_
_
_
_
_

Zika vírus faz El Salvador recomendar que mulheres evitem gravidez até 2018

O país registrou 1.561 casos de suspeita do vírus nas duas primeiras semanas de 2016

El Salvador registrou nas primeiras duas semanas de 2016 um total de 1.561 casos de suspeita do vírus zika. O Governo do país centro-americano recomendou às mulheres que planejaram ficar grávidas que não o façam, pelo menos até 2018. Esse anúncio gerou várias críticas de diferentes setores da sociedade salvadorenha. Apesar disso, a Organização Panamericana de Saúde avalia que o alerta do Governo faz parte de uma série de medidas necessárias para o combate ao vírus, cujo efeito nos fetos pode desde a microcefalia até outras lesões cerebrais

Funcionário do Ministério da Saúde de El Salvador fumega uma casa.
Funcionário do Ministério da Saúde de El Salvador fumega uma casa.EFE

A opinião pública de El Salvador está fortemente dividida desde que o Governo recomendou às mulheres do país que não engravidem até 2018. O vírus zika, que já se manifestou em 21 países da América Latina, entre eles o Brasil, é o responsável pela decisão do governo presidido por Salvador Sánchez Cerén. Entre novembro e dezembro de 2015, as autoridades de saúde pública do país registraram 3.836 casos de suspeita do zika. Mas nas duas primeiras semanas de 2016, já são 1.561 as pessoas que podem ter sido infectadas pelo vírus.

A recomendação às mulheres foi anunciada depois que o Ministério da Saúde (MINSAL) concluiu que há grandes possibilidades de que o vírus provoque outras doenças, como a microcefalia e até a morte dos bebês em gestação. Embora ainda não haja casos assim registrados em El Salvador, trata-se de uma possibilidade concreta, segundo as autoridades. O país não é o único: a Colômbia também fez o alerta às mulheres para que não engravidem pelo menos até o meio deste ano.

Mais informações
SP desrespeita regra e não reporta quase 200 bebês com microcefalia
Brasil colocará 220.000 soldados nas ruas contra o zika vírus
OMS afirma que o zika chegará a toda América, salvo Canadá e Chile
América Latina declara guerra a um mosquito

A proposta do Governo salvadorenho causou descontentamento em vários setores sociais, que consideram a medida “extremista” e pouco “consciente”. O vice-ministro de políticas para a saúde, Eduardo Spinoza, esclareceu que “não se trata de uma obrigação, mas de uma recomendação para que as mulheres, os casais, que estejam pensando em engravidar neste período pensem, se for possível, em adiar os planos. Os casais que acharem conveniente adiar a gravidez, que o façam”.

O risco de contrair o vírus durante a gravidez, segundo as pesquisas médicas, é a possibilidade de que o feto desenvolva microcefalia, uma afecção que não permite que o cérebro e a cabeça do bebê tenham um desenvolvimento integral. Algumas das consequências podem ser paralisia cerebral, ausência de audição e o risco de que uma convulsão possa causar a morte da criança. Carlos Garzón, da Organização Panamericana de Saúde (OPS), também afirmou recentemente que El Salvador foi bastante eficiente no que se refere a medidas preventivas e que a sugestão de não engravidar faz parte desse esforço. Em sentido contrário, a advogada especialista em questões de gênero da Fundação de Estudos para a Aplicação do Direito (FESPAD), Wendy Fernández, declarou que as autoridades de El Salvador não têm prerrogativas legais para fazer esse tipo de recomendação.

Apenas informar

Fernández afirmou que o dever do Ministério da Saúde é apenas o de informar sobre as consequências da doença, mas não sugerir quando engravidar ou não, principalmente “quando não se adotaram outras medidas que realmente solucionem o problema para as mulheres que já estão grávidas”. “Divulgaram a sugestão de não engravidar em um prazo de dois anos, mas não existem ações concretas que garantam a essas mulheres de que daqui a dois anos o vírus estará eliminado”, disse a advogada.

Outros setores avaliam como contraditória essa sugestão, em um país tão conservador como El Salvador, onde quase não existe educação sexual e que é um dos que registram os índices mais elevados de gravidez entre crianças e adolescentes.

A doença em outros países

Brasil: O mais recente boletim do Ministério da Saúde, com dados até o último 16 de janeiro, relata a existência de 3.893 casos suspeitos de microcefalia. O país, que enfrenta uma epidemia da doença, decidiu acionar inclusive as Forças Armadas para trabalhar na contenção dos focos de proliferação do Aedes aegypti. O ministro Marcelo Castro também causou polêmica ao declarar "sexo é para amadores, gravidez é para profissionais", em referência a uma recomendação, feita extraoficialmente, de que as mulheres não deveriam engravidar neste momento.

Colômbia: O Governo colombiano estima que em 2016 poderão nascer 500 bebês com microcefalia no país em decorrência do vírus zika e que uma quantidade semelhante de pessoas poderá contrair a síndrome de Guillain-Barré, segundo informou nesta segunda-feira o presidente do país, Juan Manuel Santos. O Instituto Nacional de Saúde (INS) registrou até 890 casos de mulheres, em todo o território, que estão grávidas e contagiadas pelo vírus, 50 das quais deram resultado positivo no laboratório de virologia do INS e as demais em laboratórios de outras clínicas.

Porto Rico: As autoridades sanitárias desse país confirmaram nesta segunda-feira que foram registrados 19 casos de zika na ilha desde meados de dezembro passado, e fizeram um chamado às mulheres grávidas para que adotem todas as precauções possíveis para evitar eventuais patologias em seus futuros filhos.

Guiana: As autoridades de saúde da Guiana Francesa anunciaram nesta segunda-feira a existência de 45 "casos confirmados em laboratório e que existem outros 160 sob suspeita, dentre os quais estão quatro mulheres grávidas".

Suíça: Duas pessoas que acabam de voltar para a Suíça procedentes de um país tropical tiveram resultado positivo em exames para o vírus zika, segundo confirmou nesta segunda-feira o Ministério da Saúde suíço.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_