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Após saída ruidosa do Governo, PMDB tenta debelar rebelião e proteger Temer

Jucá substitui vice no comando da sigla e ministros resistem a deixar cargos. Renan é peça-chave

O senador Jucá discursa no Senado.
O senador Jucá discursa no Senado.L. Marques (Ag. PT)

Está declarada a guerra entre os dois PMDBs: o oposicionista e o governista em torno do Governo Dilma Rousseff e do impeachment. Supunha-se que a queda de braço entre as duas alas deveria arrefecer depois que a legenda decidiu, em uma reunião-relâmpago no último dia 29 e por aclamação, entregar todos os 600 cargos que possui na administração federal incluindo os sete ministérios que tinha até a semana passada. Mas o que veio depois não seguiu exatamente o script, sinalizando que o  vice Michel Temer não exibe controle incontestável na legenda. Dos sete chefes de pastas, apenas um a devolveu ao Governo, Henrique Eduardo Alves, que comandava o Turismo. Os outros seis se “colaram” à cadeira e estão reticentes em liberá-las, mesmo que seja para a gestão Dilma Rousseff ampliar o seu balcão de negociação e tentar obter mais votos contra o pedido de destituição que avança na Câmara dos Deputados.

Em uma reunião realizada na noite de segunda-feira, a cúpula do PMDB decidiu que o vice-presidente  Temer (PMDB-SP), que é o presidente nacional da legenda, deveria se licenciar de seu cargo partidário. Como seria o principal beneficiado por uma destituição de Rousseff, Temer tem sido alvo de críticas por parte de movimentos sociais, de congressistas do PT e do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alguns chegaram a dizer que ele deixou de ser jurista para se tornar um "golpista". A ofensiva marcou alguns pontos, e o próprio Temer teve de vir a público se defender. Daí a decisão de que o senador Romero Jucá (PMDB-RO) deveria o substituir. “Retiramos o presidente Michel Temer da tentativa de alguns setores de trazer o Michel para uma briga de rua. Trazê-lo para um desgaste, muitas vezes irresponsável. O PMDB dará a resposta necessária com clareza necessária a qualquer tipo de provocação", disse Jucá.

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A estreia de Jucá foi um duro discurso de duas horas no plenário do Senado, em que defendeu abertamente o impeachment de Rousseff. Ex-líder dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva e da própria Dilma (ambos do PT), o senador tentou eximir o seu partido da crise pela qual passa o país. Disse, por exemplo, que a legenda não ajudava a pilotar o avião do Governo, apesar de há quase 13 anos estar aliado aos petistas. “O PMDB não pilotou esse avião do Governo. O Michel não era copiloto, o Michel estava fora da cabine. Nós éramos comissários de bordo. A gente segurava as pessoas, mandava apertar o cinto e dava um saquinho para vomitar”, disse na tribuna.

Nos últimos dias outros movimentos chamaram a atenção, como a insistência da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) em ficar no Ministério da Agricultura, a onda de demissões coletivas de peemedebistas em cargos de segundo e terceiro escalões promovida pela presidenta e a atitude de cautela do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos jogadores mais importantes neste xadrez.

Um dos principais caciques peemedebistas, o senador Renan Calheiros, tem feito o jogo que está acostumado. Acena para todos os lados. Primeiro disse que esperava que o impeachment não passasse pelo plenário da Câmara e, consequentemente, não chegasse ao Senado. Depois, nesta terça, afirmou que o país poderia passar neste ano por eleições gerais, o que incluiria o pleito para deputados, senadores e para a presidência. Aliado de Rousseff, Renan foi voto vencido entre os peemedebistas que tentavam evitar o desembarque do Governo. Ainda assim, mantém influência entre boa parte do partido, principalmente no Senado, onde o impeachment de Rousseff deve ser julgado.

Rebelião e balcão de negócios

Cobrado por colegas parlamentares sobre quando retiraria os seis ministros do PMDB de seus cargos, Romero Jucá foi reticente na tribuna. Mas entre as instâncias partidárias os filiados anti-PT agiam contra alguns dos governistas. Três processos de expulsão do partido foram abertos. Já foram registrados pedidos contra ministros da Aviação Civil, Mauro Lopes, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, ambos deputados licenciados, e contra a ministra Kátia Abreu, senadora licenciada, por descumprirem a decisão do partido de romper com o PT. “Não se trata de agir contra quem não apoia o impeachment, mas de cobrar a fidelidade ao partido”, defendeu Moreira Franco, um dos membros da Executiva Nacional peemedebista.

Por meio de seu Twitter, Abreu afirmou que não pretende deixar o partido. Antes já tinha dito que não deixaria o Governo. Depois de fazer uma dura oposição ao Governo Lula, a ministra se aproximou de Rousseff e inclusive a convidou para ser uma de suas madrinhas de casamento. Os outros ministros que não se demitiram são Helder Barbalho, dos Portos, Marcelo Castro, da Saúde, e Eduardo Braga, das Minas e Energia. Nenhum deles ainda foi vítima de ações por expulsão.

Membro do grupo governista, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), diz que as eventuais punições internas são naturais e não devem interferir no processo de impeachment. “O partido decidiu romper com o Governo, não que apoiaria o impeachment. Isso só será discutido na próxima semana”, disse Picciani ao reforçar que votará contra a destituição presidencial. Segundo ele, o Palácio do Planalto não chegou a negociar nenhuma vantagem para os peemedebistas que mantiverem o apoio ao Governo e votarem contra o impeachment.

Nos últimos dias, intensificaram-se também as negociações entre a gestão petista e lideranças do PSD, PR e PP para ocuparem os cargos que seriam liberados pelo PMDB, caso desembarcassem de fato. Diante das críticas e acusações públicas e sem provas de desafetos, como Paulinho da Força (SD), de que estaria tentando comprar votos, Rousseff diminuiu essas discussões. Anunciou nesta terça-feira que as trocas nos ministérios do PMDB só ocorrerão depois da votação do pedido do impeachment, previsto para ocorrer até o dia 17 de abril.

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