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Diretora da OMS: “A crise do Zika pode piorar antes de melhorar”

Margaret Chan aponta que ainda não há provas para associar o zika vírus à microcefalia

María Martín
Margaret Chan com a camisa da campanha oficial contra o zika.
Margaret Chan com a camisa da campanha oficial contra o zika.U.M. (REUTERS)
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Na sua visita ao Brasil, o epicentro do zika vírus, a diretora geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), a chinesa Margaret Chan, fez uma advertência: “A situação pode piorar antes de melhorar. Não se surpreendam se outras partes do Brasil começarem a notificar a síndrome. É um vírus difícil, cheio de incertezas, por isso devemos estar preparados para possíveis surpresas”.

Durante a coletiva de imprensa, que aconteceu na Fundação Oswaldo Cruz – da qual fazem parte os pesquisadores que descobriram que a saliva e a urina também têm potencial de transmissão do zika vírus – Chan qualificou o vírus como “misterioso” e como a “maior ameaça” de saúde nos últimos tempos devido à sua expansão geográfica. Até o momento, 46 países notificaram infecções por zika e 130 convivem com o mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus. Por isso, o potencial de expansão é enorme. Como comparação, Chan lembrou que o letal vírus do Ebola afetou apenas nove países

A diretora da entidade também fez questão de esclarecer que ainda não existem provas científicas que demonstrem a relação do vírus contraído por mães gestantes com a microcefalia, uma má formação no cérebro dos bebês que pode causar graves transtornos neurológicos. Apesar da incerteza científica, a OMS já tinha declarado no começo de fevereiro um alerta sanitário mundial após a proliferação de casos de microcefalia no Brasil. “O vírus é culpado até que demonstremos o contrário”, avaliou Chan.

As suspeitas da relação vêm se multiplicando no Brasil nos últimos meses, o único país até hoje onde há um aparente e significativo aumento dos casos notificados de microcefalia coincidindo com a expansão do vírus. O ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse ter estabelecido uma correlação epidemiológica, temporal e regional entre o vírus e a microcefalia. “Onde é que tem o maior número de casos de microcefalia no Brasil? Exatamente na região onde nós tivemos maior número de casos de zika. Onde nós não temos casos de microcefalia? Onde não houve casos de zika”, disse Castro. “Nossos investigadores não têm dúvida em afirmar que a epidemia de microcefalia que o Brasil esta vivendo foi causada pela epidemia do zika”. O ministro, no entanto, lembrou que outros agentes infecciosos, como a sífilis, a toxoplasmose e a herpes, podem contribuir com a malformação.

Dos habituais 150 casos de microcefalia notificados por ano no Brasil, o país passou a ter hoje 5.640 casos suspeitos e 583 confirmados, segundo o último boletim informativo do Ministério da Saúde. A maioria deles, cerca de 64%, segundo Castro, poderão ser descartados, o que ainda assim representa um grande número de confirmações.

Uma vacina contra o vírus, contudo, é ainda uma realidade remota. Castro afirmou que uma vacina para a dengue poderia ser desenvolvida em dois anos, enquanto a do zika pode demorar até três, antes de ser submetida a testes clínicos e poder ser comercializada.

O cenário de dúvidas que vivem os cientistas e especialistas diante do zika e da microcefalia foi destacado pelo chefe do departamento de surtos emergências da OMS, Bruce Aylward, também presente na coletiva. "Trata-se de uma enfermidade horrível com terríveis consequências e incertezas. Estamos aprendendo na medida que avançamos”, disse.

Após dois dias no Brasil, onde se reuniu com a presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, e visitou Recife, em Pernambuco (região mais afetada pela microcefalia), a diretora da OMS não economizou elogios à gestão do governo brasileiro contra o zika vírus. Chan ressaltou o “compromisso do país no combate ao mosquito” e sua “transparência” ao divulgar os dados sobre a epidemia, inclusive com outros países, pouco familiarizados com o zika, ajudando-os a conhecer melhor o comportamento do vírus.

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