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Setor de mídia digital busca modelo de desenvolvimento

Digital Media Latam 2015 reúne responsáveis pelos meios para discutir os desafios

Pablo de Llano Neira
Antonio Caño, diretor do EL PAÍS, durante a conferência.
Antonio Caño, diretor do EL PAÍS, durante a conferência.S. RUIZ

O setor da mídia digital continua buscando seu modelo ideal de desenvolvimento. Os últimos anos de transformação tecnológica e crise na publicidade abalaram os alicerces do mundo da informação, e o setor se transforma em tempo real. Em sua edição deste ano na Cidade do México, o congresso Digital Media 2015, da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA, na sigla em inglês), reúne responsáveis pelos meios de comunicação para discutir os temas quentes de um jornalismo que se equilibra entre o impresso e o digital: seu modelo de negócio (ou como ganhar dinheiro); seu esquema de distribuição (ou como chegar às pessoas, ser visto); suas apostas no conteúdo (ou como atrair as pessoas, ser lido).

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A receita de Tomas Brunegard, presidente da WAN-IFRA, ao abrir o evento, mistura ousadia no mercado e competência no trabalho: “É hora de empreender no setor de mídia e manter nossa regra principal: contar boas histórias”.

Brunegard expôs em números o ponto central do panorama da mídia. Em relação a 2013, a circulação de publicações em papel aumentou apenas 0,4%, enquanto as digitais cresceram 45%, mas o nó da questão, no aspecto dos negócios, é que a parte que cresce demora para se traduzir em faturamento, que continua incomparavelmente maior no papel: cerca de 93% do total.

Nesse contexto de mudança, os meios de comunicação se deparam com uma pergunta essencial: o que hoje é um meio de comunicação? Antonio Caño, diretor do EL PAÍS, destacou que foi preciso aceitar que o que ocorre não é uma simples mudança, mas uma metamorfose: “Compreendemos que o EL PAÍS não é mais um jornal. Até agora tentamos adaptar um jornal às novas tecnologias, mas finalmente entendemos que já não somos um jornal, e sim uma marca, uma marca que precisa ser capaz de criar produtos diferentes para plataformas diferentes e públicos diferentes. Hoje somos um centro de produção de conteúdo”. Caño explicou que o norte desse conteúdo gira sobre “a diferenciação, a globalidade e o multimídia”, apoiado nas fundações firmes da identidade tradicional do jornal desde sua fundação, em 1976. “É imprescindível saber por que surgimos há 40 anos para fazer o que nos cabe a partir de agora.”

Frédérique Lancien, diretora de estratégia e novos negócios do jornal esportivo francés L’EQUIPE, explicou como a publicação está apostando na diversificação de plataformas de conteúdo, esquema relacionado à escolha de aproveitar a fidelidade ao título, criando nichos de leitores específicos, oferecidos aos anunciantes como “um catering” ajustado a seu alvo no mercado; por exemplo, uma página para pessoas que não apenas consomem esporte, mas o praticam, ou outra focada na boataria do mercado de contratações no futebol, seção que, por publicar informações que essencialmente não podem ser checadas, não chegam às manchetes do jornal, embora quem chegue a elas o faça por sua ligação com o título. “As pessoas acompanham esses produtos porque são da família L’EQUIPE.”

Atual incerteza para os negócios influi no rumo do conteúdo e sua relação com o crescimento da audiência

A atual incerteza nos negócios influencia, por sua vez, no rumo dos conteúdos e em sua relação com o crescimento da audiência. À espera que o mundo digital faça um clique econômico e comece a multiplicar os ganhos dos veículos de comunicação, uma das preocupações é ir tomando posição e conseguindo números de usuários cada vez maiores, o que leva ao intrincado problema de como agarrar os leitores em um panorama ilimitado de oferta digital.

“Para mim, o mais importante agora parece ser a necessidade de se conectar emocionalmente com as audiências, deixar de pensar em usuários e pensar em fãs”, disse Diego Carvajal, vice-presidente de produto da Univision, que mencionou como exemplo particular a orientação do The New York Times de se concentrar nos 10% de leitores que considera fiéis e dispostos a pagar por uma informação de qualidade. Outra possibilidade que destacou é a “personalização do produto”, ao ponto de poder levar de bandeja ao e-mail dos leitores uma seleção de conteúdos a seu gosto, adaptada a seus interesses.

O tempo também mudou. A informação já não se mede em períodos. A informação ocorre ao vivo. “Agora a cada sete minutos estamos publicando alguma coisa”, disse Manuel Rivera, presidente do Grupo Expansión. E a capacidade de avaliar o sucesso dos conteúdos é quase instantânea, graças às novas ferramentas. “Temos uma medição a cada momento de quantas pessoas leem uma reportagem, de onde veio essa pessoa e para onde vai depois. Sem abandonar nosso enfoque editorial, temos que ser sensíveis ao que o leitor quer ou não quer a cada momento”, acrescentou Rivera, que também apontou a hipervelocidade com a qual o tempo de renovação dos meios tem mudado: “Antes inovávamos a cada cinco anos. Hoje a inovação ocorre em sprints de duas semanas”.

Uma guinada para a informação de serviço

O analista Jeff Jarvis defendeu a guinada digital como uma oportunidade para colocar o “serviço ao leitor” à frente de qualquer outra consideração. “Não pode ser que Google e Facebook saibam mais sobre as necessidades de um usuário do que um jornal local.”

Jarvis, diretor do Centro Tow-Knight para o Empreendimento Jornalístico, afirma que os veículos de comunicação devem passar do modelo de “grande fábrica de notícias” para outro com uma estrutura de “pequenas equipes entrecruzadas”, que sejam capazes de proporcionar conteúdos de âmbito específico e localizado em tempo real.

“Continuamos fazendo milhares de versões da mesma notícia. Não podemos viver de nos repetir entre nós. Temos que mudar de um modelo de negócio baseado no volume para um baseado no valor e no serviço para o momento”, disse. “Temos que construir esse negócio em função de se melhoramos ou não a vida de nossos usuários. Isso é valor, e é valor de negócio”.

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