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“Ganhamos! Queremos paz e reconciliação”, diz Lilian Tintori

Oposição venezuelana comemora vitória e manda mensagem conciliadora ao chavismo

Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López, celebra a vitória.
Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López, celebra a vitória.J. BARRETO (AFP)

Foi um sofrimento para a oposição venezuelana esperar o primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral anunciando a sua esmagadora vitória nas eleições legislativas deste domingo na Venezuela. Seus integrantes mais visíveis procuravam todas as formas possíveis de comunicar que haviam obtido pelo menos três quintos do novo Parlamento, e quase duas horas depois do fechamento oficial das urnas o coordenador político do partido Vontade Popular, ao qual é ligado o líder oposicionista Leopoldo López, pedia às autoridades eleitorais que “revelem imediatamente os resultados”. “Conseguimos”, escreveu afinal.

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A longa espera fez com que quase todos começassem a revelar os números provisórios que tinham em mãos. No começo da noite, os cálculos mais otimistas para a oposição sugeriam que a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) obteria a maioria simples. Mas, à medida que a apuração avançava e os anúncios oficiais iam sendo adiados, as redes sociais passaram a especular que os adversários do chavismo haviam obtido um prêmio inesperado, após 17 anos de tentativas.

Os resultados divulgados na madrugada de segunda-feira, ainda faltando a confirmação de 22 vagas parlamentares, são também uma vitória íntima para uma ala da oposição que sempre defendeu a tomada do poder pelas urnas, rejeitando qualquer saída antecipada e violenta para a longa crise venezuelana. A caótica situação do país, campeão mundial de inflação, e a recusa do chavismo em alterar os rumos do seu projeto levaram um grupo de opositores a tentar provocar a substituição imediata do regime, atiçando protestos nas ruas. Julio Borges, coordenador nacional do partido Primeiro Justiça, recordou isso pelo Twitter, minutos depois do primeiro boletim oficial. “O caminho mais longo acaba sendo o mais curto. A força do voto hoje derrotou democraticamente um Governo antidemocrático.”

A cúpula da campanha oposicionista explodiu de alegria com o anúncio do resultado oficial. Antes das primeiras palavras do secretário-geral da Mesa da Unidade, Jesús Torrealba, seus dirigentes cantaram o hino nacional a plenos pulmões. No palanque o acompanhavam, além de Borges e de outros dirigentes do Primeiro Justiça, a cúpula do Vontade Popular, incluindo a esposa de Leopoldo López, Lilian Tintori, e a deputada cassada María Corina Machado. “Glória ao bravo povo”, escreveu Machado no Twitter, quando já era pública e notória a histórica derrota sofrida pela coalizão chavista Grande Polo Patriótico. Tintori, por sua vez, exclamou: “Ganhamos! Queremos paz e reconciliação”.

“Glória ao bravo povo”, tuitou a ex-deputada María Corina Machado, quando já estava clara a histórica surra sofrida pelo chavismo

Torrealba começou seu discurso com uma variação da reflexão de Borges: “O voto conseguiu vencer democraticamente um Governo que não é democrático”. O secretário-executivo da MUD também enviou uma mensagem conciliadora aos venezuelanos que apoiam o Governo, convidando-os a “trabalhar pela mudança”. “Todos nós cabemos neste projeto. Este é um dia para celebrar, mas também para refletir. A Venezuela ofereceu uma notícia histórica. É um chamado a endireitar o rumo da nossa pátria, a construir um futuro como nação para os nossos filhos”, afirmou Torrealba.

Na mensagem inflamada e comovida do dirigente oposicionista também coube uma advertência: “A unidade saberá administrar a vitória. Não vai atropelar ninguém, e a maioria no Parlamento não significará acabar com as conquistas sociais”. O secretário da MUD se referia à propaganda eleitoral concebida pelos estrategistas chavistas durante a campanha eleitoral, que, em vários anúncios de TV, alertavam que uma maioria parlamentar da oposição representaria o fim das chamadas missões, os programas sociais que reforçaram a identificação dos venezuelanos mais humildes com o projeto do falecido Hugo Chávez.

Torrealba reiterou que a nova maioria trabalhará para aprovar uma lei de anistia a políticos perseguidos ou presos depois dos protestos populares de 2014. “Começa um novo ciclo na vida”, afirmou, sem entrar em detalhes.

Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda e duas vezes derrotado pelo chavismo em eleições presidenciais, também comemorou o resultado, que viu como uma comprovação da sua leitura sobre a crise. “Ganhamos, Venezuela! Sempre dissemos isso. Este era o caminho!”. Assim terminou o dia que a oposição passou 17 anos esperando.

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