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A FIFA e a inocência perdida

A corrupção, que atinge níveis indecentes, veio à tona no órgão que dirige o futebol mundial

Um comediante britânico lançou em julho bilhetes sobre Sepp Blatte, presidente da FIFA para protestar pela corrução na entidade.
Um comediante britânico lançou em julho bilhetes sobre Sepp Blatte, presidente da FIFA para protestar pela corrução na entidade.Ennio Leanza/Keystone via AP, File

Foi o ano em que os fãs de futebol perderam a inocência. Tão infantis e tão desejosos em acreditar no Papai Noel ou nos Reis Magos, ao longo de 2015 eles foram obrigados a reconhecer o que, no fundo, muitos suspeitavam: que as pessoas que administram o passatempo favorito da humanidade são –como também dizem de alguns políticos espanhóis– indecentes, miseráveis e vis. Os três adjetivos são especialmente apropriados para descrever os mandachuvas da FIFA, o órgão que dirige o futebol mundial, porque os crimes e abusos que cometeram se enquadram na categoria moral de um valentão que rouba uma bala de uma criança. As centenas de milhões de euros roubados pelos executivos da FIFA que foram indiciados vieram dos bolsos de milhões de pessoas que encontram no futebol a principal diversão da vida. Fãs que, no fim das contas, pagam pelos caríssimos direitos de televisão e pelos produtos vendidos pelas empresas patrocinadoras da FIFA. É daqui, desse descomunal tesouro, que os corruptos da FIFA extraíram ao longo de décadas seus ilícitos ganhos. Tudo começou em maio, quando o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pediu a prisão de sete altos cargos da FIFA. A promotora-geral dos EUA disse que essa era apenas a ponta do iceberg e era mesmo. A justiça suíça se juntou à investigação, assim como a comissão de ética da FIFA, pois por vergonha não tinha outra opção. Hoje, são mais de 40 acusados, multados ou suspensos, entre eles o presidente da FIFA, Sepp Blatter, e aquele que se supunha ser seu sucessor, o francês Michel Platini, ambos sancionados em dezembro com de oito anos de exílio de toda atividade relacionada com o futebol. Nem Blatter nem Platini explicaram como o primeiro deu ao segundo quase dois milhões de euros em 2011, sem nenhum contrato. As histórias do resto dos supostos delinquentes nos abriram os olhos para um sistema mafioso de subornos, lavagem de dinheiro e roubo. Blatter insiste que durante os 17 anos que esteve à frente da FIFA e os 18 que passou como secretário-geral, não soube de nada –o que parece levar a apenas duas conclusões: ou Blatter está mentindo ou é um imbecil. Mas o consenso não é absoluto. Blatter tem um aliado: Vladimir Putin. O presidente russo, grato pela decisão da FIFA de dar a Copa do Mundo de 2018 ao seu país, disse uma semana antes do Natal que Blatter merecia o prêmio Nobel da Paz. Um absurdo, diriam muitos, mas teve seu lado bom. Putin nos deixou a única leitura remotamente positiva que se pode extrair da sórdida história da FIFA: existe honra entre ladrões.

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