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Dilma usa a ONU para dar mensagem de tranquilidade sobre crise no Brasil

Presidenta afirma que não tolerará corrupção e que problemas do país não são estruturais

Silvia Ayuso
Dilma Rousseff discursa na ONU.
Dilma Rousseff discursa na ONU.MATT CAMPBELL (EFE)

A economia do Brasil não tem problemas graves e seu Governo não vai tolerar a corrupção. Essa é a mensagem que a presidenta Dilma Rousseff enviou nesta segunda-feira à Assembleia Geral das Nações Unidas. A mandatária reivindicou novamente que o Brasil quer ser um jogador global, conforme o peso de sua população e economia. No entanto, em vez de apostar numa mensagem internacionalista típica desses fóruns, Dilma pronunciou um discurso com ênfase na situação interna do país para acalmar os mercados e os eleitores.

O Brasil não tem nenhum problema estrutural grave”, afirmou Dilma diante dos líderes mundiais (o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou logo depois).

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A presidenta reconheceu, pela primeira vez num fórum internacional, a que o gigante brasileiro “chegou ao seu limite” na tentativa, nos últimos seis anos, de adotar medidas para impedir o contágio da crise internacional. “A lenta recuperação da economia e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre nosso crescimento”, admitiu.

Mas os problemas da economia brasileira “se limitam às dificuldades atuais”, e o país está respondendo com um pacote de medidas que “garantem o crescimento” de novo, afirmou.

“A economia brasileira é hoje mais forte, mais sólida e mais resiliente do que há alguns anos”, ressaltou a presidenta brasileira. “Estamos em condições de superar as dificuldades atuais e avançar na trilha do desenvolvimento.

Dilma também abordou os escândalos de corrupção que atingiram seu Governo e seu partido.

“Nem o Governo nem a sociedade brasileira toleram a corrupção”, afirmou a mandatária, apelando ao seu passado de luta contra a ditadura militar para reafirmar seu respeito pelas “leis e os direitos”.

“Queremos um país onde os governantes se comportem rigorosamente segundo suas atribuições, sem ceder a excessos. Em que os juízes julguem com liberdade e imparcialidade, sem pressões de qualquer natureza e desligados de paixões político-partidárias, jamais transigindo com a presunção da inocência de quaisquer cidadãos”, afirmou.

Num ano em que as Nações Unidas comemoram seu 70o aniversário e em que o mundo continua enfrentando ameaças e crises como a dos refugiados sírios, que fogem da guerra civil de seu país e da ameaça do Estado Islâmico, a ONU deve ser capaz de “agir com rapidez e eficácia” diante de “quaisquer atos contra humanidade”, declarou a brasileira.

Dilma evocou a imagem de Aylan Kurdi, o pequeno sírio de três anos cuja foto que o mostrou afogado numa praia turca comoveu o mundo e motivou pedidos de maior solidariedade pelos refugiados do conflito.

“A profunda indignação provocada pela morte de um menino sírio morto nas praias da Turquia e pela notícia sobre as 71 pessoas asfixiadas em um caminhão na Áustria deve se transformar em ações inequívocas de solidariedade prática”, afirmou Dilma, chamando de “absurdo” qualquer tentativa de “impedir o livre trânsito de pessoas”, embora não tenha mencionado nenhum país diretamente.

Em vez disso, expôs como exemplo o Brasil, que, segundo a presidenta, é um país “anfitrião” que acolheu “milhões de europeus, árabes e asiáticos” ao longo de sua história porque “tem os braços abertos” e soube “coexistir com as diferenças” para se tornar um país “mais rico e diverso social, cultural e economicamente”.

Em seu discurso de 22 minutos, um dos mais breves da sessão, Dilma voltou a citar o histórico pedido brasileiro pela reforma do Conselho de Segurança que, advertiu, “não pode ser eternamente adiada.”

Para o Brasil, outro tema “inadiável” é a criação de um Estado palestino e, embora Dilma tenha elogiado o início da normalização de relações entre EUA e Cuba, enfatizou a necessidade de que “este processo venha a completar-se com o fim do embargo que pesa sobre Cuba”.

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