perfeito; e os espanhóis El desconocido e El mundo es nuestro: um sujeito normal e comum toma como refém o apresentador de um programa de televisão – mais show que informativo – sobre informação da bolsa: o homem (Jack O’Connel) investiu todo o seu dinheiro na recomendação que esse guru (Clooney) fez sobre uma empresa de investimentos que afundou na Bolsa e perdeu 800 milhões de dólares (2,8 bilhões de reais) de seus clientes. A justificativa: um erro de software do algoritmo que calcula os investimentos. Na realidade, enquanto sequestrador e apresentador vivem essa tensa situação ao vivo, à vista de todo mundo, da sala de controle a produtora do programa (Julia Roberts) descobre as artimanhas que o diretor da empresa (Dominic West) esconde.

Por apresentar um thriller inteligente em Cannes, Foster confessou estar feliz: “No roteiro havia grandes ideias e algumas delas implicavam dinâmicas entre personagens. Gosto muito de trabalhar as relações entre os atores. Este filme tem um orçamento médio, pertence a um grande estúdio (Sony), é de gênero e pretende chegar a todo público possível. Mas também pretende contentar o espectador inteligente, gente que quer saber algo mais. Como faz pensar e sentir, acho que este filme pertence a Cannes”. Afinal, completam-se 40 anos da apresentação de Taxi driver na competição, e a cineasta lembrou disso: “Foi um momento extraordinário. Tinha 12 anos e era um festival mais caótico, sem barreiras que te separassem dos fotógrafos, por exemplo. Assim começou minha carreira como atriz [na qual já conquistou dois Oscars]. Quatro décadas depois volto como diretora e me apaixona estar ao lado de Almodóvar e Jarmush”. Jogo do dinheiro participa a Seleção Oficial, embora fora da competição.

No filme, Clooney dança e faz palhaçadas, porque assim começa o programa semanal de seu personagem. “Avisei Jodie. Sou um dançarino terrível. Puseram uma jovem e talentosa coreógrafa que no final me pediu que não dissesse a ninguém que tinha alguma relação com meus bailes”. Mas, falando sério, e refletindo sobre como a televisão mudou desde os tempos em que mostrava seu Boa noite e boa sorte e este Jogo do dinheiro, o cineasta comentou: “Nesta evolução se cruzou a linha que separa as notícias e o entretenimento. E essa perigosa combinação afeta diretamente a vida real. O problema é que fazem noticiosos para ganhar dinheiro”. E sobre esse personagem, uma celebridade que se equilibra entre a vaidade e a vulnerabilidade, Clooney observou: “Possivelmente eu seja assim. Parece com os papéis que faço nos filmes dos Coen. Sujeitos que se acreditam espertos até que descobrem que são os mais bobos. Tento, na vida real, prestar atenção ao que as pessoas me contam, seus sentimentos e afetos... e pode ser que assim elas não se deem conta de que sou mais bobo que elas”.

Jodie Foster também refletiu sobre sua carreira como diretora, já que este é seu quarto longa-metragem atrás das câmeras: “O elenco é a decisão mais importante porque depois você não pode mudá-lo. No meu primeiro filme, Mentes que brilham, tentei controlar demais os atores. Má ideia. Amadureci. Agora seguem minhas instruções, mas também têm seu espaço para expressar-se. E este é um filme de personagens, com três papéis femininos poderosos, que mandam acima dos homens. Talvez porque esses homens sejam movidos por um grande medo do fracasso e de decepcionar essas mulheres. Essa é uma conquista dos roteiristas”.

Para Julia Roberts, porém, esta é sua primeira vez em Cannes. Espera repetir mais, embora sempre como atriz: “Tenho claras as minhas limitações, entre as quais minha incapacidade para poder responder muitas perguntas em pouco tempo. Algo fundamental para dirigir. Desenhar, tocar o violoncelo, dirigir... Invejo, mas não entram na minha vida. Ponho minhas habilidades interpretativas nas mãos de um diretor”. E sobre o aumento das medidas de segurança na competição, comentou: Não me sinto insegura rodeada dessas pessoas. Com um de meus melhores amigos, George, com uma cineasta que sempre admirei, com gente de talento... Se está aqui até Dominic West, que interpretou meu namorado em O sorriso de Mona Lisa. É minha primeira vez aqui, nesta celebração do cinema. Ninguém pode me estragar este cenário perfeito”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_