Biden anuncia que não será candidato à presidência dos EUA em 2016
Vice-presidente comunicou a decisão na Casa Branca, com Barack Obama a seu lado
O cenário escolhido e o privilégio da companhia que o acolhia eram um presságio da decisão do vice-presidente. Joe Biden não buscará a nomeação do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2016. Do roseiral da Casa Branca e flanqueado pelo presidente Barack Obama, Biden anunciou nesta quarta-feira que não entrará na campanha. Mas fez uma advertência: “Espero falar claramente, embora não seja candidato, falarei clara e fortemente”.
Para um homem que acabava de decidir que não iria ser candidato, o discurso que se seguiu foi o de um indivíduo (um partido, na realidade) em campanha. Como se tivesse sido uma declaração escrita para dizer que sim, que pela terceira vez iria aspirar à candidatura à presidência, mas outras considerações finalmente inclinaram a balança na direção de outro, seja o luto pela morte do filho ou que para Obama não seria algo cômodo ter dois pesos pesados, como Clinton e Biden, competindo em debates.
"Este país cometerá um erro trágico se tentar se desfazer do legado de Obama. Os americanos chegaram longe demais para isso. Os democratas não deveriam apenas proteger e defender essas conquistas, deveriam basear nelas a sua campanha.”
Alegando que havia ficado sem tempo, que a logística o pressionava e que, no final das contas, os caucus estão na virada da esquina (fevereiro do ano que vem), o vice-presidente recordou que seu processo de superar a morte do filho havia chegado perto demais da data de se pôr a trabalho. “Fiquei sem tempo para tentar obter a nomeação”, declarou o político veterano.
A saída de Biden da fotografia dos candidatos democratas limpa bem o caminho para Hillary Clinton, que foi secretária de Estado no primeiro Governo Obama e lidera as pesquisas entre os seguidores do partido. O processo de primárias para escolher o candidato de cada partido começa em fevereiro.
Biden, de 72 anos, tentou por duas vezes ser presidente. As experiências fracassaram. Nas eleições de 1988 teve de abandonar a corrida eleitoral após a revelação de vários plágios. E nas de 2008 foi eclipsado pelas candidaturas de Obama e Clinton.
Biden está entre os políticos mais experientes de Washington. Foi senador durante 36 anos. E acumula sete anos como mão direita do presidente Obama. Apesar dessa bagagem, o político de Delaware carrega a reputação de meter os pés pelas mãos com frequência e de falta de desenvoltura.
Ao mesmo tempo, é tido como pessoa divertida e carismática. Em uma pesquisa no final de setembro, a avaliação de Biden era melhor que a dos candidatos democratas. Um total de 40% dizia ter uma opinião positiva do vice-presidente e 28%, negativa. Ou seja, um saldo positivo de 12 pontos. Em troca, Clinton tinha um saldo negativo de 8 pontos. No entanto, um levantamento mais recente — de meados de outubro, depois do primeiro debate televisionado dos democratas — questionava a capacidade de vitória de Biden. Somente 30% dos eleitores de primárias democratas apoiava sua candidatura às eleições. E 15% diziam que votariam nele, bem abaixo dos que dariam seu voto a Clinton (49%) e ao senador independente Bernie Sanders (29%). Tanto Clinton como Sanders estão há meses em campanha e dispõem de uma sólida infraestrutura de doadores e pessoas trabalhando para eles.
A especulação sobre se Biden disputaria as eleições disparou em agosto depois que Maureen Dowd, colunista do jornal The New York Times, escreveu que o vice-presidente estudava apresentar-se em razão do pedido de seu filho Beau pouco antes de morrer em maio, vítima de um tumor cerebral. Depois disso, Biden não confirmou nem negou suas intenções. Mas alimentou a especulação constante, lançando alguns dardos subliminares a Clinton. Nos últimos meses, o escândalo do correio eletrônico de Clinton — somente usou uma conta privada quando era secretária de Estado e apagou a metade de suas mensagens — ampliou a imagem de opacidade e secretismo da ex-primeira dama e senadora.
Falando quase como candidato, o vice-presidente destacou no dia 20 sua proximidade com Obama. “Passo, dependendo da época, entre quatro e sete horas por dia com o presidente”, disse em uma conferência. E realçou seus encontros com líderes internacionais, tentando frear uma das possíveis vantagens de Clinton: “Contamos com dois grandes secretários de Estado [Clinton e o atual, John Kerry], mas, quando eu vou, sabem que estou falando pelo presidente.”