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Cannes se protege da ameaça terrorista

O certame recorre a seus pesos pesados para uma seção oficial repleta de cineastas consagrados enquanto multiplica a presença policial no tapete vermelho

Gregorio Belinchón
Militares franceses patrulham Cannes durante o festival de cinema.
Militares franceses patrulham Cannes durante o festival de cinema.Joel Ryan (AP)

Quando a 69° edição do Festival de Cannes começar na quarta-feira, o tapete vermelho do Palácio dos Festivais tentará se transformar em um dos locais mais seguros da Terra. Porque em 2016 a organização estará com a atenção voltada tanto ao cinema como em que ninguém altere o prosseguimento dos 12 dias em que Cannes se transforma no epicentro da sétima arte.

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Para isso já no aeroporto de Nice, o mais próximo à cidade, todos os passageiros – sem exceções para os europeus – passam por um controle extra de identificação. E as premiações serão também uma “bolha impenetrável”, segundo declarações de fontes da organização ao site The Wrap. O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, visitou a cidade na terça-feira para se reunir com os chefes locais da polícia e assegurar que existirão “várias centenas de policiais ativos, incluindo esquadrões de técnicos em explosivos, e 400 vigilantes privados”. Já em abril, as forças de segurança realizaram um ataque simulado por parte de quatro terroristas na escadaria pela qual se entra no Palácio quando acaba o tapete vermelho. Participaram 200 membros da Polícia e, de acordo com a imprensa francesa, os resultados não foram satisfatórios. E se a isso acrescentarmos que a cidade aumentará sua população em 200.000 pessoas... Para concentrar a segurança, a Quinzena dos Realizadores eliminou algumas de suas premiações noturnas, de modo que o terror conseguiu prejudicar o cinema, com a lembrança dos ataques de novembro em Paris.

Teremos filmes, claro. E a Seleção Oficial aparece recheada de nomes tão certos quanto óbvios. Ken Loach volta pela 12° vez. E os irmãos Dardenne – que já têm duas Palmas de Ouro. E Pedro Almodóvar, que com Julieta competirá por sua primeira Palma, ainda que ele afirme que isso está longe de ser uma de suas maiores preocupações. Nicolas Winding Refn, que volta com The Neon Demon, será um rival de peso – e que também poderá recuperar a errática carreira de Keanu Reeves. A britânica Andrea Arnold, que pela primeira vez filmou nos EUA, estreará American Honey. O romeno Christian Mungiu, outro vencedor da Palma de Ouro, estreia Bacalaureat. Os franceses, após o desastre do ano passado, concorrem com Olivier Assayas e seu Personal Shopper, protagonizado por Kristen Stewart (que também atua em Cafe Society, o filme de Woody Allen que inaugura o Festival) e é preciso prestar muita atenção em Rester Vertical, de Alain Guiraudie, autor do perturbador e explícito thriller sexual Um Estranho no Lago. E ocorrerá um retorno espetacular, o do holandês Paul Verhoeven, que dirigiu Isabelle Huppert em Elle. A última vez que Verhoeven esteve em Cannes foi com Instinto Selvagem, em 1992. Desde então choveu muito – as previsões meteorológicas só falam de tempestades durante o Festival – e Sharon Stone dilapidou sua carreira.

A cota do cinema norte-americano é liderada por um trio de força: Jim Jarmusch apresenta Paterson na competição, e nas projeções da meia-noite um documentário sobre Iggy Pop, Gimme Danger. Jeff Nichols, que em Berlim apresentou Midnight Special, traz um drama inter-racial baseado em fatos reais chamado Loving, no qual estará seu ator preferido, Michael Shannon, apesar do protagonismo ser agora de Joel Edgerton (que também apareceu em Midnight Special). Sean Penn estreia The Last Face, com Charlize Theron e Javier Bardem, sobre amores em meio a conflitos africanos. Na sexta-feira é anunciada a presença de Bardem e Penélope Cruz no Mercado de Cannes para promover Escobar, o filme sobre a vida do rei do narcotráfico dirigido por Fernando León de Aranoa. Jodie Foster vem de Hollywood com seu thriller O Jogo do Dinheiro, com George Clooney e Julia Roberts, sobre o desespero que a crise econômica causou em muita gente, e Steven Spielberg com O Bom Gigante Amigo, adaptação de um conto de Ronald Dahl.

Dos asiáticos, outra grande influência, será possível assistir na Seleção Oficial os novos trabalhos do filipino Brillante Mendoza – outro que também competiu em Berlim – e do coreano Park Chan-Wook, que causou grande expectativa com The Handmaiden. O documentário Exile do cambojano Rithy Panh estreará em uma Sessão Especial e After the Storm, de Hirokazu Kore-eda, será visto em na mostra Um Certo Olhar.

O resumo sobre a representação espanhola começa e acaba rápido. Ao lado de Julieta de Almodóvar, que será exibido na terça-feira dia 17, será apresentado um curta na Seleção Oficial: Time Code, de Juanjo Giménez Peña. Em uma Sessão Especial dentro da Seleção Oficial será visto o novo trabalho de um dos meninos mimados de Cannes, o catalão Albert Serra, La Mort de Louis XIV, protagonizado por Jean-Pierre Léaud. Las Mimosas, de Oliver Laxe, estará na Semana da Crítica e o curta Decorado, de Albert Vázquez, na Quinzena dos Realizadores. O filme chileno Neruda, de Pablo Larraín, com participação espanhola, também será exibido. E o produtor Pedro Hernández Santos (Aquí y Allá, A Garota de Fogo) está selecionado na iniciativa Producer on the Move. No Mercado do cinema estão registrados 242 profissionais de 145 empresas espanholas e 25 filmes exibidos para compradores. É certo que se a presença espanhola parece pequena, a latino-americana é exígua: além de Larraín, na Seleção Oficial estará somente o brasileiro Aquarius, do crítico Kleber Mendonça Filho, e o argentino La Larga Noche de Francisco Sanctis, de Francisco Márquez e Andrea Testa, será exibido em Um Certo Olhar.

Para o final, uma das lutas dos festivais, aumentar a participação feminina. Serão apresentados três filmes: Nicole Garcia, Andrea Arnold e Maren Ade como diretoras concorrendo na Seleção Oficial; Geena Davis e Susan Sarandon receberão o prêmio Women in Motion; na Quinzena dos Realizadores a documentarista Laura Potras (ganhadora do Oscar com Citizenfour) apresentará Risk, sobre Julian Assange, e essa sessão terá pela primeira vez em Cannes a participação de uma diretora afegã, Shahrbanoo Sadat, com Wolf and Sheep.

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