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Kendall Jenner: “Que mulher me inspira? Meu pai”

Uma das caçulas do clã Kardashian visita Barcelona como garota-propaganda da Mango Conversamos com ela sobre o peso de ser a adolescente mais influente do planeta

Kendall Jenner posa para a divulgação da festa ‘Tribal Spirit’ da Mango, em Barcelona.
Kendall Jenner posa para a divulgação da festa ‘Tribal Spirit’ da Mango, em Barcelona.Getty
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Neste curioso (e nada fácil) universo de adolescentes famosas que o mundo viu crescer, há duas ligas diametralmente opostas. Está a de Miley Cyrus e Britney Spears, ou seja, essa na qual se passa de menina a mulher dinamitando tudo e sem freios; provocando as pessoas e sem vontade de pedir desculpas por se liberar da puberdade dessa forma tão catártica. No polo oposto estão as meninas como Emma Watson ou Amandla Stenberg. Meninas do cinema que se tornaram adultas com vontade de aproveitar sua notoriedade para dar exemplo e ser um modelo a seguir. Garotas que mal passaram os 20 anos, mas que surpreendem com seus discursos sobre igualdade, suas visitas à ONU ou conversas com Malala. São tão inteligentes que às vezes nem parecem humanas, mas aí estão, convivendo com as Mileys e Britneys, que tampouco são tontas e são igualmente necessárias para equilibrar a balança universal.

Kendall Jenner (Calabasas, 1995) não está em nenhuma dessas duas ligas. Nem quer estar. Ela, a adolescente mais influente do planeta em 2015 segundo a revista Time, sabe que estes 47,5 milhões de seguidores que possui no Instagram são, na verdade, um negócio muito, mas muito rentável. Esta morena alta e de pele de porcelana não dá escândalos, citações inspiradas nem faz alegações contra o Photoshop em suas atualizações. Suas redes são uma extensão do seu negócio. É herança da família. Para aqueles que estão levantando as sobrancelhas e se perguntando (inexplicavelmente) "quem é ela?", Kendall Jenner, é a menor do clã Kardashian. O que marca o ritmo dos meios de comunicação soft.

“Kendall! Kendall!” Histeria nas Ramblas de Barcelona quando a modelo chegou à festa da Mango.
“Kendall! Kendall!” Histeria nas Ramblas de Barcelona quando a modelo chegou à festa da Mango.Cordon Press

Ela é filha de Bruce Jenner, um medalhista olímpico que ganhou o decatlo para os EUA nos Jogos de 1976 e é agora uma estrela global por sua mudança de sexo e transformação em Caitlyn Jenner, campeã da causa transgênero. Sua mãe é Kris Jenner, uma aeromoça que se casou com o advogado de O. J. Simpson, Robert Kardashian, antes de conhecer Bruce Jenner (agora Caitlyn) e de voltar a passar pelo altar. Todo este jogo de cadeiras implica que Kendall e sua irmã mais nova, Kylie, são irmãs de Kim, Khloé e Kourtney Kardashian. Ela faz parte dessa tribo que fez da lavagem de roupa suja familiar todo um negócio de televisão no reality The Kardashians. O programa já está há 11 temporadas no ar, tempo em que os telespectadores puderam comprovar como uma das caçulas da tribo passou de menina tímida a supermodelo, dona das passarelas (Chanel, Givenchy, Marc Jacobs e Victoria’s Secret, entre outros grandes nomes) e das campanhas milionárias (Esteé Lauder, Calvin Klein, Balmain e H&M).

A última a contratá-la foi a Mango, que deu um golpe de efeito ao recrutá-la como imagem de Tribal Spirit, a primeira tendência de sua nova estratégia comercial. Na última semana, revolucionou Barcelona, quando apareceu na incrível flagship da empresa nas Ramblas, mas algumas horas antes de ser vista conversando animadamente com Andrés Velencoso e outros participantes da festa, nos recebeu com um pouco de jet lag para uma entrevista rápida de 10 minutos. Tempo que seu agente estipulou para os poucos meios que puderam entrevistá-la. Estão proibidas de antemão as referências à sua família e à sua vida privada. “É a primeira vez que estou em Barcelona. Da Espanha só conhecia Ibiza, mas não pude ver muito porque aproveitei para dormir no hotel”, afirma extremamente educada e profissional.

Kendall Jenner ao lado da irmã Kim Kardashian e da mãe Kris Jenner.
Kendall Jenner ao lado da irmã Kim Kardashian e da mãe Kris Jenner.Getty

Este foi o resultado de uma conversa fugaz (e cronometrada) com a instamodel do momento.

Pergunta. A revista Time escolheu você como a adolescente mais influente do planeta. Já pensou alguma vez nas possíveis cargas de responsabilidade social que envolve esse título?

Resposta. Tento não pensar muito sobre isso. Quero ser eu mesma e que as pessoas sejam como quiserem ser. Não quero que as pessoas me imitem ou tentem me copiar. Respeito totalmente esse título? Sim, claro, mas também quero viver minha vida como quiser e não quero me preocupar com o que as outras pessoas vão pensar. Sabe o que quero dizer? Basicamente vivo para mim, não para o resto do mundo.

