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Macri prefere que Dilma não sofra o impeachment, mas mantém distância

Crise política brasileira causa forte inquietação entre os argentinos

Carlos E. Cué
O presidente da Argentina, Mauricio Macri.
O presidente da Argentina, Mauricio Macri.Victor R. Caivano (AP)
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Tudo o que acontece no Brasil é acompanhado na Argentina como se fosse um assunto de política interna. Os dois gigantes do Mercosul vivem pendentes um do outro. Por isso, o Governo de Mauricio Macri há bastante tempo se colocou em alerta máximo com relação à situação no Brasil. Apesar de pertencerem a correntes ideológicas diferentes, Macri assim que tomou posse apostou fortemente em manter uma relação estreita com a presidenta Dilma Rousseff, e agora não tem nenhum interesse na queda da presidenta brasileira, conforme deixa claro em pronunciamentos públicos e também em conversas reservadas com assessores. Macri e sua equipe, sob o comando da chanceler Susana Malcorra, uma experiente diplomata, trabalham para dar o máximo de sustentação possível a Rousseff, mas evitam se envolver além do razoável e não usam a expressão “golpe”, encampada por vários líderes da esquerda latino-americana. Publicamente, Malcorra diz que o Governo argentino espera que todo o conflito seja resolvido pelas vias constitucionais. Por outro lado, tenta organizar uma reunião do Mercosul, ainda não confirmada pelo Itamaraty, que expresse um respaldo institucional a Rousseff e lance ao mundo a mensagem de que o subcontinente está tranquilo.

O Governo Macri está particularmente preocupado com as repercussões econômicas da crise no Brasil. O mercado brasileiro é o destino de boa parte da produção industrial argentina, especialmente do setor automotivo, que desde o ano passado enfrenta uma onda de demissões e restrições por causa da recessão no país vizinho. A situação não para de se complicar, e Macri deseja contribuir na medida do possível para acalmá-la. Nesta quarta-feira, em uma coletiva de imprensa com o presidente dos EUA, Barack Obama, o mandatário argentino lembrou "o que acontece no Brasil logo se reflete Argentina". Ambos os líderes demonstraram confiança em que o país supere sua crise política.

Alguns economistas e pessoas próximas ao governo também afirmam que esta crise é uma oportunidade para que a Argentina apareça como um país estável com um Governo forte em comparação com seu vizinho em crise. Apontam que no momento em que há muito capital acumulado no mundo, a crise brasileira pode fazer com que grandes investimentos que poderiam ir para aquele país venham para a Argentina.

No entanto, a maioria dos líderes consultados afirma que, ao contrário, para a Argentina é melhor que o Brasil esteja bem porque as relações são tão estreitas que a queda no consumo brasileiro afeta muito as empresas argentinas. Este verão já viveu uma consequência direta inesperada. A crise brasileira e a desvalorização do real fizeram com que milhares de argentinos fossem de férias para este país, muito mais barato do que o deles, o que provocou na costa argentina uma das piores temporadas dos últimos anos. Mas as consequências mais profundas estão no mundo industrial e exportador que tem o Brasil como principal cliente.

Macri, portanto, vai ajudar Rousseff a continuar e não vai se comprometer com aqueles que, em teoria, deveriam ser seus aliados ideológicos, a oposição brasileira, que quer derrubar o governo. O presidente argentino mantém sua aposta na relação estratégica com o Brasil e qualquer gesto agressivo contra Rousseff agora seria uma declaração de guerra. No entanto, também atuará com cautela, pois ninguém sabe como vai terminar a situação. A única coisa certa é que a Casa Rosada, sede do governo argentino, acompanha minuto a minuto o que acontece no Brasil e, nesse momento, essa é sua principal preocupação na região e no mundo.

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