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EUA autorizam a participação do Irã nas negociações sobre a Síria

Incorporação de Teerã marca mudança na estratégia de Washington e seus aliados

Um homem passa diante de edifícios destruídos em um subúrbio de Damasco.
Um homem passa diante de edifícios destruídos em um subúrbio de Damasco.B. KHABIEH (REUTERS)

O Departamento de Estado norte-americano confirmou nesta terça-feira que o Irã será convidado pela primeira vez a participar das negociações internacionais sobre o futuro da Síria, que há quatro anos se encontra em uma guerra civil que já deixou mais de 200.000 mortos. Um porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos não quis especificar quem fará o convite a Teerã. “Se virão ou não, isso dependerá dos líderes iranianos”, acrescentou.

“O objetivo maior de todos nós, e não posso dizer quantas reuniões adicionais serão necessárias, é obter um acordo-marco multilateral para uma transição bem-sucedida que leve a um Governo não liderado pelo presidente Bashar al Assad”, disse John Kirby, porta-voz do Departamento. A próxima rodada diplomática começa nesta quinta-feira em Viena, envolvendo o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, seu homólogo russo, Serguei Lavrov, e vários altos funcionários diplomáticos europeus e árabes.

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Nada garante que a mera inclusão do Irã nas negociações seja suficiente para resolver o conflito sírio, que já dura quatro anos. No entanto, a maioria dos analistas avalia que tal solução seria muito menos provável sem a participação iraniana. Teerã não só respalda o regime de Assad com armas e dinheiro desde o início dos protestos da oposição na Síria como também enviou assessores e voluntários para combater os rebeldes ao lado das forças de Assad, e não distingue entre radicais e moderados. Além disso, a mobilização do grupo xiita libanês Hezbollah, controlado por Teerã, foi crucial para evitar a perda de Damasco pelo regime de Assad.

A mudança de rumo na diplomacia da Administração de Barack Obama já era intuída desde que, no fim de semana passado, Kerry manifestou sua preferência por contar com o Irã na busca por uma solução política para a Síria. “Vejo esta semana como uma grande oportunidade para que diversos países desempenhem um papel importante”, declarou Kerry antes de se reunir na sede da ONU com o ministro iraniano de Relações Exteriores, Javad Zarif.

No começo de 2014, o Governo de Barack Obama impediu que o Irã participasse de uma conferência de paz sobre Síria, alegando, entre outras razões, o papel beligerante da Força Al Quds, tropa de elite da Guarda Revolucionária iraniana. As autoridades iranianas, por sua vez, não aceitavam que o objetivo final das negociações fosse a formação de um Governo provisório em Damasco com o “consentimento mútuo” da oposição e do regime de Assad.

A postura saudita

Parece improvável que os EUA tenham podido tomar a decisão de convidar Teerã sem contar com o aval da Arábia Saudita. É significativo, aliás, que quase junto com esse anúncio tenha sido divulgado que o presidente Barack Obama convidou o rei Salman para “discutir a situação na região”. Apesar de a breve nota da agência saudita SPA não dar detalhes, muitos observadores somaram dois mais dois.

Na véspera, o monarca saudita telefonou para o presidente russo, Vladimir Putin, para falar da crise síria e das negociações iniciadas na semana passada em Viena por EUA, Rússia, Arábia Saudita e Turquia. Até agora, Teerã não reagiu às informações sobre o iminente convite para que se una a esse processo.

Na reta final para o acordo nuclear assinado com as grandes potências, o chanceler iraniano disse que seu país estava disposto a colaborar com a comunidade internacional para “abordar importantes desafios comuns”. No entanto, e apesar de também ter interesse no futuro da Síria, o líder supremo da República Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, que tem a última palavra sobre os assuntos mais relevantes no Irã, descartou recentemente novas negociações com os EUA.

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