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Sérgio Moro levanta sigilo de investigação de Lula e põe Governo contra a parede

Entre papéis agora públicos, está série de conversas telefônicas de Lula, Dilma e ministros. Ex-presidente foi anunciado ministro

Protesto diante do Planalto contra Dilma.
Protesto diante do Planalto contra Dilma.EVARISTO SA (AFP)
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“Dar ministério ao ex-presidente é um autogolpe. É o fim do Governo”

No dia em que Luiz Inácio Lula da Silva foi anunciado como o novo ministro da Casa Civil, o juiz federal Sergio Moro autorizou a divulgação dos documentos da 24ª fase da operação Lava Jato que tinha o ex-presidente como o principal alvo. Uma série de áudios das interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal mostram que o líder petista pediu para o então ministro Jaques Wagner interferir junto à Rosa Weber, a ministra do Supremo Tribunal Federal que estava com um processo judicial envolvendo o ex-presidente exatamente dentro desta ação.

Na sequência, um trecho do diálogo de Lula com Wagner, segundo relatório da Polícia Federal:

Lula: Mas viu querido, “ELA” tá falando dessa reunião, ô WAGNER eu queria que você visse agora, falar com “ELA”, já que “ELA” tá aí, falar o negócio da ROSA WEBER, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram.

Wagner: Tá bom, falou! Combinado, valeu querido, um abraço. Um abraço na MARISA e nos meninos...

Na mesma investigação, a PF flagrou Lula conversando com a presidenta Dilma Rousseff em que trataram da posse dele no cargo de ministro da Casa Civil. Na ligação, feita às 13h32 desta quarta-feira, Rousseff diz a Lula que um assessor dela estava levando o termo de posse para ele. Na prática, se Lula fosse abordado pela Polícia Federal, ele não poderia ser preso porque a decisão teria sido tomada por um juiz de primeira instância. E, como ministro, só o Supremo Tribunal Federal poderia mandar prendê-lo.

Eis o diálogo de Dilma e Lula:

- Dilma: Alô

- Lula: Alô

- Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.

- Lula: Fala, querida. Ahn?

- Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!

- Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.

- Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.

- Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.

- Dilma: Tá?!

- Lula: Tá bom.

- Dilma: Tchau.

- Lula: Tchau, querida.

A gravação teve imediato impacto político e contribuiu para insuflar ainda mais as manifestações de rua contra o ex-presidente como ministro que já se formavam em alguns pontos, como diante do Palácio do Planalto, em Brasília.

No decisão em que quebra o sigilo, Moro justifica: "O levantamento propiciará (...) o saudável escrutínio público (...). A democracia em uma sociedade livre exige que governados saibam o que fazem governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras".

Para a defesa de Lula, não caberia mais ao juiz de Curitiba decidir ou não sobre qualquer aspecto relacionado ao caso, ainda que não esteja claro se no exato momento da decisão o ex-presidente já estivesse formalmente nomeado ministro. O registro do despacho de Moro marca 16h21 desta quarta. O Governo publicou uma edição extra do Diário Oficial com a nomeação de Lula, mas não há indício evidente da hora.

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