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Policial dos Estados Unidos agride estudante negra na sala de aula

O vídeo foi gravado no instituto Spring Valley, em Colúmbia

Vídeo: Reginald Seabrooks / El País Vídeo

Um novo episódio de violência policial chocou os Estados Unidos. Após a série de incidentes no ano passado, quando agentes policiais empregaram o uso da força de maneira excessiva contra cidadãos negros, causando a morte de alguns, o último caso ocorreu em uma escola da Carolina do Sul. Foi na segunda-feira, no instituto Spring Valley, cidade de Colúmbia, e, como revelado por um vídeo gravado por um outro estudante, o policial agarra violentamente uma estudante pelo pescoço e pela perna, jogando-a no chão e virando sua carteira. A cena é presenciada por outros colegas, que evitam olhar o que está acontecendo ao redor.

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O incidente está sendo investigado pelo FBI, enquanto o policial, identificado como Ben Fields, foi suspenso de seu posto. O policial havia sido chamado para expulsar uma aluna que se recusava a deixar a sala de aula. Essa prática, que pode parecer surpreendente em outros países, é comum nos Estados Unidos, onde não está isenta de controvérsia.

"A estudante foi informada de que seria presa por impedir o andamento da classe e recebeu instruções que não foram acatadas", disse na segunda-feira Leon Lott, xerife do condado. "O vídeo mostra como a estudante resistiu quando foi presa." Outra aluna, também presa após protestar contra o ocorrido, foi libertada após pagar uma fiança de 1.000 dólares (3.900 reais).

“Nunca vi nada tão asqueroso, tão brutal a tal ponto que os alunos olhavam para outro lado, sem saber o que fazer, temendo por suas vidas", disse uma das testemunhas à rádio local WLTX. "Supõe-se que [um policial] tenha de ser alguém que te proteja, e não alguém que imponha medo."

A Associação de Pais do instituto onde a prisão ocorreu descreveu a ação policial como "inaceitável" e "escandalosa". "Parte nosso coração ver outro exemplo de intolerância que continua sendo um problema em nosso distrito, especialmente contra as famílias de minorias", diz o comunicado da associação. As críticas contra a agressão se espalharam pelas redes sociais, com a maioria das mensagens de protesto sob a hashtag #AssaultAtSpringValleyHigh.

Os Estados Unidos contam entre seus corpos policiais com agentes identificados como “recurso para as escolas”. Como afirma o Departamento do Xerife do condado, sua presença faz parte da colaboração entre as autoridades e as escolas para “reduzir o crime, o consumo de drogas e a violência, assim como promover um ambiente seguro para os estudantes”.

O uso desses agentes aumentou especialmente nos anos 80, quando os EUA declararam a chamada Guerra contra as drogas. Os agentes são designados a cada uma das escolas públicas, onde têm a responsabilidade de ser “um bom exemplo para os estudantes” e assessorar tanto os professores como os pais.

A atuação policial nas escolas recebeu menos atenção nos últimos meses do que os incidentes que acabaram com as vidas de Eric Garner, Michael Brown e Freddie Gray, mas existem incidentes semelhantes. Em 2015, a revista Mother Jones publicou uma compilação de vários casos nos quais os estudantes precisaram de cuidados médicos depois de uma altercação com um agente no colégio. De acordo com os dados recopilados pela publicação, pelo menos 28 alunos ficaram feridos e um deles morreu baleado.

Outra reportagem do Huffington Post identificou 25 alunos de 13 estados que foram atacados com gás lacrimogêneo, pistolas elétricas e paralisantes. A Associação Nacional de Agentes Escolares afirma que entre o tiroteio da Escola de Columbine em 1999 até 2006, o número de policiais designados aos colégios duplicou até chegar em 20.000 agentes, com um investimento federal de 876 milhões de dólares (3,41 bilhões de reais). Em 2012, o massacre na escola infantil de Sandy Hook causou um novo aumento.

Apesar de as autoridades justificarem o uso dos agentes por motivos de segurança, muitas das vozes que na terça protestaram contra o ocorrido na Carolina do Sul se perguntavam por que esse tipo de incidente se repete em regiões nas quais o corpo estudantil é formado em sua maioria por minorias raciais. O Departamento de Educação revelou em 2014 que 92.000 estudantes foram presos nas escolas em 2011 e 2012, a primeira vez em que esses dados começaram a ser recopilados.

Apesar de os estudantes afro-americanos formarem 16% do alunato, representam 31% das detenções. Um relatório da Casa Branca recomendou a preparação específica desses agentes ao considerar que “as ofensas podem se transformar em acusações por crime quando os agentes não são treinados em matéria de desenvolvimento infantil e adolescente”.

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