_
_
_
_
_
crise política
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

A cartada de Lula

Enganaram-se os que pensavam que o ex-presidente Lula iria se apequenar depois da manifestação massiva do último domingo

Juan Arias
Lula conversa com a imprensa em 4 de março.
Lula conversa com a imprensa em 4 de março.NELSON ALMEIDA (AFP)
Mais informações
Lava Jato faz pente fino em triplex e contratações de palestras de Lula
Lula assume ministério da Casa Civil
JUAN ARIAS | 'O Cristo de Lula não encontra paz'
M. A. BASTENIER | 'Lula cai do cavalo'

Estavam enganados os que pensaram que o ex-presidente Lula iria se apequenar após ser levado em 4 de março com mandato coercitivo para ser interrogado pela polícia federal na operação Lava Jato. E após ser o principal alvo da enorme manifestação de domingo que levou às ruas aproximadamente quatro milhões de pessoas.

Lula já havia comentado, minutos após o fim do interrogatório com a polícia, que só conseguiram “pisar no rabo da jararaca e não na cabeça e por isso ele “continuava vivo”. Acrescentou que as elites não aceitam que “um metalúrgico de merda” tenha chegado à Presidência da República.

Lula terá dificuldades em convencer a opinião pública de que não aceitou ser ministro somente para se refugiar no foro privilegiado, e poder assim evitar ser processado pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, que é seu verdadeiro pesadelo. Uma vez ministro, será processado pelo Supremo Tribunal Federal, onde espera receber maior benevolência. E não parece preocupado pelo fato de que sua decisão de entrar no governo pode significar uma admissão de culpa.

Os que conhecem a força da autoestima de Lula sabem que Lula será um líder que, se for preciso, “morrerá matando”

Os que conhecem a força da autoestima de Lula sabem que Lula será um líder que, se for preciso, “morrerá matando”, como confessou um de seus amigos mais próximos.

Lula não é um personagem de meias palavras e de receios. Prefere os desafios. Atemorizar do que sentir-se atemorizado. É desses líderes que, o tempo todo, se dispõem a arriscar tudo.

É o que acaba de fazer. Convencido de que Dilma Rousseff foi abandonada à própria sorte, que parece incapaz de arrumar a economia do país, decidiu dar o que alguns chamam de “golpe branco”, colocando-se no posto-chave do Governo e deixando de fato a presidenta como uma figura decorativa.

Alguns analistas escreveram que Lula não esperou 2018 para tentar voltar à Presidência. Na prática, com sua nova nomeação, se torna, de fato, o Presidente em funções.

Sua cartada é arriscada e perigosa, um desafio que ninguém, hoje, é capaz de profetizar aonde pode conduzir a ele e ao país. Sua cartada poderia lhe abrir caminho para o embate de 2018 ou talvez para a prisão.

Lula não quis esperar. Desafiou todos antes que a justiça o desafiasse. Assumiu o grande risco por uma vitória ou uma derrota definitiva.

Assim é Lula. Ele mesmo já havia anunciado: “Acabou o Lulinha paz e amor”. Hoje prefere a nova imagem da jararaca venenosa disposta a atacar. Seu primeiro desafio parece ser obrigar Dilma a mudar o modelo econômico.

O Brasil espera atônito os desafios do Lula irritado e ferido.

Os movimentos que protagonizaram as últimas manifestações já ameaçam “incendiar a rua”.

O Brasil vive um dos momentos mais delicados e perigosos de sua democracia.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_