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Anonymous ameaça adolescente que humilhou indigente no México

Um jovem de 17 anos, que havia maltratado um indigente, entrega-se à polícia depois de ser ameaçado por ciberativistas

David Marcial Pérez
Imagem do vídeo publicado pelo Anonymous.
Imagem do vídeo publicado pelo Anonymous.
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Um adolescente mexicano humilhou e maltratou na semana passada um indigente em Tijuana, no norte do México, enquanto outro amigo gravava tudo com uma câmera. No vídeo, o jovem empunha um objeto pontiagudo em forma de pistola com o qual ameaça a vítima. Entre insultos e provocações, o indigente é forçado a se despir. O jovem apaga um cigarro no torso nu do indigente, que está de joelhos e com as mãos na cabeça, e o obriga a repetir diante da câmera: “Uma saudação ao meu amigo Adal Mundo".

Adal Mundo Rodríguez, de 17 anos, postou o vídeo nas redes sociais, provocando fortes críticas. A reação contra os insultos chegou até o grupo Anonymous, que decidiu iniciar outra de suas cruzadas digitais. Na segunda-feira, os ciberativistas lançaram uma mensagem através de um vídeo postado em seu canal do YouTube no México. Com uma imagem parada, a figura de um homem com uma máscara do protagonista de V de Vingança, os quadrinhos de Alan Moore, alertava com voz robótica que o grupo havia localizado os agressores e que, se em dois dias não se entregassem à polícia e pedissem perdão à vítima, eles mesmos se encarregariam de fazer justiça: "Faremos com que paguem por seus atos, não permitiremos seu arrependimento, e a dor que causaremos será difícil de curar". No dia seguinte, Rodríguez compareceu com a mãe na Subprocuradoria de Justiça de Tijuana.

As autoridades mexicanas informaram na terça-feira em um comunicado que foi aberta uma investigação sobre a prática de crime de lesões e que, por ser menor de idade, o caso foi encaminhado para o Ministério Público Especializado em Menores.

Autoridades mexicanas abriram uma investigação sobre a prática de crime de lesões

Anonymous, que ganhou popularidade em 2010 devido aos documentos de Estado vazados, conhecidos como Wikileaks, salientou em seu vídeo que havia decidido tomar medidas sobre o assunto porque "o racismo, a humilhação, a tortura e discriminação são crimes que devem ser punidos". "Não temos medo de suas intimidações, muito menos de pessoas ignorantes que fingem ser membros de grupos criminosos. Pensam que ostentar uma arma de fogo é sinônimo de poder, o mesmo poder que vamos mostrar a eles", acrescentaram.

O comportamento do menor é semelhante às práticas de grupos do crime organizado envolvidos no tráfico de drogas no México. Seus métodos sádicos e imagem de bandidos poderosos à margem da lei têm permeado o imaginário popular de um país com índices insuportáveis de impunidade. O fascínio por esse tipo de criminosos nos últimos anos tem chamado a atenção para o fenômeno conhecido como narcocultura.

Ao chegar à sede da promotoria de Tijuana, os repórteres perguntaram a Rodríguez por que havia se comportado daquela maneira:

— "Por uma simples brincadeira, para estar com os amigos... por acreditar ser a coisa mais importante."

O jovem, com a expressão séria, reiterou que se arrependia de ter feito aquilo. A mãe, Carmen Rodríguez, informou que, desde a mensagem do Anonymous, que também apontava o pai e o irmão como responsáveis, sua família tinha sofrido uma forte onda de ameaças e insultos, tanto por meio de redes sociais quanto por telefone, supostamente hackeados pelo grupo de ativistas da Internet.

As ações de crueldade e desprezo contra pessoas pobres que vivem nas ruas não são raras no México. Em junho, um grupo de seis pessoas que saíam de uma boate em Ensenada, no nordeste do país, decidiu tirar uma foto onde um deles segurava uma corda presa ao pescoço de um indigente sem camisa. Um deles é professor universitário e outro, funcionário público. Esta semana, dois empregados de uma loja de departamentos em Tepic, no oeste do país, enxotaram duas pessoas que estavam sentadas na entrada do estabelecimento.

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