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Sem perspectivas futuras, brasileiro se declara órfão de lideranças

Desgaste do PT, de Dilma e Lula não é capitalizado por nenhum nome da política atual

Manifestantes em São Paulo contra Lula e Dilma.
Manifestantes em São Paulo contra Lula e Dilma.M. SCHINCARIOL (AFP)

Uma nova pesquisa de opinião do instituto CNT/MDA veio confirmar a rejeição dos brasileiros ao Governo Dilma. Segundo o levantamento, apenas 8,8% dos entrevistados têm uma avaliação positiva sobre o seu Governo, contra 70% que o rejeitam. Se por um lado a população se afasta da presidenta, por outro, não aumenta o apoio a nenhuma alternativa atual. Se uma nova eleição para presidente acontecesse hoje no país, nenhuma opção de liderança da política atual agradaria os eleitores. Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visto como o grande salvador do PT nos momentos de crise, nem qualquer um dos opositores que poderiam entrar na disputa contra ele. Em meio a crise política atual, o Brasil procura um novo líder, algo que diversos nomes importantes do cenário político admitem, em uma análise de seus próprios partidos.

Uma pesquisa divulgada pelo Ibope nesta segunda-feira mostra que a rejeição aos nomes mais conhecidos do cenário político cresceu independente do partido. Aécio Neves, o nome do PSDB que disputou, e quase ganhou, a disputa contra Rousseff em 2014, por exemplo, que vem trabalhando pelo impeachment da presidenta, viu sua rejeição subir de 42% para 47%. Outros caciques tucanos que poderiam concorrer em 2018, como o  senador José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também enfrentam uma rejeição alta. O primeiro, é vetado por 54% dos eleitores (diante de 47% em maio passado). O segundo não foi pesquisado antes, mas agora é rejeitado por 52%.

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O mesmo é visto em relação a Marina Silva, o principal nome do recém-criado Rede Sustentabilidade que é retratada como a cara da nova política. O número dos que afirmam que não votariam nela passou de 31% para 50% em pouco mais de um ano. Silva, que concorreu no ano passado, saiu da eleição taxada como uma candidata pouco confiável, já que mudou, ao longo da disputa, de posição em relação a temas mais polêmicos, como a união homoafetiva, por exemplo.

O mito Lula, que parecia intocável até pouco tempo, também já não é mais o mesmo. Em um cenário de eleição presidencial, sua rejeição aumentou de 33% em maio de 2014 para 55% agora. O descontentamento cresce a medida que as investigações da Lava Jato envolve nomes importantes do partido e que as dificuldades enfrentadas por Dilma Rousseff na economia aumentam.

“O Brasil está desconfiado”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Cepac –Pesquisa e Comunicação, que ressalta que ainda é muito cedo para avaliar o cenário de 2018. Mas, para ele, o desgaste de Lula está intimamente ligado ao fato de a presidenta Rousseff ter assumido um programa de Governo diferente daquele com o qual foi eleita. “Ela disse na campanha que o pacto social feito por Lula continuaria, que não haveria desemprego, que não teria cortes nos benefícios sociais. Mas um mês depois de assumir esse pacto foi rompido”, afirma ele.

Para o cientista político Jean Castro, professor do departamento de sociologia e ciência política da Universidade Federal de Santa Catarina, o PSDB, por outro lado, sofre desgaste porque não faz uma oposição firme à Rousseff como seus eleitores tradicionais gostariam. “O partido faz o cálculo político de que se Rousseff sofre impeachment, o PSDB teria que fazer o mesmo plano de ajuste fiscal, o que o afetaria. Seria mais interessante para o partido levar o desgaste dela para a próxima eleição. Mas os eleitores do partido gostariam que eles se posicionassem mais fortemente contra o impeachment.”

Castro diz ainda que momentos de crise de representatividade são propícios ao surgimento de nomes externos ao cenário política. “Se as tendências atuais continuam, há a possibilidade do surgimento de um candidato novo, um nome de notoriedade pública, de um justiceiro. Outros países viveram isso”, diz.

Falta de lideranças

A preocupação em relação à falta de um nome forte na política atual já foi levantada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um evento no mês passado. Na ocasião, ele afirmou que o país sofre de uma crise de lideranças e que a oposição precisava transformar a “derrota” do PT em um discurso de “vitória” para os opositores. “A oposição, para ser vitoriosa, não basta a derrota de um, tem que ter a vitória de outro. Eu não sei quem vai ser capaz de ter um discurso que seja compatível com o momento. E esse discurso tem que juntar o social, com o econômico e o político”, disse ele, que ressaltou ainda que a oposição tem que assimilar a bandeira da inclusão social, numa convocatória às origens social-democratas do PSDB que na última década ficou associada ao petismo.

O próprio ex-presidente Lula, apesar de ter afirmado muitas vezes que será candidato em 2018, se necessário, também tem destacado que preferiria apoiar o nome de outras lideranças nas próximas eleições. No partido, entretanto, não existe atualmente nenhum nome forte que tenha a popularidade obtida por ele nas últimas décadas.

Mesmo com a forte rejeição a seu nome, Lula ainda tem a maior taxa de eleitores que afirmam votar “com certeza” nele: 23%  – uma queda em relação aos 33% de maio de 2014, mas ainda a mais alta taxa de apoio em comparação aos demais nomes. Aécio Neves e Marina Silva aparecem na sequência, com 15% e 11%, respectivamente. Serra, com 8%, e Alckmin, com 7%, ainda estão na frente de Ciro Gomes (PDT), 4%.

Neste cenário, se as eleições presidenciais fossem hoje, Aécio Neves (42%), Lula (41%) e Marina Silva (39%) empatariam tecnicamente, somando os eleitores que votariam "com certeza" ou que "poderiam votar" em cada um deles. José Serra e Geraldo Alckmin apareceram em segundo lugar com 32% e 30%, respectivamente.

A pesquisa Ibope foi realizada entre os dias 17 e 21 de outubro com 2002 entrevistados em 140 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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