_
_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Outra campanha

Apesar do surgimento de novas forças, só se exacerbaram velhos defeitos

Mais informações
Premiê espanhol leva soco durante ato de campanha na Galícia
Reforma trabalhista e corrupção no debate entre candidatos espanhóis

Terminou uma campanha que se anunciava apaixonante e cujo interesse, na hora da verdade, foi reduzido aos lampejos proporcionados pelos debates entre os candidatos a La Moncloa. Desde o início dominaram proposições pouco arriscadas, impróprias de forças que aspiram a ganhar uma eleição geral. Os partidos tradicionais tentaram não perder terreno e os emergentes, sem herança a defender, criaram uma dinâmica contra as opções de sempre que não foi acompanhada por verdadeiras demonstrações de nova política.

A prova da aversão ao risco é que os principais candidatos tiveram interesse em banalizar a campanha. A maior ousadia que se permitiram foi participar de espetáculos de entretenimento na televisão, seja para humanizar um político distante (caso de Mariano Rajoy), para desdiabolizar sua imagem (Pablo Iglesias) e para atingir públicos maiores que não os conheciam suficientemente (Pedro Sánchez e Albert Rivera).

Nenhum dos operadores políticos priorizou propostas ou programas. Os emergentes (Cidadãos e Podemos) são os que mais jogaram a carta das mudanças na política econômica e social, em direções divergentes, à qual Iglesias acrescentou a proposta de um referendo na Catalunha. O PP se concentrou quase exclusivamente em transmitir uma imagem de proximidade de Mariano Rajoy com as pessoas, daí suas constantes caminhadas por ruas, praças e mercados populares, uma delas comprometida pela agressão traiçoeira — completamente isolada — que sofreu numa rua de Pontevedra.

Nesse contexto, apenas a combatividade apresentada por Sánchez em seu cara a cara com Rajoy provocou a inflexão de uma campanha que transcorria com excessiva contenção. Nesse debate foi levantada, entre outras questões, a responsabilidade pela corrupção, que equivale a dizer a limpeza na competição política. Outros assuntos sérios — o conflito provocado pelo independentismo catalão, a reforma constitucional, o papel da Espanha no mundo, o futuro das aposentadorias — surgiram de forma desproporcionalmente discreta em relação à importância que era previamente dada a eles.

O fator chave para a compreensão dessas abordagens é a consolidação de um personalismo muito forte nos partidos. Não é novidade que os líderes partidários desempenhem papéis fundamentais nas eleições, mas não no nível atingido nessa campanha, em que tudo girou em torno de quatro pessoas. Mal se conhece a equipe que cada candidato tem, quais nomes cogita como responsáveis pelas principais áreas de governo ou quais são suas verdadeiras prioridades. E isso não acontece apenas com as marcas políticas enfraquecidas pelo peso do passado, mas o fenômeno se reproduz nas novas opções.

Os resultados da extrema personalização são gratificantes para o beneficiário que vencer, mas essas operações também podem ser sancionadas com a derrota. Faltam poucas horas para medir até que ponto os partidos acertaram.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_