Lula dá recado a adversários: “vou sobreviver à pancadaria”
Filho do ex-presidente é investigado em operação da PF Em encontro do PT, ele diz que não se pode pedir demissão de Levy
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou os filiados ao seu partido, o PT, a não aceitarem as críticas calados e começarem a defender o Governo Dilma Rousseff. Em um duro discurso na abertura do encontro do diretório nacional da legenda, na manhã desta quinta-feira, em Brasília, Lula citou as denúncias contra seus familiares e disse que está preparado para apanhar nos próximos três anos. “Vou sobreviver”. Um de seus filhos é investigado pela operação Zelotes e uma nora dele foi acusada por um delator da Lava Jato de receber propina em nome do petista.
“Ninguém precisa ficar com pena [de mim], porque se tem uma coisa que aprendi na vida é enfrentar a adversidade. Se o objetivo é truncar qualquer perspectiva de futuro, então vão ser três anos de muita pancadaria e, pode ficar certo, eu vou sobreviver”, afirmou. Em um outro momento, o ex-presidente disse que se estivesse no pelourinho, suas costas já estariam sem pele, de tanto que apanha.
A referência aos seus familiares surgiu logo após Lula fazer uma análise sobre a crise de confiança enfrentada pelo Governo Rousseff. “É tudo muito incerto no país. Tem 19 pedidos de impeachment, denúncia contra o presidente da Câmara, denúncia contra o presidente do Senado, denúncia contra o filho do Lula. Eu ainda tenho mais três filhos que não foram denunciados e sete netos. Porra, não vai terminar nunca isso. E ainda tenho uma nora que está grávida”, disse ao som de risadas e aplausos. E continuou: “Eu tenho quatro noras, dizem que uma recebeu dois milhões, aí as outras perguntam, quem é que está rico aqui na família? Daqui a pouco uma começa a abrir um processo contra a outra, para repatriar esse dinheiro”.
Apesar de em alguns momentos discursar em tom de brincadeira, Lula foi bastante firme na fala dirigida à cúpula do PT e mandou recados até para sua sucessora. Na visão dele, a presidenta foi obrigada a mudar o discurso após a campanha eleitoral do ano passado e, por isso, tem sido tão criticada. “Tivemos um grande problema político, sobretudo na nossa base, quando tomamos atitude de fazer o ajuste que era necessário fazer. Ganhamos as eleições com um discurso e, depois, tivemos que mudar o discurso e fazer o que dizíamos que não íamos fazer. Isso é fato conhecido pela nossa querida presidente Dilma Rousseff”.
Sem declarar apoio direto ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Lula declarou que não é o momento de pedir sua demissão e que a política econômica do Governo já estava proposta antes da chegada dele na pasta. “Falam um 'fora Levy' da mesma forma que falavam 'fora FMI'. E não é a mesma coisa”. Diversas correntes dentro do PT defendem a saída do ministro da Fazenda. Em ao menos duas ocasiões Levy ficou sob forte pressão, mas teve o apoio de Rousseff para permanecer no cargo.
Principal figura do PT desde sua fundação, na década de 1980, Lula disse que os líderes do partido perderam o poder de convencimento das bases e precisavam dialogar mais com os aliados para recuperarem a confiança. “Parece que o PT virou o sapinho feio”, disse.
Para confrontar a oposição, Lula afirmou que é preciso parar de pautar as ações do Governo nas “manchetes dos jornais” e começar a discutir com brevidade as medidas de ajuste fiscal enviadas ao Legislativo para acabar com a sensação de paralisia que se abate sobre o país. “Não podemos ficar mais seis meses discutindo ajuste. Não podemos ficar mais seis meses esperando para discutir a CPMF”. O petista ainda provocou o seu público, formado por dirigentes partidários, governadores, prefeitos e congressistas: “Alguém aqui acha que primeiro vamos tentar derrubar o [presidente da Câmara], Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment, depois a gente vota as coisas que a Dilma quer?”
Ao comentar as eleições municipais do próximo ano, o ex-presidente disse que os filiados não podem se esconder “Não há porque um petista ficar de cabeça baixa ao ouvir um ladrão chamar o PT de corrupto. Certamente cometemos erro, mas qual é o partido que tem credibilidade e pode falar de cabeça erguida como o nosso”.
O longo discurso do ex-presidente precedeu uma série de debates entre os petistas. A expectativa é que ainda nesta quinta-feira saiam textos assinados pela legenda em que sugerem mudanças nos rumos das políticas econômica e política do Governo Rousseff.