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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

O triplo salto mortal (bem resolvido) do Oscar

Hollywood consegue encerrar o debate das minorias étnicas com uma das melhores cerimônias de premiação

Gregorio Belinchón
Michael Sugar recebe o Oscar de melhor filme por 'Spotlight'
Michael Sugar recebe o Oscar de melhor filme por 'Spotlight'M.A. (Reuters)
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É preciso tirar o chapéu para a Academia de Hollywood. Resolveu em uma dos melhores cerimônias de premiação dos últimos anos a imensa confusão em que se meteu por não representar as diversas minorias étnicas em suas indicações. A culpa não é da Academia, mas da própria Hollywood: como disse Spike Lee ao receber seu Oscar Honorário algumas semanas atrás (o prêmio é entregue antes da grande cerimônia), é mais fácil um negro ser presidente dos Estados Unidos que diretor de um estúdio de Hollywood. Na noite de domingo em Los Angeles um apresentador negro, Chris Rock, distribuiu piadas para todos, até para outros negros que estavam boicotando a cerimônia, como Will Smith.

A cerimônia foi divertida, brilhante, os acadêmicos foram provocados por sua brancura, e houve momentos de emoção em número suficiente para que o espectador não saísse do sofá. Começou e acabou com uma estatueta para Spotlight, de Tom McCarthy: a que premiava melhor roteiro original e a mais importante, a de melhor filme (tinha ganho o prêmio do Sindicato de Atores, a profissão da maior parte dos acadêmicos de Hollywood). Alguns criticaram Spotlight por não se aprofundar no drama das vítimas de abusos sexuais por parte dos padres de Massachussetts, mas o filme não trata disso, e sim de como os jornalistas do The Boston Globe encararam e investigaram o caso. No último segundo tirou a estatueta de O Regresso, que no final da cerimônia parecia ser o vencedor, depois das estatuetas para o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki (terceira seguida), o diretor Alejandro González Iñárritu (segunda depois da que ganhou por Birdman no ano passado) e Leonardo DiCaprio (sim, chegou sua vez, e incluiu em sua comemoração um lúcido discurso sobre a mudança climática). Preferiram não inflar ainda mais o ego de Iñárritu? Não se premiam direções low profile, adequadas a certas histórias, e sim as que parecem fogos de artifício?

Houve poucas surpresas, mas houve. Mad Max ganhou seis estatuetas, todas técnicas, mas não levou o Oscar de melhores efeitos visuais, que ficou merecidamente com Ex Machina. DiCaprio foi acompanhado nos prêmios de melhor atuação pelas favoritas Brie Larson (melhor atriz) e Alicia Vikander (melhor atriz coadjuvante). Sylvester Stallone voltou para casa sem a estatueta, que ficou com o excepcional Mark Rylance (melhor ator coadjuvante) em Ponte dos Espiões. E pode ter sido a última oportunidade. O trio criou personagens sem grandes excessos.

O Chile ganhou seu primeiro Oscar – com um curta de animação baseado no sofrimento do avô do diretor causado pela ditadura de Pinochet – , o compositor Ennio Morricone subiu ao palco aos 87 anos para receber sua primeira estatueta em competição (já foi premiado antes com o Oscar Honorário) e, na reta final, a Academia decidiu tirar o doce da boca de Iñárritu para entregar a Spotlight: no último meio século só Titanic ganhou o grande Oscar sem ter sido candidato a melhor roteiro e O Regresso não repetiu a proeza. Dos oito títulos que concorriam ao Oscar de melhor filme, seis ganharam pelo menos uma estatueta. E de Carol, uma obra-prima, nada se soube, uma das duas falhas da cerimônia. A outra foi em canção original, uma categoria que, nesta edição, não fazia jus à grandeza da cerimônia. Pelo menos serviu para que um vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, aparecesse para apresentar Lady Gaga e a chamasse de amiga. Mais uma surpresa.

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