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Coluna
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Até que o status do Facebook nos separe

Curtir ou não curtir é o de menos, caro Mark Zuckerberg. O que importa é o status amoroso, ainda muito pobre de opções

Adam Berry (Getty Images)

“O simples fato é que a tentativa de ser perfeitamente curtível é incompatível com os relacionamentos amorosos”. Jonathan Franzen, no livro “Como ficar sozinho” (Companhia das Letras).

Curtir ou não curtir, converso aqui com meus botões, é o de menos, caro Mark Zuckerberg. O que importa é o status amoroso, ainda muito pobre de opções diante dos vínculos e sentimentos fragmentados dos nossos dias.

Não adianta apenas chorar o amor líquido que escorre pelo ralo. Temos também que tirar uma buena onda do atual estadão das coisas. As opções existentes –solteiro, casado, noivo, divorciado, viúvo etc– são válidas, mas ainda estão muito ligadas aos tempos católicos do “até que a morte vos separe”.

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Yes, Mr. Zuckerberg, o “estou em um relacionamento aberto” já foi um belo avanço do seu Facebook. O “relacionamento complicado” idem, oferece humor para quem não cai no conto de transformar a rede social em um novo e falso paraíso.

Cá com os meus botões, caríssimo Zuckerberg –ainda tão jovem e tão calouro no amor–, deixo sugestões de novos status:

Estou em um rolinho primavera – Ideal para os amores rápidos e circunstanciais da estação que começa na próxima quarta-feira, 23, aqui no trópico dos pecados, caro professor Ronaldo Vainfas. Evidentemente uma homenagem à clássica iguaria da culinária chinesa. Com o molhinho vermelho agridoce tão amado pelas fêmeas.

Estou em poliamor – Com a cama na varanda, como diria minha amiga escritora Regina Navarro Lins, brava defensora da possibilidade de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Será?

Love me Tinder – Vale pela paródia, trocadilho infame e ironia ao clássico de Elvis: “Love me tender, love me sweet/ Never let me go...” Tudo aquilo que o aplicativo de encontros não contempla.

Até que a próxima polêmica nos separe – Ideologia, eu quero uma pra viver. Você sabe, como no repertório de Cazuza, que o seu partido é um coração partido, e que a posição política do(a) outro(a) pode representar uma ruptura. Um simples post que você não curta pode ser fatal, todo cuidado é pouco. Nem sempre o amor, longo ou passageiro, é curtível.

Estou em um relacionamento noivo neurótico, noiva nervosa – Vide filme de Woody Allen. Pronto.

Estou em um relacionamento platônico – Naquele chove-não-molha grego, há que sempre lembrar de um mantra do poeta marginal Eduardo Kac: “Pra curar um amor platônico, só uma trepada homérica”.

Estou em um relacionamento de fachada – Só a falsidade impera, teatro, puro teatro. Como canta o meu ídolo Márcio Greych: “Aparências nada mais/ sustentaram nossas vidas...”.

Estou em um relacionamento fala sérioQuando um dos dois se pergunta: posso chamar isso de relacionamento?

Estou em luto amoroso, não perturbe – Respeitável fase de transição sem a qual não se cura de um relacionamento que se foi. Quem a desconsidera se estrepa, sopra aqui meu boneco mamulengo de Freud de boteco.

Acabei de levar um pé-na-bunda – Assumir a derrota amorosa, em vez de fingir que tudo é curtível e lindo nessa vida, é um avanço e tanto. Aconselho. Só a lama cura.

Estou em uma ressaca moral dos diabos – Depois dos 40, a ressaca, mesmo que não seja de fundo moral, vira uma dengue existencialista, algo paralisante etc. E naqueles dias seguintes que você postou ou mandou uma mensagem derramada para o(a) ex na madrugada? Sem comentários.

Estou em um relacionamento com um homem casado – Ele diz que nem dorme mais na mesma cama com a mulher dele etc. Aquele lengalenga todo que você bem conhece. E tudo continua na mesma por meses, anos etc. A gente vai levando essa vida?

Estou em um relacionamento com uma mulher casada – Donde ela pede um sinal de confiança mínima para largar o desalmado. Donde você, macho suspeitoso, não se garante. Durante os drinks e os encontros, banca o maior fodão, no dia seguinte mia felinos e ronronantes mimimis neuróticos de um gatinho covarde.

Estou em um relacionamento? O status quo da dúvida absoluta desses tempos modernos, caríssimo Zuckerberg. Coisa que você, um inventivo, certinho e afortunado garoto nunca se perguntaria na vida. Sempre achei bonito o seu amor pela Priscilla Chan. Fofolândia “marlinda”. Saiba, porém, amigo, que existem inclassificáveis e malucas formas de amar nessa curta vida nem sempre curtível. Um beijo do velho cronista preocupado com o amor nos tempos tecnológicos.

Meu chifre, minha vida

Como me alertou minha santa mãezinha, na crônica da semana passada aqui no EL PAÍS, a fila de Lili não andou. O outdoor no qual a personagem confessa ao ex-marido Sérgio que tem um novo amor era uma jogada publicitária. Nada de um grande golpe de marketing, mas uma boa sacada particularíssima do corretor Paulo Oliveira, de Juazeiro do Norte, na região do Cariri cearense. O problema do casal não era de amor ou sexo. Apenas uma reles questão imobiliária. Ufa!

Xico Sá, escritor e jornalista, é comentarista do programa “Papo de Segunda” (GNT) e autor de “O livro das mulheres extraordinárias” (ed. Três Estrelas), entre outras dez obras.

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