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Biografia de David Cameron e #piggate levam Reino Unido à loucura

‘Daily Mail’ divulgou rumor de que o primeiro-ministro britânico fez algo muito feio Mais de 130.000 tuítes comentaram o assunto com a hashtag #piggate

Jaime Rubio Hancock

Nas redes sociais britânicas só se fala do #piggate, escândalo revelado pelo diário britânico Daily Mail na noite de domingo e matéria de capa desta segunda-feira.

O jornal publicou trechos de uma biografia do primeiro-ministro britânico David Cameron, assinada por Lord Ashcroft e Isabel Oakeshott. O que mais chamou atenção é o capítulo dedicado a seus anos de estudante na Universidade de Oxford. De acordo com o livro, Cameron era um membro da Flam Club, um grupo que além de experimentar maconha era especializado em “rituais bizarros e excessos sexuais”. Durante o seu rito de iniciação, Cameron, abrimos aspas e traduzimos literalmente “colocou uma parte privada de sua anatomia na boca de um porco morto”.

Os autores explicam que quando sua fonte, um deputado, contou-lhes essa história eles a tomaram como uma piada. Mas o congressista insistiu em outras duas ocasiões que era verdade, dando mais detalhes e indicando que existe uma fotografia à qual os autores não tiveram acesso e que está em posse de alguém cujo nome se desconhece.

Ou seja, a história tem uma única fonte não identificada que se baseia em uma foto que ninguém viu. Além disso, Lord Ashcroft não tem uma relação muito boa com Cameron. De acordo com o Telegraph, esse político e homem de negócios esperava que Cameron lhe oferecesse um importante cargo político, o que não aconteceu. Não admira que a manchete do Daily Mail comece com a palavra “Revenge!” (“vingança”).

Mas a história é tão escabrosa, delirante e, vamos reconhecê-lo, engraçada que desde ontem à noite o Twitter está cheio de piadas a esse respeito. Desde então foram publicados mais de 130.000 tuítes com a hashtag #piggate (o escândalo do porco). Com exemplos como estes:

“Eles sabem”.

“Por Deus, solte esse pobre animal agora mesmo, Cameron!”

“Meus desejos são... pouco convencionais”. “Então mostre-os.”

“Deveríamos nos beijar para quebrar a tensão?”

“Finalmente posso usar esse recurso. [Refere-se a ‘denunciar por spam’. Spam é um tipo de carne de porco enlatada]

“Entrevista coletiva. Cameron: Alguém tem alguma pergunta? * Todo mundo levanta a mão *. Cameron: Alguma que não seja sobre o porco? * Todo mundo abaixa a mão *.”

“Vejo esses tuítes sobre David Cameron e eu... Simplesmente...”

E Cameron é chamado de Hameron. (“Ham” significa presunto em inglês).

Até mesmo os políticos responderam às insinuações. Tim Farron, líder dos Lib Dems, a quinta força do Parlamento britânico, tuitou: “Nunca estive mais feliz em ser vegetariano”, enquanto Natalie Bennett, líder do Partido Verde, escreveu que estava preparando uma conferência: “Eu não me distraí. Nem um pouco.”

Claro, alguém abriu uma conta paródia para o porco no Twitter.

“David Cameron, foi coisa de uma única noite. Pare de me enviar mensagens.”

O episódio deixou um gosto ruim na minha boca.

Um momento, isso me lembra ‘Black Mirror’

A história apresenta muitos pontos em comum com o primeiro episódio da série britânica Black Mirror. Neste capítulo, que estreou em 2011, sequestram a princesa do país. O resgate exige que o primeiro-ministro tenha relações sexuais com um porco na televisão. O episódio mostra as dúvidas iniciais, as piadas no Twitter e um final chocante que não vamos mencionar para evitar spoilers.

Por causa das semelhanças, Charlie Brooker, o criador da série, teve de negar no Twitter que tivesse ouvido o boato: “Só para esclarecer: não, nunca tinha ouvido falar nada sobre Cameron e um porco quando inventei essa história. Então, isso me surpreende.”

“Merda. Acontece que Black Mirror é um documentário.”

Isso não se pode sequer desmentir

A história tem um antecedente americano mencionado por Hunter S. Thompson em seu livro sobre a campanha para a eleição presidencial dos EUA de 1972, conforme salientou na manhã desta segunda-feira no Twitter o cientista político norte-americano Jeffrey Lewis. O jornalista conta uma antiga história de Lyndon B. Johnson, que provavelmente também é falsa: Johnson estava com dificuldades em uma primária e sugeriu ao seu chefe de campanha espalhar o boato de que seu adversário tinha relações com animais de fazenda.

– Deus, não há nenhuma maneira de que possamos chamá-lo de “comeporcos”, protestou o responsável pela campanha. Ninguém vai acreditar em algo assim.

– Eu sei, respondeu Johnson. Mas façamos com que esse filho de uma cadela tenha de desmentir.

E nessa circunstância se encontra agora o primeiro ministro britânico. Não pode sequer negar a história, porque isso implicaria em dar credibilidade e presença na mídia à história. Mas como Cameron não nega, está enfrentando manchetes como esta, do Independent: “Downing Street se mantém em silêncio sobre as alegações de que David Cameron colocou seus órgãos genitais na boca de um porco morto enquanto estava na Universidade de Oxford”.

Uma enorme manchete do ‘Independent’.
Uma enorme manchete do ‘Independent’.

Em suma, trata-se de uma história publicada por alguém que tem rancor contra o protagonista, sem fontes, sem provas, que lembra uma série de televisão, que tem pontos em comum com uma anedota política norte-americana e que não pode ser desmentida sem fazer um papel ridículo. Felizmente quase todo mundo a está considerando uma piada.

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