P. Como lida uma menina de 20 anos com toda a exaustiva pressão dos meios de comunicação e os tabloides?

R. Tento que isso não me afete. Não entendo por que as pessoas querem colocar tanta energia sobre sua vida e analisar cada milímetro, ainda quando, na maioria das vezes, de uma forma negativa. Tento me afastar o máximo possível dessa lente de aumento. Na verdade, sempre fui a mais reservada em relação à minha vida privada de toda minha família.

P. Sua última campanha com Calvin Klein foi uma das mais comentadas por seu alto conteúdo erótico. Você se sente confortável vendendo este ideal sexualizado que funciona tão bem na mídia?

R. Meu objetivo nunca foi ser a mais sexy ou a mais provocativa. Comecei minha carreira de uma forma muito mais tranquila, mas é preciso levar em conta que é uma campanha de roupa interior e, obviamente, deve ter alguma tensão sexual, embora não acho que sempre se deva vender ou se venda esse ideal feminino na moda.

P. Você se considera feminista?

R. [Pensa por alguns segundos antes de responder] Não sei nem li o suficiente sobre o tema para dizer se sou feminista ou não. O que posso dizer é que sou muito do women power (poder feminino). Acho que as mulheres são mais fortes e poderosas que os homens, mas não posso dizer mais sobre o tema, porque não sei mais nada.

P. Que mulheres a inspiram?

R. Minha mãe, meu pai e minhas irmãs. Muito, na verdade. Sou uma garota de sorte, cresci rodeada de mulheres e aprendi muito com elas, que são fortes e independentes com suas carreiras. Nem toda mulher pode dizer: “Ei, olha, sou a chefona do meu relacionamento, tenho meu trabalho, sou independente, posso comprar meu próprio carro e minha própria casa”.

Kendall com o pai, a ativista transgênero Caitlyn Jenner, no Instagram dele.
Kendall com o pai, a ativista transgênero Caitlyn Jenner, no Instagram dele.

P. Muitas pessoas não sabem que você é também escritora. Dois anos atrás, junto com sua irmã Kylie, você filmou Rebel, city of Idra, um romance de ficção científica sobre duas super-heroínas. [O romance foi o único fiasco econômico das Jenner, que compartilham êxitos importantes com sua própria coleção de roupas acessíveis – Kendall & Kylie –, lançaram sua linha de esmaltes para Opi – pela qual receberam 80.000 euros [cerca de 360.000 reais] – e uma coleção de acessórios e sapatos para Steve Madden]. Por que um romance distópico para estrear no mundo editorial?

R. Desculpe, mas você pode repetir a pergunta? Dis... o quê?

P. Distópico, de ficção científica. As pessoas acharam estranho você se lançar com esse gênero...

R. Queríamos fazer algo diferente, algo que ninguém esperava, romper com os limites daquilo que achavam que podíamos fazer. Todo mundo achava que, se escrevêssemos um livro, seria alguma coisa sobre nós mesmas. Ainda vivemos muito pouco a vida para poder escrever sobre nós mesmas!

P. Durante a divulgação do livro, vocês disseram que tinham se inspirado nos romances de Philip K. Dick. Qual é o seu romance preferido dele?

R. Philip... o quê? Pode repetir, por favor?

P. Sim. Philip K. Dick, o escritor.

R. Ah, sim. Gosto dele, claro.

P. Qual é a história dele que você mais gosta e que a inspirou?

Silêncio. Ela sorri e seu agente pede que se passe à pergunta seguinte)

P. Qual livro você recomendaria aos nossos leitores?

R. [Volta a ficar pensativa por alguns segundos]. Sendo sincera, devo dizer que não sou uma leitora voraz. Gosto de ler coisas interessantes, com que se pode aprender algo. Coisas da cultura popular e modernas, sabe? Olha, esta por exemplo: O que acontece com os homens? Gosto desse livro. Para mim, isso é uma coisa interessante, que pode me ensinar coisas e que, além disso, é divertido.

P. Você se envolveu politicamente para estimular os millenials a votarem nas eleições presidenciais. Chegou a atuar como eleitora na campanha Rock the vote. Por que você acha que é tão importante que os jovens votem?

Jenner em uma das imagens de sua campanha para a Mango.
Jenner em uma das imagens de sua campanha para a Mango.Mango

R. Somos uma nova geração. Vivemos novos tempos. É importante se informar e saber o que acontece no nosso país. É importante, porque nós somos o futuro.

P. Acha que os Estados Unidos estão preparados para ter uma mulher como presidente do país?

Jenner para a Mango.
Jenner para a Mango.

R. Ah, sim, totalmente. Seria maravilhoso, não?

E assim se conclui a nossa rápida conversa. Percebe-se que Kendall Jenner é uma jovem na casa dos 20 anos educada e sincera – fica claro que não pretende representar nenhum papel – e, embora afirme levar uma vida louca com tanta promoção, confessa que se isola da agitação promocional nos quartos de hotel. E o que faz ali? Bem, como qualquer jovem, dá um #netflixandchill. “Estou ligadíssima, agora, em Making a murderer. Você já viu? Por causa do trabalho, tive de parar na metade da temporada. É absolutamente incrível. Não me conte nada, por favor!”.

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