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Ataques jihadistas

Mali anuncia o fim de ataque a hotel, com a morte de 27 reféns

Grupo jihadista invadiu o estabelecimento e manteve cerca de 170 pessoas reféns

Tropas malieneses toman posiciones fuera del hotel asaltado en Bamako.Vídeo: EL PAÍS VÍDEO / AFP
José Naranjo

Pelo menos 27 pessoas morreram nesta sexta-feira em Bamaco, capital do Mali, no ataque perpetrado por um grupo de homens armados ao hotel Radissou Blu, segundo a missão das Nações Unidas no país. O Governo só informa a morte de 17 reféns e dois terroristas abatidos. Vários agressores irromperam esta manhã no estabelecimento e mantiveram retidas durante várias horas cerca de 170 pessoas – 140 clientes e 30 trabalhadores. O Ministério do Interior do Mali anunciou que já não há reféns no hotel.

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Um grupo jihadista afiliado à Al Qaeda, Al-Mourabioun, assumiu a autoria do ataque, informa a Reuters. O grupo está assentado no norte do Mali e é formado basicamente por tuaregues e árabes. Anunciaram seu envolvimento no ataque em uma mensagem publicada no Twitter. A mensagem ainda não foi checada.

O ataque começou à primeira hora da manhã, quando pelo menos duas pessoas, que chegaram à área de segurança do estabelecimento em um veículo com placa diplomática, abriram fogo contra dois vigilantes que se encontravam ao lado da porta. As pessoas soltas estavam sendo concentradas em um pavilhão esportivo situado no mesmo bairro, ACI 2000, a uns 500 metros do hotel. “Vi chegarem cidadãos alemães, franceses, chineses, indianos, e de outras nacionalidades”, garantia Bacary Diouara, que se achava a poucos metros do pavilhão citado. Enquanto isso, o assalto ao interior do hotel por parte das forças especiais malinesas estava em andamento. “Estão retomando o controle da situação andar por andar”, afirmaram fontes do Governo.

Entre as vítimas do ataque está um funcionário do Governo belga, segundo informa o Parlamento da Bélgica em sua conta no Twitter.

O ataque ocorreu um dia depois de o presidente do Governo espanhol (primeiro-ministro), Mariano Rajoy, se mostrar disposto a que a Espanha substitua o comando agora em mãos das tropas francesas em várias frentes na África, especificamente na zona do Sahel. A pasta da Defesa já está trabalhando em um plano para enviar mais tropas para distintos países africanos, embora a prioridade das missões passará a ser o reforço da presença no Mali e na República Centro-Africana, assim como o apoio que se dá a essas duas missões a partir do Senegal. A Espanha tem no momento deslocados no Mali 110 militares, dos quais uma centena está em Kulikoro e 10, em Bamaco. Nenhum deles se encontrava no hotel atacado, segundo o Ministério da Defesa.

Rajoy ainda não recebeu o pedido expresso do presidente francês, François Hollande, nem o comunicou aos líderes dos demais partidos políticos. Um maior deslocamento de tropas espanholas permitirá ao Exército da França concentrar seus recursos na ofensiva na Síria, depois de o presidente francês declarar guerra ao Estado Islâmico, após os atentados de sexta-feira da semana passada em Paris, no qual 129 pessoas perderam a vida..

Os militantes em Bamaco gritaram “Deus é Grande!”, afirmaram à Reuters fontes do setor de segurança, que atribuíram o ataque a um grupo de jihadistas e indicaram que, antes do início da operação das forças malinesas, os agressores libertaram alguns reféns, entre os quais aqueles que fossem capazes de recitar versículos do Alcorão. A identidade dos atacantes é desconhecida. Pelo menos dois seguranças foram feridos, informa a Reuters.

Um famoso cantor guineano que estava entre os 170 reféns afirmou à agência Reuters que escutou os agressores conversarem em inglês no quarto ao lado do seu. “Eu os escutei dizerem ‘Você as carregou?’, ‘Vamos lá’”, afirmou Sékouba Bambino Diabaté, que foi libertado pelas forças de segurança malinesas. “Não pude vê-los porque essas situações são complicadas”, acrescentou.

A agência estatal Xinhua, da China, informou que entre os reféns havia pelo menos sete chineses. Entre as pessoas retidas no hotel estavam seis funcionários da companhia aérea turca e outras 20 procedentes da Índia, segundo disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano.

Uma fonte próxima ao presidente francês, François Hollande, afirmou que também havia cidadãos franceses entre os reféns. A empresa Air France informou que doze de seus funcionários, que estavam hospedados no hotel, já estão em um lugar seguro. As autoridades francesas pediram nesta manhã aos cidadãos do país que estão em Bamaco que não saíssem de casa, e fecharam tanto a escola como o liceu da França na capital do Mali, segundo a agência Efe.

Ministério das Relações Exteriores da Espanha confirma que havia um espanhol entre os 170 reféns e que se encontra em bom estado, segundo comprovado “pessoalmente”

Muitos moradores do bairro ACI 2000, que concentra as embaixadas, hotéis e prédios oficiais do Governo, dizem ter ouvido rajadas de tiros no interior do hotel, assim como pelo menos uma explosão. O Exército e a guarda civil, apoiados por soldados franceses da operação Barkhane e por efetivos da Missão das Nações Unidas (MINUSMA), foram deslocados até o local e criaram um perímetro de segurança em torno do hotel.

O hotel Radisson é muito utilizado por funcionários das companhias aéreas, turistas e diplomatas, mas também é o lugar onde estão hospedados nesses dias os líderes de vários grupos armados que operam no norte do país e que estão discutindo em Bamaco o andamento do acordo de paz assinado em junho. Algumas fontes afirmam que os disparos no interior do hotel procederam do sétimo andar. A propriedade conta com 190 quartos.

A cidade de Bamaco só tinha sofrido um ataque terrorista nos últimos anos, que aconteceu há oito meses no bar La Terrasse, em pleno centro, no qual morreram cinco pessoas. No entanto, as forças de segurança dizem ter desarticulado várias tentativas de ataque nos últimos meses, e por isso estavam em estado de alerta.

La policía asiste a un rehén, tras dejar el hotel.
La policía asiste a un rehén, tras dejar el hotel.Harouna Traore (AP)

Especificamente, o grupo terrorista que vinha se mostrando mais ativo nos últimos meses é a Frente de Libertação de Macina, uma seita jihadista liderada por um pregador radical da área de Mopti, que realizou o ataque com tomada de reféns em um hotel de Sévaré, no centro do país, em agosto, e que tem protagonizado ataques perto da fronteira entre Mali e Burkina Faso nos últimos meses.

O ministro espanhol de Relações Exteriores, José Manuel Garcia-Margallo, confirmou após o fim do incidente que não há vítimas espanholas. A Embaixada da Espanha no Mali disse pela manhã que não havia registro de espanhóis afetados pelo ataque ao hotel Radisson da capital do país, Bamaco, em que homens armados sequestraram várias pessoas. Posteriormente, de acordo com a Efe, o Ministério das Relações Exteriores informou que havia um cidadão espanhol entre os 170 reféns e que está em boas condições, segundo puderam comprovar “pessoalmente” funcionários dos serviços diplomáticos.

Fontes do Ministério das Relações Exteriores dizem que a Embaixada espanhola no Mali está em contato com as autoridades locais para monitorar a situação. A Embaixada recomendou em uma mensagem publicada em sua conta no Twitter que os cidadãos do país não circulassem por Bamaco nesses momentos, após registro de “explosão e tiros" no hotel.

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