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Ataques terroristas matam quase 100 pessoas em Bagdá

O ISIS se responsabilizou pelo atentado no bairro de maioria xiita na Cidade Sadr

O mercado onde explodiu o carro bomba, na quarta-feira.Foto: reuters_live | Vídeo: K. MOHAMMED (AP) | REUTERS-LIVE!
Ángeles Espinosa
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Pelo menos 94 pessoas morreram na quarta-feira, dia 11 de maio, em vários atentados em Bagdá, segundo fontes policiais e hospitalares. O mais grave dos ataques, um carro bomba, pelo qual se responsabilizou o autodenominado Estado Islâmico (ISIS), matou 64 pessoas e deixou quase uma centena de feridos. Horas depois, mais dois carros explodiram em outros lugares da cidade. O alvo dos terroristas foi Cidade Sadr, um bairro majoritariamente xiita do leste da capital iraquiana. Este novo ataque, em meio à crise política que sacode o país, eclipsa os progressos das forças de segurança contra esse grupo.

A chamada agência de notícias Amaq, um órgão de propaganda do ISIS, divulgou que um suicida, identificado como Abu Suleiman al Ansari, tinha por alvo membros das milícias xiitas, conhecidas como Unidades de Mobilização Popular. No entanto, a maioria das vítimas são mulheres, segundo a Reuters, e muitos dos feridos estão em situação crítica.

Segundo algumas testemunhas, a bomba estava escondida em uma caminhonete carregada de frutas e verduras. Seu motorista estacionou junto a um salão de beleza e se perdeu entre a multidão antes da explosão. O número de mortos, que ainda pode aumentar, transforma o atentado em um dos mais graves deste ano. Um ataque similar deixou 70 mortos no mesmo bairro em fevereiro passado.

Os xiitas são um dos alvos preferidos do ISIS, um grupo extremista sunita que os considera hereges e que controla o noroeste do Iraque e parte da vizinha Síria. Os esforços do Governo central para recuperar esse território que os jihadistas ocuparam em junho de 2014 exacerbaram o conflito entre as duas comunidades. A minoria árabe sunita vê com receio o avanço de tropas majoritariamente xiitas e, em grande medida, ligadas a milícias que escapam à autoridade do Estado.

“O Exército do Iraque não é uma organização profissional com padrões exigentes para a promoção e desvinculado da política; os comandos e suas unidades estão alinhados com as facções”, descreve o analista militar Brian M. Downing.

Apesar de a segurança de Bagdá ter melhorado desde a guerra intersectária de meados da década passada, nos últimos meses os ataques do ISIS aumentaram. Os especialistas do Institute for the Study of the War (ISW) associam esse aumento aos avanços das forças de segurança na província de Al Anbar, onde recentemente foram arrebatados os jihadistas na margem sul do rio Eufrates, entre Ramadi e Hadiza, além de iniciadas as operações de limpeza no sul de Faluya. A situação é especialmente delicada porque o país atravessa uma grave crise devido ao rechaço dos blocos políticos à remodelação do Governo. A maioria dos grupos, incluindo os curdos e a aliança sunita, boicotam a reunião do Parlamento desde que em 30 de abril passado os manifestantes, em sua maioria seguidores do dirigente xiita Muqtada al Sadr, assaltaram sua sede. Exigem que os responsáveis sejam punidos.

A paralisia oficial oferece uma oportunidade para o ISIS, que está tentando aumentar a instabilidade e aprofundar a fratura sectária. No momento, a conjuntura obrigou a retardar, mais uma vez, o esperado ataque para recuperar Mosul, a terceira cidade do Iraque depois de Bagdá e Basora, que o ISIS transformou em sua capital iraquiana desde que assumiu o controle há quase dois anos.

“Sem um governo razoavelmente estável em Bagdá, as operações militares sofrerão e o país pode se desintegrar ainda mais”, adverte Downing.

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