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Oposição argentina luta para evitar a derrota no primeiro turno

Macri, o opositor com mais opções, apela para o “voto útil” para conseguir mais apoio A divisão das opções antikirchneristas permite chegar ao poder com apenas 40%

Carlos E. Cué
Mauricio Macri em um evento político em 19 de outubro.
Mauricio Macri em um evento político em 19 de outubro.MARCOS BRINDICCI (REUTERS)

A realidade política argentina é muito complexa. A maioria dos analistas acredita que vai ganhar no primeiro turno o governista Daniel Scioli, eleito como herdeiro do kirchnerismo, embora tenha claras diferenças com o estilo dos Kirchner. No entanto, Scioli tem pela frente os 60% dos argentinos que não querem que ganhe as eleições presidenciais de domingo. Mas a incapacidade de união da oposição dá ao peronismo oficial, com uma concentração de votos de 40% em bloco para Scioli, a chance de obter todo o poder. Nas últimas horas antes das eleições de domingo, Mauricio Macri, o candidato da oposição com mais possibilidades, se esgoela para tentar convencer os eleitores de outros partidos de oposição de que ele representa o “voto útil” porque é o único que pode passar para o segundo turno e impedir que o kirchnerismo, ou pelo menos essa nova mutação do peronismo que será o sciolismo, ganhe as eleições.

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Macri alcançou uma posição muito superior à esperada há alguns anos. De membro do jet set passou a presidente do Boca e depois a prefeito de Buenos Aires. Ninguém pensava que poderia ser um aspirante real à presidência pela imagem de milionário neoliberal que o kirchnerismo tinha colocado nele. E, no entanto, conseguiu ser o líder da oposição. Mas Macri tem limites para um determinado tipo de eleitores, sobretudo a esquerda e os peronistas, que o veem muito à direita, rico e afastado dos pobres. Toda sua campanha consistiu em suavizar essa imagem e até chegou a inaugurar uma estátua de Perón, a única que existe em Buenos Aires. Agora está apertando para convencer os que não querem que Scioli ganhe, sobretudo os 20% que mantêm seu apoio a Sergio Massa, peronista dissidente, de que apoiar os outros é dar a vitória ao candidato do governo.

Nas eleições de domingo há um candidato governista e cinco da oposição. Três têm expectativas de voto pequenas: a progressista Margarida Stolbizer, o esquerdista Nicolás del Caño e o peronista Adolfo Rodríguez Saa, que chegou a ser presidente da Argentina durante sete dias no conturbado período de Natal de 2001. O problema real para Macri é Massa. Mas cada voto conta. A diferença entre ir para o segundo turno ou não pode depender de alguns milhares de cédulas. Macri precisa de cada voto para tentar impedir Scioli de lhe tirar os 10 pontos que, segundo a lei, necessita para ganhar diretamente, sem segundo turno.

A ofensiva vai com tudo. O macrismo está jogando todas as cartas para convencer os indecisos e até apresentou nas últimas horas uma impactante denúncia sobre uma suposta espionagem maciça de políticos da oposição, juízes e jornalistas por parte dos serviços segredos argentinos. A denúncia, apresentada por duas deputadas macristas, afeta os principais jornalistas do país e parece pensada para animar o voto contra o kirchnerismo. Enquanto isso, Massa tenta garantir seus apoios afirmando que ele é o verdadeiro voto útil porque só ele poderia ganhar de Scioli em um segundo turno, já que pode competir pelo voto peronista.

Enquanto isso, a maioria dos personagens mais populares vão decantando suas opções políticas e enquanto a conhecida atriz Susana Jiménez mostra seu apoio a Macri, Diego Maradona, de sua mansão em Dubai, lançou no Facebook uma mensagem de apoio a Scioli, Cristina e até La Cámpora, o núcleo duro kirchnerista. Enquanto Maradona, em Dubai, apoiava o Governo, Macri organizava ontem à noite um grande ato em Lanús, onde nasceu o jogador de futebol, um município da região metropolitana de Buenos Aires, precisamente com a intenção de tirar votos de Massa no terreno que melhor domina, a periferia da capital.

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