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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Crescimento estável

As dúvidas sobre a formação do Governo frearão a recuperação

Christine Lagarde, diretora do FMI
Christine Lagarde, diretora do FMIOSSERVATORE ROMANO PRESS OFFICE (EFE)

A formação de uma maioria de Governo é um fator básico de estabilização do crescimento econômico na Espanha. Essa é a leitura nas entrelinhas do relatório de previsões econômicas do Fundo Monetário Internacional (FMI) difundido nesta terça-feira, no qual se corrigem para cima as previsões espanholas de crescimento: especificamente dois décimos para 2016 (do 2,5% anunciado em outubro ao 2,7% estimado agora) e um décimo para 2017 (de 2,2% a 2,3). É uma preocupação explícita no Fórum de Davos, que começa hoje. A Espanha é a quarta economia europeia e tudo o que possa influir em sua evolução, para o bem ou para o mal, é relevante para os investidores internacionais.

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A correção otimista do FMI indica que reconhece uma elevada capacidade de crescimento da Espanha pelo menos durante os próximos dois anos. Em parte, porque ainda não se alcançaram os níveis de investimento e consumo anteriores à crise; em parte, porque o FMI considera que o desabamento do preço do petróleo beneficiará o consumo; e em parte porque o crescimento espanhol, superior à média europeia, se fundamente em uma queda das rendas salariais que se manterá pelo menos até 2018. O Fundo pode errar por décimos nos prognósticos específicos, mas não costuma enganar-se nas tendências.

Mas o fator que o organismo internacional não pode avaliar é político. Um Governo estável é a primeira condição para prolongar períodos de crescimento. As instituições internacionais e os fóruns de investimento continuam atentos às negociações para formar o Governo desde as eleições de 20 de dezembro. Num prazo bem curto, as expectativas de investimento direto e de confiança na dívida não serão afetadas pela espera, mas, passado um período prudente, se ficar evidente a impossibilidade de um acordo que permita a investidura de um candidato sólido, com um programa viável, o desacordo passaria uma fatura que não seria barata. É improvável que esse custo se manifeste em um encarecimento drástico da dívida. O BCE tem feito a lição de casa. Mas o investimento direto e o emprego sofreriam e, portanto, haveria consequências sobre o crescimento.

O pior cenário para efeitos econômicos é a repetição das eleições. Retardaria a formação de um novo Governo ao menos até o terceiro trimestre do ano. Em consequência, a Espanha não poderia enfrentar a tensão independentista na Catalunha (outro dano colateral para a qualidade da economia) nem negociar os ajustes orçamentários e um novo plano de estabilidade. Nesse caso, os cortes adicionais de gasto para 2016 teriam que ser aplicados em poucos meses. A estabilidade orçamentária necessita com certa urgência de um novo calendário de ajuste do déficit que proporcione margem à ação pública em investimento e estabilizadores sociais.

É improvável que as expectativas de crescimento para este ano e o próximo sejam conseguidas à margem da estabilidade política. Essa é a razão econômica para evitar novas eleições. Quanto antes se formar um Governo, antes poderão ser dissipadas as dúvidas que pairam sobre o crescimento.

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