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OMS diz que zika vírus atingirá até quatro milhões de pessoas nas Américas

O vírus já está presente em 23 países da América Latina

Pneus removidos para evitar o acúmulo de água em porto Rico
Pneus removidos para evitar o acúmulo de água em porto RicoALVIN BAEZ (REUTERS)
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O que faltava: o mosquito

O zika vírus se "expande de maneira explosiva" na América Latina, disse na manhã desta quinta-feira a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, em uma reunião específica para discutir o avanço da infecção no mundo. "Até o dia de hoje, há relatos de casos em 23 países ou territórios da região. O nível de alerta é extremamente alto", ressaltou ela. O especialista em doenças infecciosas da OMS, Marcos Espinal, afirmou que calcula que entre três e quatro milhões de pessoas serão infectadas pelo vírus nas Américas, sem, no entanto, dizer se isso acontecerá este ano.

Espinal também lembrou que o vírus chegará a todas as regiões em que houver o Aedes aegypti. Segundo os mapas de extensão da dengue (que tem como vetor o mesmo mosquito), esse território vai do sul dos EUA até a Argentina. Apenas Canadá e Chile ficam de fora da área de influência do mosquito. Diante da situação, Chan avisou que na próxima segunda-feira, o Comitê de Emergência da organização se reunirá para tratar do tema.

O vírus zika, que geralmente provoca uma infecção leve e assintomática, está sendo associado a dois problemas de saúde mais graves: o nascimento de crianças com microcefalia e alguns casos da Síndrome de Guillain-Barré. Microcefalia é um desenvolvimento anormal do cérebro e do crânio do feto, causado por uma infecção provocada pelo vírus que pode levar a deficiências em diferentes graus; a Síndrome é um distúrbio neurológico, que tem origem autoimune e causa fraqueza, perda de reflexos, dormência, dor e visão turva, entre outros sintomas. A relação entre estas complicações e o zika não está demonstrada, mas sua alta probabilidade fez com que passasse de "uma ameaça leve a uma de proporções alarmantes".

Além disso, neste momento, ao contrário do que ocorreu na África, onde se originou, há os agravantes de que uma ampla parcela da população não está imunizada, já que é a primeira vez que se expõe ao vírus; que o mosquito está amplamente disseminado pelo continente; e que o fenômeno climático El Niño, uma mudança nos padrões das chuvas, tem sido muito intenso este ano, o que fará com que as estações chuvosas durem mais tempo, adverte a OMS. Também não há tratamentos ou vacinas para o zika. Segundo as autoridades sanitárias brasileiras, onde a doença explodiu, a confecção de uma vacina pode demorar no mínimo dois anos.

Microcefalia no Brasil

Na última quarta-feira, o Ministério da Saúde brasileiro divulgou um novo relatório sobre os casos de microcefalia no país. Entre 22 de outubro do ano passado e 20 de janeiro de 2016, os Estados registraram 4.180 casos suspeitos da condição e 270 foram confirmados. Com o descarte de 462 casos que foram notificados, mas não atendiam os critérios, 3.448 casos continuam sendo investigados.

O ministério também afirmou que há uma tendência de queda no número de casos notificados pelos Estados, algo que já era de certa forma esperado já que o mosquito que transmite o zika, o Aedes aegypti, circula com mais frequência entre os meses de fevereiro e abril. Os bebês nascidos em janeiro foram concebidos no final do pico de surto da doença. O país trabalha agora para evitar que o Aedes se prolifere com força a partir de fevereiro deste ano e cause um novo rebote de aumento de microcefalia daqui a nove meses.

O que se deve discutir

Emilio de Benito

A Organização Mundial da Saúde convocou uma reunião de seu Comitê Executivo para segunda-feira para discutir a propagação do Zika vírus na América Latina, embora não tenha divulgado a pauta. Eis algumas das perguntas que devem ser discutidas:

O perigo do vírus. Todo o alarde criado depende de um fator: que seja confirmada a relação entre o zika e as malformações em recém-nascidos e a síndrome de Guillain-Barré. Em seu comunicado desta quinta-feira, a OMS afirma que essa relação é muito provável, mas a organização admite que não há conclusão definitiva a esse respeito.

Notificação de casos. É preciso definir protocolos para que se detecte o vírus onde ele exista. Isso não é extremamente complicado, mas também não se trata de um processo simples. Requer uma análise, porque os sintomas não são específicos e poderiam corresponder a outras infecções.

Protocolos de atuação. É necessário unificar as formas de atuar e estabelecer pautas comuns a fim de evitar que se adotem medidas inúteis ou prejudiciais para conter o vírus. As medidas admitidas de forma unânime se concentram basicamente em acabar com o mosquito em determinados ambientes, fumigando e evitando que se formem depósitos de água onde ele possa colocar seus ovos.

Tratamentos. Não há, hoje em dia, uma vacina ou um tratamento específico para este vírus. Com exceção de uma vaga alusão feita nesta quarta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não houve pronunciamentos por parte de instituições ou pesquisadores sugerindo que estejam trabalhando em algo relativo a essa doença. Portanto, é preciso estabelecer uma relação de projetos em andamento, localizar aqueles que estejam mais avançados e definir a agenda de seus testes. No caso do ebola, por exemplo – embora este provoque uma enfermidade ainda mais grave --, decidiu-se que seria ético usar os tratamentos mesmo que nem todos os testes já tivessem sido feitos, pois não havia alternativas.

Viagens. Diante das declarações feitas por autoridades da saúde dos Estados Unidos e da Europa no sentido de se evitarem viagens para as regiões afetadas (sobretudo se a pessoa está ou pretende ficar grávida), a OMS deve estabelecer recomendações claras. A instituição também deverá insistir, provavelmente, em afirmar que é inútil fechar as fronteiras dos países afetados, já que o vetor de transmissão, o mosquito, não entende nada de fronteiras.

Jogos Olímpicos. Em agosto, serão realizados os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A OMS deverá definir quais precauções devem ser adotadas pelos participantes e espectadores.

Sistemas de saúde. Alguns dos países onde se encontra o zika possuem sistemas de saúde frágeis. É preciso avaliar se eles podem dar conta da expansão do vírus ou se necessitam de algum tipo de reforço.

Vigilância e acompanhamento. Será preciso definir quem se encarregará de fazer o acompanhamento da situação.

Comunicação. Uma vez criado o alerta, é importante definir uma política de comunicação que centralize as mensagens e estabeleça os limites do alerta.

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