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Exército do Egito atacou turistas mexicanos com bombas aéreas

Ministério do Interior afirma que o comboio foi confundido com terroristas 12 pessoas morreram e 10 ficaram feridas

Foto: reuters_live | Vídeo: El País Vídeo

O Exército egípcio utilizou bombas aéreas no domingo para atacar um grupo de turistas mexicanos que percorria o oeste do Egito. Pelo menos 12 mexicanos e egípcios morreram e outros 10 ficaram feridos depois que os militares lançaram um ataque aéreo sobre os viajantes. Segundo a versão oficial egípcia, os soldados pensaram que o comboio pertencia ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI), com o qual mantêm duros combates. Até o fechamento desta edição, não havia certeza sobre o número de mortos. Fonte oficiais egípcias afirmavam que oito turistas mexicanos foram mortos, enquanto o presidente mexicano Enrique Peña Nieto só admitia dois.

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Numa ligação telefônica, o ministro de Relações Exteriores do Egito, Sameh Shukry, expressou suas condolências à sua homóloga mexicana, Claudia Ruiz Massieu, explicando que o grupo de viajantes estava numa zona onde era realizada uma “operação antiterrorista”.

A chanceler do México disse que os mexicanos haviam parado para descansar e comer em seu trajeto até o oásis de Bahariya (a 416 quilômetros do Cairo) quando ocorreu o incidente. O lugar da tragédia está cerca de 350 quilômetros ao sul da capital egípcia. A agência de viagens egípcia Windows of Egypt –encarregada do percurso– informou ao embaixador do México no Egito, Jorge Álvarez Fuentes, que no grupo viajavam 10 mexicanos que haviam chegado em 11 de setembro ao país.

“Uma equipe conjunta da polícia e do Exército perseguia elementos terroristas na zona desértica e abriu fogo por erro contra quatro veículos com turistas mexicanos que se encontravam numa área restringida”, diz o comunicado do Ministério do Interior do Egito. “Não deviam estar ali, não tinham a autorização necessária”, completou Rasha Azazi, porta-voz do Ministério do Turismo.

No entanto, fontes da empresa que organizou a viagem negaram a versão oficial. “Tínhamos permissão da polícia turística, e o grupo era acompanhado por um agente da polícia turística”, disse um funcionário da empresa ao jornal Ahram, lembrando que não era necessária uma autorização militar para ficar na zona do ataque. Um dos motoristas do comboio afirmou que o grupo foi atacado por um helicóptero Apache e por tropas em terra. O comboio decidiu parar porque um dos passageiros tinha diabete e precisava comer o mais rápido possível, disse a EFE o sindicato de guias de turismo. Para fazer a escala, os veículos do comboio desviaram dois quilômetros da estrada para dentro do deserto.

O Governo mexicano reagiu com rapidez. O próprio presidente Peña Nieto condenou o incidente em sua conta do Twitter. Em suas mensagens, o mandatário pediu uma “profunda investigação” do incidente e afirmou que o pessoal diplomático no Egito será ampliado nas próximas horas para o atendimento às vítimas e suas famílias. Por sua vez, o Ministério do Interior egípcio anunciou a criação de um grupo de trabalho para revelar as circunstâncias que produziram o erro fatal.

A Secretaria de Relações Exteriores do México afirmou que Álvarez Fuentes reuniu-se com seis mexicanos feridos, que se encontravam estáveis. O Governo egípcio informou em seu comunicado que os feridos foram levados ao hospital Dar-al-Fouad, no oeste do Cairo.

Nos últimos dias, no oeste do Egito, que faz fronteira com a Líbia, ocorreram confrontos entre tropas egípcias e militantes da organização Wilayat Sina (Província do Sinai), como foi rebatizado o grupo jihadista Ansar Beit al-Maqdis após juramento de lealdade para com o Estado Islâmico no fim do ano passado. Esse grupo foi ampliando seu campo de atuação, antes restrito à Península do Sinai. Em uma de suas últimas ações, em agosto passado, o grupo anunciou a decapitação do croata Tomislav Salopek, um funcionário de uma empresa petrolífera sequestrado quando voltava do Cairo, onde trabalhava em uma unidade no deserto.

Grande parte do deserto ocidental, habitada por tribos de beduínos, escapou do controle do Estado depois da revolução de 2011, tornando-se um dos principais pontos de trânsito para o tráfico de armas entre a Líbia e o Egito. De fato, várias fontes não oficiais atribuíram às máfias um ataque a um posto de controle do Exército, ocorrido em julho de 2014, e que resultou na morte de 21 soldados.

Embora não esteja entre os principais destinos turísticos no Egito, a área desértica entre o oásis de Bahariya e Dahla tem paisagens de grande beleza natural, que atraem viajantes que querem explorar o país árabe além dos circuitos habituais. O trágico incidente de domingo representa um novo golpe para a atribulada indústria turística egípcia, um dos pilares da economia do país árabe antes da revolução, e que ainda não foi capaz de se recuperar por causa da sequência interminável de ações violentas sofridas pelo país no turbulento período pós-revolucionário. No ano passado, o Egito recebeu quase 10 milhões de turistas, enquanto que em 2010 esse total foi de 14,7 milhões.

México “indignado” com ataque

SONIA CORONA, Cidade do México

O Governo mexicano mostrou-se "indignado" com o ataque do Exército egípcio ao grupo de turistas mexicanos. A ministra de Relações Exteriores, Claudia Ruiz Massieu, divulgou uma nota diplomática ao embaixador egípcio para o México, Yasser Shaban, para comunicar a "profunda consternação” das autoridades mexicanas sobre o incidente.

A chanceler exigiu do Governo egípcio uma investigação "rápida, exaustiva e minuciosa" sobre o incidente. Ruiz Massieu, que compareceu perante a imprensa notavelmente indignada, pediu que as autoridades egípcias deem prioridade e urgência para o caso.

O Governo egípcio criou uma comissão de investigação chefiada pelo primeiro-ministro, Ibrahim Mehleb, para esclarecer as circunstâncias do incidente. "Confiamos que o Governo egípcio atuará com a vontade política e rapidez que este acontecimento lamentável merece", disse Ruiz Massieu. Mehleb visitou os sobreviventes do ataque no hospital. No local, garantiu que receberão todos os cuidados necessários e que o Egito "sente muito" pelo ocorrido.

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