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Obama ordena investigação sobre o ataque a um hospital no Afeganistão

Alto Comissariado de Direitos Humanos diz que incidente pode ter sido um “ato criminoso”

Profissionais do MSF tratam as vítimas afegãs de um ataque do Talibã no hospital de Kunduz afetado pelo bombardeio este sábado
Profissionais do MSF tratam as vítimas afegãs de um ataque do Talibã no hospital de Kunduz afetado pelo bombardeio este sábadoMSF (AFP)

O presidente dos EUA, Barack Obama, ordenou este sábado uma investigação sobre o “trágico incidente” em Kunduz, no Afeganistão, que matou 19 no Hospital de Médicos Sem Fronteiras. O presidente dedicou suas “mais sentidas condolências” à equipe médica e os civis que morreram ou foram feridos depois do ataque liderado por forças norte-americanas. Obama disse que ele ordenou ao Departamento de Defesa uma investigação para “ter todos os resultados antes de fazer um julgamento final sobre as circunstâncias da tragédia”.

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As palavras de Obama, em um comunicado divulgado na noite de sábado pela Casa Branca, chegam depois que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon tivesse exigido, horas antes, uma investigação imparcial do ataque dos EUA. Ban expressou sua “forte condenação contra o ataque” e exigiu “uma investigação intensiva e imparcial que demonstre responsabilidades”.

“Os hospitais e pessoal médico estão explicitamente protegidos pelas leis humanitárias”, lembrou Ban. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos coincidiu com o Secretário-Geral na exigência de uma investigação e acrescentou que o incidente pode constituir um “ato criminoso”.

“Os agentes militares internacionais e afegãos têm a obrigação de respeitar e proteger os civis em todos os momentos e as instalações médicas e seus profissionais são objeto de proteção especial”, afirmou seu diretor, Zeid Ra’ad Al Hussein, em um comunicado. “Essas obrigações devem ser aplicadas independente de quais forças estão envolvidas e onde estejam localizadas”.

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos disse no sábado que a área objeto do ataque tinha sofrido “intensos combates” nos últimos dias que os efeitos norte-americanos que apoiam as Forças de Segurança do Afeganistão “estavam operando nas imediações, assim como o Talibã”, nas palavras de seu secretário, Ashton Carter. O secretário de Defesa expressou suas condolências às vítimas e suas famílias “enquanto determinamos exatamente o que aconteceu”.

Carter também defendeu que os EUA já abriram uma investigação sobre o “trágico incidente” em coordenação com o governo do Afeganistão. “Neste momento tão difícil, vamos continuar trabalhando com nossos aliados afegãos para tentar acabar com a violência em Kunduz e seus arredores”, termina a declaração. A Embaixada dos EUA em Cabul disse que “chora pelas pessoas e famílias afetadas pelo trágico incidente no hospital MSF e por todos aqueles que estão sofrendo com a violência em Kunduz”.

Na manhã de sábado, através dos comandos do Exército, os EUA confirmaram que um ataque da coalizão internacional liderada por suas forças tinha atingido o hospital da organização Médicos Sem Fronteiras na cidade afegã. O bombardeio tinha como objetivo atingir pessoas “que estavam ameaçando suas tropas” e que “poderia ter havido dano colateral em um centro médico nas proximidades”.

Obama disse no sábado que os EUA “continuarão trabalhando com o presidente Ghani, o governo do Afeganistão” e seus aliados internacionais para apoiar suas forças de segurança “no trabalho para garantir a segurança do país”. No entanto, a morte de 19 pessoas, incluindo 12 médicos e enfermeiros da organização humanitária e sete de seus pacientes, podem aumentar a pressão sobre os EUA no Afeganistão, onde o governo local foi obrigado a justificar, após 14 anos de conflito, o custo da estratégia norte-americana em vidas civis.

Mergulhados em plena retirada de suas forças no Afeganistão – os EUA e a coalizão de aliados esperam terminar suas operações de combate no final de 2016 – as forças dos EUA começaram seu apoio com bombardeios em Kunduz na última terça-feira. O incidente no sábado também ocorreu depois que os EUA foram forçados a aumentar seu apoio às forças afegãs na região de Kunduz pela pressão do Talibã.

Segundo a ONU, os EUA respondem por 1% das mortes de civis no Afeganistão, um total de 19.368 desde 2009. No decorrer deste ano, 1.592 civis foram mortos e 3.329 ficaram feridos, um número maior se comparado com 2014, o ano mais violento desde o início da guerra em 2001.

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