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27 milhões por 4 minutos: os salários mais altos do cinema

Nicolas Cage embolsou 71 milhões de reais por 0 segundos E existem outros casos: Charlie Sheen, Julia Roberts, Sean Connery...

Mark Hamill como Luke Skywalker em 'Star Wars'.
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A vida de um aspirante a ator em Hollywood é acidentada. Todos abandonam a universidade porque não há tempo a perder e, portanto, nenhum tem um plano B. A maioria sobrevive de casting em casting acumulando recusas e papéis insignificantes, mas a promessa do sucesso é muito sedutora. O prestígio não é dado, é preciso ganhá-lo. E o que faz a maioria das estrelas quando alcançam a glória? Voltam aos papéis insignificantes. A diferença é que cada minuto na tela os aproxima mais de liquidar a hipoteca de sua nova mansão. Dinheiro fácil, trabalho tranquilo e aparições estelares sob medida que, entretanto, não contaminam seu status de estrelas globais. Essas são as estrelas que melhor foram recompensadas por ficar em uma filmagem por poucos dias.

Julia Roberts em 'Idas e Vindas do Amor' (2010)

Tempo na tela: 6 minutos.

Salário: 10,6 milhões de reais.

Cordon

Para o público desse filme Julia Roberts é tão legendária como Isaac Newton ao mundo da mecânica clássica. Ela é a razão pela qual amamos a comédia romântica e seu rosto no cartaz vale cada dólar que lhe pagaram por sua breve aparição. Concretamente, 28.000 reais por cada segundo que aparece na tela. Julia afirma que participou desse projeto como favor pessoal ao diretor Garry Marshall (que a dirigiu em Uma Linda Mulher e Noiva em Fuga), mas em Hollywood ninguém faz favores de graça.

Sean Connery em 'Robin Hood – O Príncipe dos ladrões' (1991)

Tempo na tela: 2 minutos.

Salário: 891.600 reais.

Apesar de sua estética artificial ter saído de moda duas semanas depois de sua estreia esse épico romântico, a maior glória de Kevin Costner, foi um fenômeno em 1991 embalado pela longuíssima balada de Bryan Adams (Everything I Do, I Do It For You). A intervenção de Sean Connery como Ricardo Coração de Leão foi muito mais curta, para abençoar o casamento entre Robin e Marian. Connery interpretou o príncipe dos ladrões em Robin e Marian (1976) com Audrey Hepburn, de modo que sua presença trouxe prestígio e importância cultural. Seus dois dias de trabalho e quatro linhas de diálogo lhe renderam 250.000 dólares (891.600 reais) que ele doou a instituições de caridade, em um gesto inegavelmente poético: Sean Connery é o verdadeiro príncipe dos ladrões.

Morgan Freeman em 'Oblivion' (2013)

Tempo na tela: 10 minutos.

Salário: 7,05 milhões de reais.

As razões para contratar Morgan Freeman são evidentes: traz presença, experiência e uma voz estrondosa que fica fenomenal no trailer. Isso explica o fato de que 80% de sua filmografia é de filmes indignos e esquecíveis que o transformaram em um milionário, mas cujo fracasso não afetou seu status. Um exemplo: quem levou todas as críticas por Oblivion foi Tom Cruise. Esse ano veremos Morgan Freeman no delirante remake de Ben-Hur, em cujo trailer aparece penteado como Whoopie Goldberg e com uma cara de “onde está meu cheque?”. Obviamente a única coisa épica desse trailer é a voz de Freeman falando em alcançar a glória.

Ving Rhames em 'Missão Impossível – Protocolo fantasma' (2011)

Tempo na tela: 4 minutos.

Salário: 27,2 milhões de reais.

Junto com Tom Cruise, Ving Rhames é o único ator que apareceu nos quatro filmes da saga Missão Impossível. No último, o contrato de Ving Rhames estipulava que deveria receber uma fortuna “por acumulação”. É um desses contratos assinados nos anos 90 e que comprometiam os atores a receber uma miséria por um filme sob a promessa de que o salário se multiplicaria no caso da realização de sequências. Algo parecido à moda atual de “agora não pagamos, mas dividiremos os benefícios quando eles aparecerem”. Sua aparição no quarto filme era risível e Rhames a finalizou em um só dia de filmagem. E levou quase 28 milhões de reais. Nada mal, Ving.

Marlon Brando em 'Super-Homem' (1978)

Cordon

Tempo na tela: 10 minutos.

Salário: 67,25 milhões de reais.

Poucas estrelas se beneficiaram tanto de sua condição de lenda do cinema como Marlon Brando. Seus 12 dias de filmagem foram um pesadelo para o diretor Richard Donner, já que Marlon insistia em se negar a aparecer no filme. Ele propunha gravar suas linhas de diálogo e que sua personagem fosse criada digitalmente. Quando o estúdio o obrigou a ir ao set de filmagem, Brando exigiu que escrevessem seus diálogos em cartazes que ele leria sem esforço porque não estava com vontade de memorizar suas falas. Além disso exigiu uma porcentagem sobre os lucros de bilheteria, uma cláusula incomum nos anos 70. Como se não bastasse, o nome do ator nos créditos apareceu em primeiro lugar, antes de Gene Hackman e do pobre Christopher Reeve/Super-Homem, que parecia ser o menos importante do filme.

Jesse Eisenberg em 'Acampando no Inferno' (2010)

Tempo na tela: 5 minutos.

Salário: 10,6 milhões de reais.

