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Macri teme recessão e promete evitar um ajuste como o de Dilma

Futuro presidente argentino promete que reduzirá aos poucos os subsídios que ajudam manter baixas tarifas de luz e gás para evitar uma crise como a brasileira

O futuro presidente argentino Maurício Macri.
O futuro presidente argentino Maurício Macri.Ricardo Mazalan (AP)

O próximo presidente da Argentina, Mauricio Macri, que evitar que lhe aconteça o mesmo que aconteceu com sua homóloga do Brasil, Dilma Rousseff, que começou o seu segundo mandato com um ajuste fiscal e uma desvalorização da moeda que desembocaram em uma longa e profunda recessão econômica. Agora, ela se afunda nas pesquisas. Macri afirmou nesta segunda-feira, em entrevista com jornalistas argentinos, que reduzirá aos poucos os subsídios que ajudam a manter baixas as tarifas de eletricidade e gás, assim como os bilhetes de ônibus e trens em Buenos Aires. “Vou corrigi-las gradualmente. Minha tarefa é cuidar das pessoas. Vou preservar subsídios para aqueles que realmente precisam. Estou comprometido com um sistema de tarifas justo”, afirmou. O plano de Macri, segundo integrantes de sua equipe, é eliminar os subsídios para a classe média e alta e preservá-los apenas para os mais pobres. Hoje em dia, 93% dos usuários de Buenos Aires recebem o subsídio para eletricidade, sendo ricos ou pobres. A luz, na capital, custa cinco vezes menos do que em Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina, país em que 21% da população são pobres.

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Macri explicou os motivos para a adoção de um ajuste gradual em vez de abrupto, que é o que esperam alguns investidores como condição para voltar a apostar na terceira economia latino-americana: “Preciso agir gradualmente tentando acompanhar o processo e não provocando uma recessão. O que queremos evitar é que venhamos a cair novamente. O desafio, aqui, é fazer com que a Argentina deslanche e que voltemos, o quanto antes, a crescer”. Em entrevista ao EL PAÍS, o porta-voz para assuntos econômicos de Macri e tido como garantido no governo a ser formado, Rogelio Frigerio, destacou: “Se vocês me convencerem de que o caminho adotado pelo Brasil e pela Grécia é o certo, irei pensar. Eu acredito que não é”.

Macri revela ambiguidade ao ser questionado sobre a sua promessa de acabar com a trava (controle) cambial no dia seguinte ao de sua posse, com a consequente desvalorização do peso que isso acarretaria. “Acabará com a trava cambial no dia 11 de dezembro ou de uma maneira gradual?”, perguntou um jornalista do jornal Clarín. “Em 11 de dezembro”, respondeu Macri. No entanto, mais tarde, falando para o Canal 13, afirmou que as restrições para a compra de moedas serão eliminadas “quando a Argentina se reordenar e criar as condições para voltar a crescer e para que os investimentos retornem”.

Macri promete terminar com os piquetes nas ruas e com o  caso dos 'fundos abutres'

O problema, segundo o presidente eleito, é que não se sabe exatamente como estão os números, pois a Argentina não dispõe de dados confiáveis. O país tem um problema grave com os dólares e Macri insiste em dizer que “vão deixar o Banco Central pelado”. Mas, como costuma acontecer nesse país, parece existir uma solução criativa. Os plantadores de soja, o ouro verde que tirou a Argentina de sua última crise, possuem 10,8 bilhões de dólares em grãos guardados à espera de uma desvalorização, segundo dados oficiais. Se Macri lhes concedesse uma moratória de três meses, por exemplo, durante os quais poderiam vender essa soja sem a retenção de 35%, conseguiria obter rapidamente pelo menos 8 bilhões de dólares --uma saída emergencial. Como se vê, a Argentina sempre acaba encontrando alguma saída original para os seus problemas.

O futuro presidente prometeu que acabará com o caso dos “fundos abutres” e outros credores que rechaçaram a reestruturação da dívida argentina em 2005 e 2010. Os “abutres” obtiveram uma vitória na Justiça dos Estados Unidos contra a Argentina e, desde então, bloquearam o pagamento do passivo refinanciado. “A Argentina precisa ser um país reconhecido unanimemente como cumpridor de seus deveres, previsível e confiável. Este é um assunto pendente que o Governo administrou, infelizmente, muito mal. E agora é preciso concluí-lo”, declarou Macri ao jornal La Nación.

O líder liberal, que chegou ao poder com um partido novo, Proposta Republicana (PRO), em coligação com a histórica União Cívica Radical (UCR, de centro), anunciou que irá propor ao Congresso, cuja maioria é peronista, a aprovação de uma reforma eleitoral que evite que os governadores de províncias e os prefeitos possam se reeleger de modo ilimitado e para instituir o voto eletrônico, com o qual pretende garantir maior transparência nos pleitos. Macri, que está em minoria, não planeja recorrer, no início de seu mandato, ao Poder Legislativo, mas sim governar com decretos que se imponham pela necessidade e urgência. “Sim, claro. Haverá uma transição no sentido daquilo que todos almejamos. No curto prazo, (o decreto) é um instrumento”.

O futuro chefe de Estado prometeu acabar com os piquetes que são montados pelos trabalhadores em greve e outros manifestantes para protestar durante os conflitos sociais desde antes mesmo da eclosão da crise argentina em 2001. “Acredito no diálogo. Aqueles que acham que irão usar os piquetes como forma de extorsão vão se dar mal, pois vamos agir com base na lei”. Ele comentou, ainda, outra questão que causa grande preocupação entre a população, que é a da segurança, em um país que é onde mais se rouba na América Latina, ao mesmo tempo em que registra um dos menores índices de homicídios. “É preciso assumir o controle dos bairros mais perigosos, para emitir um sinal de que isso irá acabar”. Macri tem em mente muitas mudanças a serem feitas. No dia 10 de dezembro, começará a aplica-las.

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