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Jacques Rivette, cineasta mestre da ‘Nouvelle Vague’, morre aos 87 anos

Partidário da experimentação, dirigiu filmes como ‘A Religiosa’, ‘A Bela Intrigante’ e ‘Quem Sabe?’

Álex Vicente
Jacques Rivette, em 2009, no Festival de Veneza.
Jacques Rivette, em 2009, no Festival de Veneza.DAMIEN MEYER

O cineasta francês Jacques Rivette, mestre da Nouvelle Vague, morreu nesta sexta-feira em Paris, aos 87 anos. Apaixonado desde a infância pela sétima arte e admirador de Jean Renoir e da era de ouro da comédia norte-americana, Rivette fundou um cineclube em sua cidade natal, Rouen, antes de se mudar para Paris, no final dos anos quarenta, quando se matriculou na Sorbonne e começou a frequentar os círculos cinéfilos do Quartier Latin. Lá conheceu Éric Rohmer, com quem fundaria em 1950 a revista La Gazette du Cinema. Três anos mais tarde, ambos se integrariam à equipe de críticos da Cahiers du Cinéma, onde conheceriam François Truffaut e Jean-Luc Godard. Em 1963, Rivette foi nomeado redator-chefe da revista. A Nouvelle Vague, movimento cinematográfico de vanguarda que viria a sacudir as mais do que necrosadas tradições do cinema francês, nasceu nessa redação.

Nesse clube de futuros diretores, Rivette foi considerado sempre o personagem mais misterioso e introspectivo, algo como a voz da consciência desse grupo. Em 1949 rodou seu primeiro curta-metragem, Aux Quatre Coins, ao qual se seguiriam Quadrille (1950) e Le coup du Berger (1956), rodado no apartamento parisiense de Claude Chabrol e considerado por muitos a pedra fundamental da Nouvelle Vague.

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Em 1958 começou a filmar seu primeiro longa, Paris Nos Pertence, que já contém muitas das obsessões de Rivette – a improvisação, a teatralidade e a estrutura labiríntica – e que só estrearia em 1962. Com seu segundo filme, conheceu a censura: sua adaptação de A Religiosa (1966), escandalosa obra de Denis Diderot que ele levou à tela com a cumplicidade de Anna Karina, foi inicialmente proibida, antes de conhecer um sucesso inesperado entre a juventude que meses depois sairia à rua durante o Maio de 1968.

Para Rivette, todo filme devia ser uma experiência única. O cineasta continuou avançando pelo caminho da experimentação até o final da sua carreira, situando-se sempre à margem das normas e convenções. Nunca abandonou uma longa reflexão sobre a representação da realidade, que às vezes traduziu em filmes com durações muito incomuns, como L’Amour Fou (1969), com quatro horas, ou a ainda mais mastodôntica Out 1 (1970), que durava ao todo 13 horas. Rivette também dirigiu Céline e Julie Vão de Barco (1973), Duelle (1975), Noroît (1976) e Le Pont du Nord (1980), rodadas numa Paris misteriosa e poética.

As personagens femininas são outro fio condutor do seu cinema. Fiel a algumas de suas atrizes-fetiche, como Jane Birkin, Sandrine Bonnaire, Emmanuelle Béart e Jeanne Balibar, Rivette rodou com elas títulos como L’Amour Par Terre (1984), A Bela Intrigante (1991), Jeanne la Pucelle (1993), Paris no Verão (1995), Quem Sabe? (2001), Não Toque no Machado (2007) e seu último filme, 36 Vues du Pic Saint-Loup (2009), sobre uma trupe de artistas que tenta manter seu trabalho após a morte do dono do circo onde trabalham.

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