Em 2007 Jesse Eisenberg participou desse filme de baixo orçamento como um favor ao seu diretor, George VanBuskirk. Recebeu 10.408 reais por sua breve aparição, o mínimo estipulado pelo sindicato de atores. Quando estreou, Acampando no Inferno promoveu o ator como protagonista para se beneficiar de sua fama ascendente com Zombieland. Eisenberg considerou o ato como ilícito, processou a distribuidora e exigiu 10,6 milhões de reais como compensação, uma quantidade superior ao orçamento total do filme. E recebeu.

Robert Downey Jr. em 'Os Vingadores' (2012)

Tempo na tela: 37 minutos.

Salário: 177 milhões de reais.

Por 4,8 milhões de reais por minuto, o papel secundário de Downey Jr. como Homem de Ferro o transformou no ator mais bem pago por três anos seguidos. Quando as outras estrelas da saga se queixaram pela colossal diferença de salários (Chris Evans, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson e Chris Hemsworth recebem entre 8 e 20 milhões de reais cada um) a Marvel não teve dúvidas em ameaçá-los de demissão se estivessem descontentes. “Ninguém é imprescindível nesse universo”, alertaram em referência à habitual troca de personagens nos quadrinhos (Thor, por exemplo, é agora uma mulher nos quadrinhos). Mas ao que parece Robert Downey Jr. é imprescindível e já se fala em um salário próximo aos 800 milhões de reais pelos dois filmes de Vingadores 3 – Guerra Infinita. Nada mal para um ator cujos problemas com as drogas o afastaram de Hollywood, retornando graças a Homem de Ferro em 2008 com um salário de 1,77 milhão de reais.

Charlie Sheen em 'Todo Mundo em Pânico5' (2013)

Tempo na tela: 6 minutos.

Salário: 880.692 reais.

O prólogo do quinto filme da paródia de Pânico começa com Charlie Sheen e Lindsay Lohan ridicularizando suas próprias vidas: ele como um viciado em sexo e ela batendo um carro e culpando outra pessoa pelo ocorrido. Sheen filmou suas duas cenas em um dia e doou seu salário à própria Lohan, que estava no vermelho por seus problemas com a justiça e com empresas de seguros as quais deveria indenizar por não se apresentar na metade do tempo para trabalhar. O restante de seu salário foi doado a diversas causas de caridade escolhidas pelos funcionários de Todo Mundo em Pânico 5. Apesar de não parecer, Sheen pode ser um cavalheiro.

Nicolas Cage em 'Super-Homem Vive' (sem estrear)

Tempo na tela: 0 minutos.

Salário: 71 milhões de reais.

O formato contratual mais delirante de Hollywood continua sendo o chamado pay-or-play, que garante que o ator receba seu cheque mesmo se o filme nunca for filmado. Esse foi o caso da ressurreição do Super-Homem que seria dirigida por Tim Burton, que também levou 17,7 milhões de reais, e protagonizada por Nicolas Cage, que recebeu 71 milhões de reais por não fazer nada. Isso porque Super-Homem Vive não existe. De acordo com a lenda, assim que Burton recebeu o cheque deixou de escutar o produtor e o roteirista, o que acabou cancelando o projeto. Esse gasto absurdo é a razão pela qual Super-Homem – O Retorno (Bryan Singer, 2006) tem um orçamento oficial de 1,13 bilhão de reais. Benicio del Toro se beneficiou de outro contrato pay-or-play quando recebeu 17,6 milhões de reais por não aparecer em O Gângster (Ridley Scott, 2007), já que foi substituído no último momento por Russel Crowe.

Michael Biehn em 'Alien 3' (1992)

Tempo na tela: 0 minutos.

Salário: 4 milhões de reais.

O militar Dwayne Hicks de Alien iria protagonizar o terceiro filme da saga substituindo Ellen Ripley. Após várias mudanças do texto e discussões entre o produtor, os roteiristas e o diretor David Fincher ficou decidido que o personagem morreria no começo do filme. O ator Michael Biehn nem sequer era necessário já que se utilizou uma máscara prostética. Mas Biehn exigiu uma compensação econômica pela utilização de seu rosto. Essa é só mais uma história em uma filmagem infernal na qual ninguém sabia muito bem o que estava fazendo, resultando em um filme que não tem argumento.

Mark Hamill em 'Star Wars: O Despertar da Força' (2015)

[Esse parágrafo contém spoilers do filme]

Tempo na tela: 30 segundos.

Salário: entre 4 e 12 milhões de reais.

Nunca ninguém foi tão recompensado por girar com cara de preocupação como Mark Hamill (interpretando Luke Skywalker) no Episódio 7 de Star Wars. Ele não tinha nenhuma vontade de fazer o filme, mas também não queria ser um estraga-prazeres de modo que colocou a condição de que Harrison Ford e Carrie Fisher também participassem. Hamill estava certo de que Ford não gostaria de voltar à saga, mas se enganou. A Disney estipulou um sistema salarial chamado “escala de salários de acordo com o legado”, o que significa que quanto mais famoso você for e mais essencial for sua aparição, mais dinheiro você leva.

Evidentemente Harrison Ford embolsou uma aposentadoria estratosférica para ele e todos os seus descendentes (e merece cada dólar), mas no final das contas ele faz alguma coisa em O Despertar da Força. Luke Skywalker nos dá um final emocionante que nos deixa ansiosos para ver o Episódio 8 e que não tem preço. Na realidade ele existe e é muito alto, mas se há um lugar no qual semelhante extravagância tem lógica esse é Hollywood. O material do qual são feitos os sonhos tem o rosto impresso de Benjamin Franklin. Justamente, Franklin é o autor da frase “o dinheiro não traz felicidade”. Benjamin também disse que tempo é dinheiro, e Hollywood parece decidida a provar o contrário.

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