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Somos todos farofa

Os brasileiros que fazem piquenique na praia, estigmatizados como “farofeiros”, são alvo das lentes delicadas de João Castellano

João Castellano
Marina Rossi
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É intraduzível. Assim como brigadeiro e coxinha, farofa é uma palavra que não se traduz para nenhuma outra língua. Um dos ícones da gastronomia brasileira, a iguaria tem também uma segunda conotação, talvez menos glamourosa do que a de coadjuvante da tradicional feijoada.

Dizemos que uma praia é farofa quando queremos nos referir a um balneário com muita gente, muito barulho, muita comida. Farofeiros, por sua vez, são aqueles que lotam essa praia, levando para a praia o frango frito, o sanduíche de mortadela, as garrafas de refrigerante, o isopor de cerveja, a caipirinha na garrafa térmica, a maionese com flor de tomate e, claro, a farofinha para acompanhar todo esse banquete. O cenário perfeito para o fotógrafo João Castellano.

Durante uma sessão de fotos para uma revista na represa de Guarapiranga, em São Paulo, Castellano começou a perceber melhor as pessoas que estavam ali. "Achei aquilo lindo, porque as pessoas que estavam lá estavam curtindo maravilhosamente", conta. Ele então invadiu a praia de Guarapiranga e ali nascia o projeto Sou farofa.

O fotógrafo passou a frequentar a Guarapiranga, represa que fica na zona sul de São Paulo e foi adotada como uma praia pelos moradores da região. Foi também para o Piscinão de Ramos, uma piscina artificial de água salgada e areia no entorno, instalada no bairro da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. E passou um mês em Pernambuco, fotografando praias na região da capital, Recife. "Comecei a ver que somos preconceituosos. Passamos por essas praias e dizemos 'olha a farofada ali', mas de um jeito pejorativo", diz. "E a única forma de mudar isso dentro da gente é aceitar que temos preconceito". 

O projeto faz uma provocação à essa reflexão. "Eu sou farofa", diz Castellano. "Adoro um frango frito e uma farofa". Ele diz ter feito cerca de 6.000 fotos para o projeto. Dessas, 30 irão para uma exposição, que ainda aguarda patrocínio para acontecer. "Mas quero abrir a exposição nos próximos meses. E no coquetel de abertura vai ter que ter Cidra, churrasquinho, farofa e cerveja", conta. O projeto prevê também a publicação de um livro, com 60 imagens.

Ao longo de mais de um ano frequentando as praias farofas, Castellano diz ter aprendido com a reflexão. "Uma vez escutei de um cara: 'A gente se diverte, porque o pobre deixa os problemas em casa. O rico traz com ele", conta. "E ele tá certo, né?".

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