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Coluna
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Deutsche, um banco fétido

O último septênio do principal banco alemão é um despropósito contínuo

Xavier Vidal-Folch
Estátua diante de uma agência do Deutsche Bank em Frankfurt.
Estátua diante de uma agência do Deutsche Bank em Frankfurt.KAI PFAFFENBACH (REUTERS)
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Nem sempre a maldade gera lucros. Pelo contrário, às vezes a corrupção engendra malefícios.

O principal banco alemão, o Deutsche Bank, registrou em 2015 perdas de 6,7 bilhões de euros (30 bilhões de reais). Afundou na Bolsa no final de janeiro, recuperou um tantinho.

Mas isso no curto prazo. O essencial é que desde a crise financeira de 2008 só desaba. Na época, a ação estava cotada em 100 euros (448 reais); agora, oscila em torno de 17 (77 reais), uma quinta parte, arredondando para baixo.

Claro que isso é resultado dos saneamentos de devedores e incobráveis, os custos de reestruturação (eliminou 35.000 empregos e abandonou 10 países em 2015), o pagamento de multas por condutas ilegais (e imorais) nos EUA, no Reino Unido, em Bruxelas, e até na Rússia (mantém 6.000 litígios!).

A explicação para o desmoronamento é sua joia da coroa, o banco de investimentos: a especulação de estilo anglo-saxão, muito mais que descontar letras, manter participações e aguentar clientes humildes e pesados no estilo renano. Isso o afundou com o Lehman. Antes da crise gerava 70% dos lucros do grupo. Agora, produz perdas. E não encontra substituição fácil.

Se retroagirmos ao antissemitismo dos anos trinta (poderíamos), o último septênio do principal banco alemão é um despropósito contínuo: riam-se dos problemas espanhóis, italianos ou gregos.

O Deutsche trapaceou com as contas falsas da Enron e World.com em 2001-2002. Maquiou seus dados nas enormes hipotecas subprime norte-americanas. Multiplicou sem taxa os títulos de seus chefões. Foi multado em 2,25 bilhões de euros (10,1 bilhões de reais) por fraudes com a libor no mercado de Londres: empurravam a taxa de juros para cima quando antes da crise havia demanda e podiam conseguir taxas mais compensadoras para seus empréstimos; e na baixa, quando lhes convinha o contrário, endividar-se a taxas baixas.

Mais ainda. Seu copresidente Fitscher foi processado por lavagem de dinheiro e evasão fiscal ao se esquivar do IVA nos certificados de emissões de CO2. Apostou na baixa e a descoberto (desafiando seu Governo) contra empresas espanholas. E espionou jornalistas e diretores.

O Deutsche é somente a ponta do iceberg do saudoso capitalismo humanista reconvertido a capitalismo desalmado, de compadres, de cassino e de golpistas. Um banco ainda grande. Mas fétido.

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