_
_
_
_
_

Alckmin adia plano de fechar escolas, mas estudantes mantêm ocupações

Recuo de governador após semana de repressão foi considerado insuficiente por alunos

Estudantes comemoram a notícia nesta sexta.
Estudantes comemoram a notícia nesta sexta.C. Villalba R (EFE)

Por anos se repetiu que o tucano Geraldo Alckmin é feito de teflon: em anos à frente do Estado de São Paulo, nenhuma crise, nem mesmo a falta de água, havia sido capaz de avariar seriamente sua imagem. A máxima foi abalada nesta sexta-feira. Alckmin despertou com a notícia da queda recorde de sua popularidade medida pelo Datafolha. Um dos detonadores do revés, segundo a pesquisa, estava na televisão naquele momento: por mais de uma hora, e ao vivo, estudantes, contrários a seu plano de reorganização escolar e fechamento de colégios, eram alvejados mais uma vez por bombas de gás lacrimogêneo por policiais militares. O tucano acusou o golpe. No final da manhã, veio a público num discurso relâmpago para anunciar o adiamento da reorganização escolar, que já seria implementada no ano que vem.

"Recebi e respeito a mensagem dos estudantes e seus familiares com as suas dúvidas e preocupações em relação a reorganização das escolas aqui no nosso Estado de São Paulo. Por isso, a nossa decisão de adiar a reorganização e rediscuti-la, escola por escola, com a comunidade, com os estudantes, em especial com os pais dos alunos", afirmou o governador.

O anúncio de Alckmin no Palácio dos Bandeirantes durou menos de cinco minutos. Logo depois, ele deixou a sala, sem responder perguntas dos jornalistas. O secretário da Educação, Herman Voorwald, não estava na sala. Pouco depois, foi confirmada a sua saída da Secretaria. O Palácio, porém, não confirmou ainda quem será o novo secretário.

O recuo encerra uma semana que começou com o vazamento de um áudio, publicado pelo coletivo Jornalistas Livres, em que o chefe de gabinete da secretaria da Educação, Fernando Padula, afirmava a dirigentes de ensino que o Governo estava pronto para a "guerra" com os estudantes contrários ao projeto, que já estava sendo implantado e mudaria de escola mais de 300.000 alunos, além de fechar 92 unidades. Foi o estopim para que os alunos, após um quase um mês de ocupações em quase 200 escolas, mudassem a tática de mobilização e passassem também a ir para as ruas, travando o trânsito de importantes vias da cidade de São Paulo. A semana se transformou em uma chuva de bombas de efeito moral usadas pela PM para dispersar as manifestações. A repressão policial nas ruas rendeu imagens de alunos, alguns deles menores de idade, algemados e machucados. Ao menos 30 pessoas foram detidas ao longo dos últimos dias.

Para os estudantes, porém, o movimento de Alckmin foi insuficiente. Um coletivo de estudantes que representa as ocupações anunciou, já na noite da sexta, que a mobilização e as ocupações das escolas seguem.  Os pinguins paulistanos, em alusão à revolução dos secundaristas chilenos que os inspiraram, exigem a revogação do decreto que oficializou a transferência de alunos e funcionários de unidades escolares a partir do ano que vem. Eles dizem que não aceitam apenas o adiamento: querem o cancelamento da reorganização escolar. Mais protestos estão agendados para o fim de semana, quando haverá também uma Virada das Ocupações, com shows de artistas como Paulo Miklos, Maria Gadú e Criollo, acontecerão pelas escolas ocupadas.

Mais informações
Estudantes protestam contra a reorganização escolar em São Paulo
Governo Alckmin se prepara para “guerra” e alunos vão para as ruas
Ocupação de 182 escolas em SP vira teste de resistência de Alckmin
A vida em uma escola ocupada que resiste a fechar as portas em São Paulo
Defensoria e Promotoria pedem a suspensão da reorganização escolar

A decisão do Governador tampouco barra ação movida pelo Ministério Público e a Defensoria Pública que pede a suspensão do plano. Um dos pedidos dos promotores era de que o Governo deveria apresentar uma agenda de discussão sobre o tema para o ano que vem. João Paulo Faustinoni, um dos promotores, afirma que, mesmo com o anúncio do Governo, a ação continuará tramitando na Justiça. "A ação continua porque o pedido é mais amplo e inclui uma agenda de discussão ao longo de todo o ano que vem", diz. "Agora vamos verificar se os alunos que já haviam sido transferidos para as outras escolas serão rematriculados em suas escolas de origem."

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_