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Macri e Cristina Kirchner brigam até pela faixa presidencial

Guerra de nervos nos dias que antecedem à posse do presidente Ainda não há acordo para definir onde e como será feita a entrega simbólica do poder

Carlos E. Cué
A presidenta argentina no último dia 25.
A presidenta argentina no último dia 25.EITAN ABRAMOVICH (AFP)

Os argentinos já sabiam que o kirchnerismo não ia entregar o poder com facilidade depois de 12 anos de controle absoluto. Mas a tensão vivida nestes dias na Argentina com os preparativos para a sucessão em 10 de dezembro está superando as expectativas. Depois de uma primeira reunião fracassada entre o presidente eleito, Mauricio Macri, e a atual, Cristina Fernández de Kirchner, agora suas equipes não entram em acordo em quase nada. Nem sequer conseguem definir onde e como será a cerimônia da foto que todos esperam: a entrega da faixa presidencial de um mandatário a outro. Algo que na maioria dos países está perfeitamente pautado, na Argentina está em discussão até a ponto de o número dois do Governo e porta-voz, Aníbal Fernández, ironizar em sua habitual entrevista à imprensa: "Não se pode fazer como querem, não se pode levar a faixa presidencial ao Barrio Parque (o luxuoso bairro em que Macri vive) e entregá-la na casa do presidente eleito".

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Parece uma questão menor, mas não é. A entrega simbólica do poder é o momento televisivo por excelência e a imagem ficará durante anos na memória de todos os argentinos. O que está sendo discutido é como será esse momento, como Macri iniciará seu mandato e se encerrarão os 14 anos de domínio do peronismo.

O kirchnerismo e o peronismo em geral estão em plena batalha interna para recompor seu grupo e começar a trabalhar para recuperar o poder que não esperavam perder. Macri, segundo a contagem definitiva, venceu por apenas 678.774 votos, ou 2,68% dos eleitores. Um suspiro. E o peronismo já pensa em enfraquecê-lo desde o primeiro dia. Tanto que está sendo organizado um grande ato em homenagem a Cristina Fernández de Kirchner e de rejeição a Macri no mesmo dia da posse na praça do Congresso. Alguns até temem que se os kirchneristas que defendem Cristina se cruzarem com os macristas que festejam a chegada do novo presidente pode haver tensão nas ruas.

Nesse contexto, que muitos dirigentes de ambos os lados tentam suavizar, é crucial o local onde e como se dará o momento-chave, a foto histórica, a entrega dos dois símbolos de poder de Cristina a Macri. Este último quer recuperar uma tradição rompida pelos Kirchners, isto é, que a entrega seja feita na Casa Rosada, sede do Governo. O presidente daria assim seu discurso oficial no Congresso, como sempre se fazia, e depois percorreria as ruas num carro para receber na Casa Rosada a faixa presidencial e o cetro de comando, no mesmo lugar onde ela o recebeu do marido, Néstor, falecido em 2010, em uma imagem icônica para o kirchnerismo.

Macri quer evitar que essa entrega ocorra no Congresso porque o peronismo costuma encher as tribunas de militantes com enormes bandeiras e cânticos que transformam a Casa em um grande comício peronista. Isso, somado a milhares de pessoas na rua enaltecendo Cristina, não é a imagem ideal desejada por um presidente que derrotou o kirchnerismo nas urnas e quer transmitir ao mundo e aos mercados a imagem de que é um mandatário com força para tomar medidas difíceis. As negociações continuam, mas parece muito difícil alcançarem um acordo. Dirigentes tanto dos negociadores de Macri como dos de Cristina consultados consideram muito complicado chegar a um ponto em comum embora o que pareça confirmado é que ela entregará a faixa e haverá a foto simbólica. Em algum momento até se temeu que a presidenta pudesse dar uma desculpa para não participar do gesto mais claro de entrega do poder.

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