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Coluna
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De volta para o passado

Político, Bolsonaro demonstra profundo desprezo pelas agremiações. “Católico fervoroso”, Bolsonaro tem profundo desprezo pelo ser humano

O deputado Jair Bolsonaro.
O deputado Jair Bolsonaro.Agência Brasil

“Messias” em hebraico significa “ungido”, ou seja, consagrado. A palavra extrapolou o contexto religioso judaico-cristão e, tornando-se conceito, passou a representar alguém que acredita possuir poderes sobrenaturais para solucionar os problemas enfrentados por sociedades mergulhadas em situação de caos. O terreno propício para o aparecimento do “escolhido” é o da desesperança política, desagregação econômica e ressentimento social. Vestido com o manto da intolerância e empunhando a clava do autoritarismo, o líder messiânico elege como bodes expiatórios todos aqueles que ousam pensar e agir de maneira independente. O resultado dessas intervenções mistificadoras é sempre catastrófico.

Jair Messias Bolsonaro chegou à Câmara dos Deputados montado em quase 465 mil votos, o equivalente a 6% do total do eleitorado fluminense. Defensor entusiasmado da ditadura, ele mesmo militar da reserva, quando na ativa, entretanto, demonstrou profundo desprezo pela hierarquia. Em 1986, já capitão do Exército, ficou preso por 15 dias por indisciplina e imoralidade, acusado de liderar manifestações por melhoria do soldo. No ano seguinte, anunciou uma operação, denominada Beco sem Saída, que consistia na explosão de bombas de baixa potência em quartéis para chamar a atenção para os salários da categoria. Em ambas as ocasiões, acabou absolvido pelo Superior Tribunal Militar.

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Político, Bolsonaro demonstra profundo desprezo pelas agremiações. Eleito em 1988 à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão (PDC), dois anos depois entrava pela primeira vez para a Câmara dos Deputados, ainda pela mesma sigla. Nos quatro mandatos seguintes, passou pelo Partido Progressista (PP), entre 1993 e 2003; Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), entre 2003 e 2005; Partido da Frente Liberal (PFL), em 2005; PP, novamente, entre 2006 e 2016; e finalmente, em março deste ano, transferiu-se para o Partido Social Cristão (PSC), presidido pelo pastor da Assembleia de Deus, Everaldo Dias Pereira, radical defensor da família “tal qual está na Constituição”, e que sofre um processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por agressão física seguida de ameaça de morte, movido pela ex-mulher, Kátia Maia.

“Católico fervoroso”, Bolsonaro tem profundo desprezo pelo ser humano. Seu principal projeto de lei preconiza a tipificação do roubo de carro – um delito contra o patrimônio – como crime hediondo, ao mesmo tempo em que faz apologia à tortura, considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) crime contra a Humanidade, ao defender a “memória” do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar condenado em ação declaratória de sequestro e tortura. Bolsonaro é favorável à institucionalização da tortura contra traficantes de droga e sequestradores e da pena de morte em casos de crime premeditado. Além disso, sua plataforma inclui a redução da maioridade penal, flexibilização das leis trabalhistas, alterações na Bolsa-Família e a defesa de trabalhos forçados para presidiários.

Machista, o deputado assim explicou o fim de seu primeiro casamento: “Meu relacionamento despencou depois que elegi a senhora Rogéria Bolsonaro vereadora, em 1992. Ela era uma dona-de-casa. Acertamos um compromisso. Nas questões polêmicas, ela deveria ligar para mim para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias. Mas ela não soube respeitar o poder e liberdade que lhe dei”. Homofóbico, disse: “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. Racista, afirmou: “Não corro o risco de meus filhos se relacionarem com uma mulher negra ou com homossexuais, pois eles foram bem educados”.

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Luiz Ruffato é escritor e jornalista.

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