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Mauricio Macri pede liberdade aos presos políticos da Venezuela

O presidente argentino reprova na cúpula do Mercosul "a privação ilegítima da liberdade por se pensar diferente"

Evo Morales e Mauricio Macri, na cúpula.
Evo Morales e Mauricio Macri, na cúpula.JORGE ADORNO (REUTERS)

Venezuela e Uruguai aproveitaram a cúpula do Mercosul, realizada em Assunção, para prestar o seu apoio a presidenta Dilma Rousseff, que tenta evitar que o pedido de impeachment contra ela tenha continuidade. A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, que foi representar o presidente Nicolás Maduro no encontro de presidentes, criticou "todo o assédio" contra a mandatária brasileira e mandou "saudações carinhosas" de Maduro. Minutos depois, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, também defendeu Dilma em seu discurso e afirmou que a brasileira governa com "integridade". "Estamos com você companheira", afirmou Vázquez nesta segunda.

Já o presidente da Argentina, Mauricio Macri, estreou na Cúpula do Mercosul fazendo uma forte crítica à situação dos direitos humanos na Venezuela. Durante a reunião, ele pediu “ a liberação imediata dos presos políticos” do país caribenho. “Não pode haver lugar a perseguição ideológica e a privação ilegítima por pensar diferente”, disse o político liberal argentino. O Governo de Maduro afirma que os casos de Leopoldo López, Antonio Ledezma e outros 70 não são “presos políticos” e sim “políticos presos”.

Macri pediu que os países do Mercosul se controlem mutuamente nos seus compromissos para reduzir a pobreza, combater o narcotráfico e respeitar as instituições, a qualidade democrática e os direitos humanos. O presidente argentino, que no último dia 10 assumiu o poder depois de 12 anos de kirchnerismo, elogiou o fato de o Governo de Maduro reconhecer a vitória opositora nas últimas eleições legislativas na Venezuela, no entanto, pediu que se consolide uma “cultura democrática” na Venezuela.

Diante da ausência de Maduro, foi a ministra Rodríguez quem respondeu os questionamentos de Macri. “ Tenho que responder ao senhor, presidente Macri, o senhor está fazendo uma intromissão. Você está defendendo esta pessoa (López),  este tipo de manifestação, esta violência política, com bazucas usadas nessas manifestações, segundo esta foto da agência France Presse”, disse Rodríguez, exibindo uma foto dos protestos pelos quais López foi condenado. “Foram os protestos pacíficos de 2014. Incendiaram o Ministério Público, os serviços públicos essenciais. Tivemos de esvaziar uma instituição de ensino para crianças de três a cinco anos, incendiaram caminhões de lixo, de comida, 19 universidades foram incendiadas. Há instituições na Venezuela. O direito à não ingerência precisa ser respeitado. Diante dessa situação, o Poder Judiciário agiu”, continuou a ministra. 

“Entendo que o presidente Macri esteja a favor de libertar esses violentos”, disse Rodríguez. Ela o acusou de soltar criminosos da última ditadura militar (1976-1983), algo que não aconteceu. Depois manifestou “surpresa” porque a Justiça imputou na semana passada a líder das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, “por pedir manifestações pacíficas contra o governo dele”. É verdade que um promotor acusou Bonafini de “incitação à violência”. Na realidade, a mãe da Praça de Maio disse: “Agora que o inimigo voltou (ao poder) façamos uma marcha para que quando venha à Casa do Governo nos encontre, o povo, repudiando sua presença”.

Argentina e Paraguai queriam instar os países do Mercosul a assinar o Protocolo de Assunção, pelo qual os integrantes do bloco se comprometeram em 2005 à proteção dos direitos humanos. Dos cinco membros do Mercosul, somente a Venezuela não o endossou ainda porque se incorporou ao bloco em 2012. O Brasil não estava totalmente convencido em um primeiro momento, mas finalmente aceitou a menção do tratado na declaração final assinada nesta segunda. Segundo o documento final da cúpula, os países que ainda não assinaram esse protocolo de proteção dos direitos humanos devem fazê-lo o mais rápido possível.

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A presidenta  Dilma Rousseff falou depois de Macri, mas não comentou suas declarações sobre a Venezuela. “Felicito o presidente Maduro pelo espírito democrático que marcou as eleições em seu país”, elogiou Dilma, revelando pouca disposição de aderir ao coro do presidente argentino. Em seu discurso, a presidenta nivelou as eleições presidenciais na Argentina e as parlamentares na Venezuela. “Dois exemplos recentes mostram a nossa maturidade democrática: as eleições na Argentina e na Venezuela demonstraram a capacidade da América Latina de encaminhar suas divergências pelas vias pacíficas do debate e da legalidade, com pleno respeito à vontade popular e ao estado de direito.”

Reorganização das contas

Em seu discurso na reunião de chefes de Estado, horas antes do novo ministro de economia Nelson Barbosa tomar posse do cargo, a presidenta se mostrou otimista quanto ao futuro econômico do Brasil. Segundo ela, a reorganização das contas públicas “logo” trará resultados positivos para o país juntamente com o fim da crise política.

A presidenta também defendeu o combate à inflação e a consolidação da estabilidade macroeconômica para que o país volte a crescer. Dilma ressaltou que o Governo desenvolve um novo ciclo marcado por um maior estímulo às exportações e um forte investimento em infraestrutura e energia. “O aumento da produtividade favorecerá os investimentos e ajudará na maior geração de empregos", afirmou.

Dilma afirmou ainda que a recessão que atravessa o país é consequência da recuperação da crise mundial e, principalmente, da acentuada queda dos preços das commodities. No entanto, a presidenta ressaltou que a economia ainda tem fundamentos sólidos e o país possui elevadas reservas internacionais.

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