_
_
_
_
_

Dilma: “A gritaria dos golpistas não vai colocar o povo de joelhos”

Em cerimônia de posse de Lula, presidenta se defender de Sérgio Moro e diz que "direitos foram violados" com grampos na Presidência. "Golpes começam assim", diz

Marina Rossi
Mais informações
Lula assume ministério da Casa Civil
Sérgio Moro levanta sigilo de investigação de Lula e põe Governo contra a parede
Cássio Cunha Lima: “Dar ministério ao Lula é um autogolpe. É o fim do Governo Dilma”
Envio de termo a Lula é “abuso de poder” de Dilma, avaliam juristas

A presidenta Dilma Rousseff proferiu um discurso duro nesta quinta-feira na cerimônia de posse do ex-presidente Lula na Casa Civil. Em rede nacional de televisão, aproveitou todos os holofotes não somente para saudar Lula, mas, principalmente, para deixar claro que enfrentará o juiz Sergio Moro, responsável pelas investigações da operação Lava Jato. No dia anterior, Moro tornara público diversos grampos telefônicos de Lula, sendo que um deles, uma conversa com Dilma Rousseff em que pode dar a entender que a presidenta tenta favorecer o novo ministro ao solicitar a assinatura antecipada do termo de posse “em caso de necessidade”.

"Investigações baseadas em grampos ilegais não favorecem a democracia neste país", disse a presidenta nesta manhã. Um dos questionamentos que surgiram à ordem de Moro foi o fato dele ter  despachado um pedido de suspensão dos grampos às 11h13 da manhã de quarta-feira. A gravação em que a presidenta fala com Lula, indicando o envio de um documento de posse no ministério para ser assinado em caso de necessidade, ocorreu pouco mais de duas horas depois, às 13h32, quando as operadoras já deveriam, em tese, ter interrompido a gravação.

Essa gravação levantou a hipótese de que Lula estaria sendo empossado na Casa Civil porque havia alguma situação que pudesse incriminá-lo. No discurso, Dilma rebateu: "Em que pese o teor absolutamente republicano do diálogo que eu tive ontem com o ex-presidente Lula, ele foi publicizado com uma interpretação desvirtuada; mudaram tempos de verbo, mudaram “a gente” para “ele”, e ocultaram - e eu estou guardando esta assinatura desse termo de posse como uma prova [ e mostrou o documento] - ocultaram que o que nós fomos buscar no aeroporto era esta assinatura, que está assinado o presidente Lula, mas não tem a minha assinatura. E, portanto, isto não é posse". 

A presidenta afirmou que Lula não poderia voltar a Brasília nesta quinta-feira para tomar posse e por isso estava enviando o documento para que ele assinasse e tornasse assim oficial sua ida à Casa Civil. "A posse ocorreria aqui porque o presidente Lula, por ter algum problema pessoal para voltar a Brasília hoje, uma vez que a dona Marisa não está bem. [Mas ele] veio hoje, justamente, para manifestar aqui a sua determinação de participar do governo".

A mandatária também questionou a inconstitucionalidade de tornar pública uma conversa da presidência. "Não há justiça quando delações são tornadas públicas, de forma seletiva, para execração de alguns investigados, e quando depoimentos são transformados em fatos espetaculares. Não há justiça quando leis são desrespeitadas, e eu repito, a Constituição aviltada", disse a presidenta. "Não há justiça para os cidadãos quando as garantias constitucionais da própria Presidência da República são violadas".

A recepção a Lula como novo membro do Governo ficou em segundo plano na cerimônia em Brasília. A presidenta cumpriu o protocolo de saudar o ex-presidente como novo chefe da Casa Civil, assim como Eugênio Aragão, novo ministro da Justiça, e Mauro Lopes, da Aviação Civil. Vestida com uma roupa preta e um terno bege, longe do vermelho-PT que muitos na plateia escolheram para este dia, Dilma enalteceu o ex-presidente, lembrou das conquistas sociais do Governo PT e finalizou dizendo que "pelos brasileiros nós estamos juntos outras vez". Depois disso, passou à ofensiva a Sergio Moro, ainda que sem mencionar o nome do juiz.

"Eu defendo a liberdade de expressão e manifestação. Sei como foi difícil conquistá-la", disse, resgatando sua história. "Defendo a busca da verdade, para construir uma sociedade, um governo e um país livre da corrupção. Mas isso não me fará recuar da exigência da mais absoluta apuração do que aconteceu ontem".

Enquanto falava, a tensão pairava dentro e fora do Planalto. Dentro, uma vaia foi puxada logo após a primeira palavra do discurso da presidenta - "bom dia" - e fora, um confronto entre governistas e oposicionistas elevava as temperaturas dos tempos convulsionados vividos no país. A plateia da presidenta, feita de alguns movimentos sociais, ministros e deputados da base aliada gritou "não vai ter golpe" algumas vezes. E Dilma endossou a tese do "golpe": "A gritaria dos golpistas não vai me tirar do rumo e não vai colocar o povo de joelhos", reagiu.

O juiz Sergio Moro despachou uma nota também nesta quinta-feira atestando a legalidade dos grampos. "A circunstância do diálogo ter por interlocutor autoridade com foro privilegiado não altera o quadro, pois o interceptado era o investigado [Lula] e não a autoridade [Dilma], sendo a comunicação interceptada fortuitamente", disse. "Nem mesmo o supremo mandatário da República tem um privilégio absoluto no resguardo de suas comunicações, aqui colhidas apenas fortuitamente", afirmou o juiz.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_