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Maduro acusa a Polar, maior empresa da Venezuela, de conspirar com o FMI

Conversa entre o presidente da Polar e um ex-membro de um Governo foi transmitida na TV

Lorenzo Mendoza, presidente das Empresas Polar.
Lorenzo Mendoza, presidente das Empresas Polar.REUTERS

A bancada parlamentar chavista solicitou nesta terça-feira à Promotoria Geral da República a abertura de uma investigação sobre Lorenzo Mendoza, presidente das Empresas Polar, o maior grupo comercial da Venezuela. O Governo pretende que a instituição, que responde às suas determinações, defina se Mendoza, que possui a segunda maior fortuna do país, segundo a revista Forbes, pode ser submetido a uma investigação penal sob a acusação de negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma intervenção na economia venezuelana. Esse movimento do Governo de Nicolás Maduro acontece no contexto das eleições legislativas marcadas para 6 de dezembro.

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Uma conversa entre o empresário e um antigo membro de um Governo anterior ao chavismo foi divulgada pela rede estatal Venezoelana de Televisión. Durante pouco mais de seis minutos, Lorenzo Mendoza fala ao telefone com Ricardo Hausmann, ex-ministro de Planejamento de Carlos Andrés Pérez (1989-1993) e atual diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, a respeito da situação crítica da economia venezuelana e o futuro que o Governo teria de enfrentar a curto prazo, em um momento em que todas as linhas de crédito com seus aliados —principalmente a Rússia e a China— pareciam estar fechadas.

“O presidente do FMI para o hemisfério ocidental está muito preocupado com a situação da Venezuela e acredita que em algum momento a instituição terá de interferir. A situação está muito ruim”, comenta Hausmann. Mais adiante, ele acrescenta: “A Venezuela não tem como sair deste peo [problema] sem uma ajuda internacional substanciosa. E a ajuda financeira internacional é organizada pelo FMI”.

A trama ocorre à véspera das eleições legislativas do próximo dia 6 de dezembro e em meio à pior crise de popularidade enfrentada pelo chavismo

A denúncia feita pelos deputados do Partido Socialista Unido da Venezuela, do governo, é o seguimento de uma suposta trama iniciada na semana passada pelo número dois do regime, o presidente da Assembleia nacional, Diosdado Cabello, que pretende fazer com que essa conversa —gravada sem autorização judicial e revelada em seu programa de televisão— seja vista como parte de uma conspiração para se negociar com o FMI uma intervenção na economia venezuelana. A trama ocorre à véspera das eleições venezuelanas do próximo dia 6 de dezembro e em meio à pior crise de popularidade enfrentada pelo chavismo desde que chegou ao poder, em 1999.

Vítima de boicote

O presidente do país, Nicolás Maduro, recebeu a denúncia de Cabello e pediu, no último fim de semana, a abertura de uma investigação contra Mendoza. “Quem governa não são as multinacionais, mas sim um grupo de revolucionários formados por Hugo Chávez. É um crime isso que foi feito pelo Pelucón [perucão] mór [apelido com que o presidente chama o empresário], e ele tem de ser processado. Espero que as instituições da Justiça reajam a isso”. Nesta terça-feira, em seu programa semanal, o presidente afirmou que a Venezuela está sendo vítima de um boicote internacional que a impede de obter empréstimos no exterior. Essa nova denúncia do Governo torna ainda mais tensas as relações com a já rarefeita iniciativa privada do país.

Hausmann reagiu à divulgação da conversa com uma aposta sobre o futuro. “Prefiro ver Cabello preso pelos crimes cometidos contra outros venezuelanos. Não quero perder meu tempo com ele”, afirmou. Mendoza, que dirige um dos grupos de alimentos mais ricos do país, admitiu a autenticidade da conversa e repudiou, em nota, “as tentativas de manipular a opinião pública” para envolve-lo nas disputas políticas locais. Em seguida, ele conclui: “Não é nenhuma novidade que dirigentes e especialistas de diferentes ideologias econômicas e políticas consideram urgente a implementação de mudanças econômicas no país”.

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