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EUA bombardeiam um hospital afegão dos Médicos sem Fronteiras

ONG garante que deu as coordenadas da clínica aos exércitos norte-americano e afegão

Ángeles Espinosa
Imagem distribuída pelo MSF do hospital em chamas.
Imagem distribuída pelo MSF do hospital em chamas.AFP

Um bombardeio aéreo dos Estados Unidos matou no sábado, dia 3, 19 pessoas no no hospital da organização Médicos sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no norte do Afeganistão, segundo informou a ONG. Doze das vítimas eram funcionários da organização e sete eram pacientes da unidade de terapia intensiva, entre eles três crianças. Além disso, há 37 feridos, 19 deles profissionais de saúde. A clínica, a única que continuava funcionando na cidade depois dos combates iniciados pela entrada dos talibãs na segunda-feira, dia 28, ficou destruída. O responsável pelas forças norte-americanas pediu desculpas ao presidente afegão Ashraf Ghani.

“O ataque pode ter causado danos colaterais a um centro médico próximo”, reconheceu pela manhã o coronel Brian Tribus, porta-voz da missão da OTAN em Cabul, no comunicado em que anunciava a operação. “O incidente está sendo investigado”, acrescenta.

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No entanto, mais tarde, o chefe das forças dos Estados Unidos no Afeganistão, o general John Campbell, pediu desculpas pelo ocorrido ao presidente Ghani, segundo um comunicado divulgado por seu escritório. A aviação do país é a única que estava operando na região, já que os insurgentes não dispõem de meios aéreos e os militares afegãos não têm capacidade para voos noturnos. Desde a segunda-feira, dia 28, efetuou doze ataques em apoio às forças afegãs que tentam desalojar os talibãs de Kunduz, quase todos nos arredores da cidade. O desta madrugada era o segundo na região central, segundo Tribus.

O porta-voz do Ministério do Interior, Seddiq Seddiqi, por sua vez, atribuiu o infeliz incidente ao fato de “entre 10 e 15 talibãs” terem se refugiado no hospital. Um vizinho citado pela agência Reuters respaldou essa versão ao relatar que, na sexta-feira, dia 2, os insurgentes se esconderam atrás dos muros da clínica, de onde disparavam contra as forças de segurança. Qualquer que seja o caso, os convênios internacionais proíbem o ataque a centros médicos.

“O bombardeio continuou por pelo menos 30 minutos depois que os responsáveis militares norte-americanos e afegãos em Cabul e Washington foram informados”, denunciou o MSF em um comunicado. A organização, que pediu uma explicação urgente sobre o fato, também afirma que tinha avisado “a todas as partes do conflito” sobre “a localização exata (coordenadas GPS)” de suas instalações, hospital incluído.

Não é a primeira vez que os EUA estão na mira por causar vítimas civis com suas operações aéreas. Em julho passado, dez soldados afegãos também morreram por engano quando aviões norte-americanos atacaram o alvo que vigiavam na província de Logar, a leste do país. Durante os 14 anos que já dura a guerra do Afeganistão, foram numerosos os casos de bombardeios a casamentos, reuniões tribais e outros acidentes que acabaram minando a confiança da população neste país que os ajudou a se libertar do regime talibã, abrindo espaço para a atuação desses radicais islâmicos. De fato, um porta-voz dos insurgentes se apressou a condenar o ataque de hoje ao hospital.

O representante do MSF no Afeganistão, Ghilhem Molinie, declarou ao EL PAÍS na quarta-feira passada que tinha obtido garantias das “novas autoridades”, em referencia aos talibãs, para o hospital e sua equipe. O centro de trauma da organização em Kunduz, o único de seu nível e especialidade em todo o noroeste do país, atendeu 400 pacientes desde o início dos combates da segunda-feira anterior.

No momento do bombardeio, havia ali 105 pacientes e 80 de seus 470 funcionários, dez deles estrangeiros. Todos eles estão a salvo, segundo afirmou a este jornal um porta-voz da ONG. Os feridos mais graves foram levados a um hospital de Puli Khumri, a duas horas pela estrada de Kunduz.

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