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As labaredas solares, em milímetros

NASA divulga um vídeo que mostra as várias camadas do astro, com detalhes inéditos

Foto: reuters_live | Vídeo: El País
Andrea Arnal

O Observatório de Dinâmica Solar da NASA (SDO, na sigla em inglês) publicou um vídeo com novas imagens do Sol como nunca antes se viu: em definição ultra HD (4k), ou seja, o dobro de resolução da alta definição.

As imagens do vídeo foram captadas em 10 comprimentos de onda diferentes. Muitas vezes essas longitudes são ultravioletas, por isso não são visíveis ao olho humano. O telescópio opera captando as imagens e depois lhes acrescenta uma cor que não é real, mas que permite ver os fenômenos na superfície. Esses filtros mostram as camadas em diferentes alturas na atmosfera do Sol, proporcionando informação sobre sua temperatura, evolução, atmosfera, mudanças repentinas.

Os caracóis que aparecem nas imagens correspondem a linhas de campo magnético. "O efeito é semelhante ao que ocorre com as limalhas de ferro colocadas sobre um ímã. Estamos vendo a forma do campo magnético do Sol", explica Luis Ramón Bellot, pesquisador do Departamento do Sistema Solar do Instituto Astrofísico da Andaluzia (IAA). "Podemos observar o gás da atmosfera do Sol que segue a forma do campo magnético. Como esse gás está muito quente, brilha muito", acrescenta.

Em alguns casos, esses caracóis que se formam na superfície estão mais fechados que outros. "Isso acontece porque os polos norte e sul do campo magnético se encontram muito próximos", explica o pesquisador.

Os caracóis mostrados nas imagens correspondem às linhas de campo magnético

Os caracóis também estão associados às manchas solares. É aí onde os campos magnéticos são muito mais intensos. Uma só mancha pode chegar a medir até 12.000 quilômetros (quase tão grande como o diâmetro da Terra), mas um grupo de manchas pode alcançar 120.000 quilômetros de extensão, e até mais.

A excepcional potência do astro

As explosões vistas no vídeo também têm relação com o campo magnético. Quando o campo magnético intenso sobe à superfície, tem muitíssimo mais energia que o gás que forma a atmosfera do Sol. "Ao subir até a atmosfera, pode acontecer de não ter energia suficiente para explodir e se reconfigura em um estado de mínima energia: nesse processo libera energia magnética", ressalta Bellot.

Quando a força do campo magnético emerge pode ocorrer também de se encontrar com outro campo na superfície. "Essa reconexão libera uma quantidade muito forte de energia, na qual os campos magnéticos desaparecem, as linhas do campo se desprendem e é produzida a liberação de gás no espaço", afirma Bellot.

Esse fenômeno é conhecido como "ejeções de massa coronal". São as explosões mais fortes do Sistema Solar, capazes de alcançar uma velocidade próxima da luz.

O brilho que se observa justo antes das expulsões de massa coronal é conhecido como "fulguração". "Somente quando o campo magnético é muito grande e intenso há energia suficiente para produzir uma fulguração e uma expulsão de massa coronal. As fulgurações são muito mais frequentes", explica o pesquisador do IAA.

As expulsões de massa coronal são as explosões mais fortes do Sistema Solar

Apesar de essas explosões poderem ter efeitos negativos em nossos sistemas eletrônicos espaciais, como os telescópios e os satélites, a maior parte da energia que nos chega é em forma de luz. "As explosões são muito intensas, mas duram instantes. A maior parte da energia do Sol é liberada em forma de radiação solar, em todos os comprimentos de onda. Essa energia, que é o que faz com que a estrela viva, é gerada no núcleo", observa Bellot.

Esse vídeo prova, enfim, uma reflexão do astrônomo Jan Olof Stenflo, do Instituto de Astronomia ETH, da Suíça. "O campo magnético é o ingrediente básico do Sol, o agente que causa toda a atividade. Sem campo magnético, o Sol seria uma estrela muito chata."

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