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Lula e Evo Morales, na Argentina para apoiar candidato de Cristina Kirchner

Candidato não sobe nas pesquisas desde as primárias, e quer ampliar perfil internacional

Carlos E. Cué
Scioli jogando futebol num subúrbio de Buenos Aires.
Scioli jogando futebol num subúrbio de Buenos Aires.AP

A reta final da campanha eleitoral argentina, que deveria ser fácil para Daniel Scioli, o candidato com maior intenção de voto para a eleição de 25 de outubro, transformou-se num caminho cheio de obstáculos. Desde as primárias de 9 de agosto, em que ganhou tranquilamente com 38,4%, ele tem tido muitos problemas, sobretudo com as inundações na província de Buenos Aires – ocorridas quando ele estava em viagem de descanso à Itália. Scioli quer reforçar seu perfil de presidenciável e homem de Estado. Para ajudá-lo, chegam esta semana a Buenos Aires duas figuras muito respeitadas na Argentina: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva  e o boliviano Evo Morales. Ambos têm uma relação pessoal com o candidato argentino e o apoiarão. Para quem ainda tem dúvida, o ex-presidente brasileiro deixou claro ontem numa entrevista ao jornal Página 12: “Torço para que Scioli ganhe as eleições.”

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Lula, que mantém uma enorme popularidade na Argentina apesar dos escândalos que o cercam em seu país, estará com Scioli em vários atos na quarta e na quinta, sendo que um deles é especialmente simbólico: a inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA, um pequeno hospital) em José C. Paz, na província de Buenos Aires, reivindicada por Scioli como um projeto essencial de sua gestão. No dia seguinte, Scioli acompanha Lula em visita à Universidade de La Matanza, onde o brasileiro receberá um título de doutor honoris causa.

Assim como Morales, Lula também vai se encontrar com Cristina Fernández de Kirchner, e o objetivo das duas visitas em plena campanha eleitoral parece muito claro: reforçar as intenções de voto de Scioli. O governador de Buenos Aires não é um homem de esquerda. De fato, pertence à ala mais direitista do peronismo e entrou à política graças a Carlos Menem. Mas é o escolhido por esse partido que domina a política argentina para suceder Cristina, e automaticamente se transforma em referência de outros Governos de esquerda latino-americanos aliados dos Kirchner.

Scioli vive uma encruzilhada. Precisa dos votos do kirchnerismo, que não para de dar sinais de que deseja controlar os seus passos na Casa Rosada de qualquer jeito. O Governo lhe impôs como vice Carlos Zaninni, o homem mais fiel dos Kirchner há 30 anos, e aprovou uma lei no Congresso para que ninguém do futuro Governo possa vender as ações de uma empresa pública ou nacionalizada se não tiver dois terços dos votos dos parlamentares. Mas Scioli precisa ampliar seu espaço para ganhar.

Na Argentina começa a se instalar a ideia, refletida por algumas pesquisas, de que se Scioli não conseguir ganhar no primeiro turno – precisa de 45% dos votos ou superar por mais de 10 pontos o segundo colocado, que seria Mauricio Macri –, sua derrota no segundo turno é quase certa porque toda a oposição se uniria.

Nesse contexto de grande inquietude, os estrategistas da campanha de Scioli tentam oferecer uma imagem do governador como homem de Estado com perfil próprio e que inspira confiança. Por isso é importante o apoio de Lula e Evo Morales, que o visitará na quinta em Buenos Aires. Ambos vão estar juntos na entrega do título de doutor honoris causa ao boliviano na Universidade Quilmes.

Semana passada, Scioli já tentou reforçar esse perfil internacional com uma reunião com todos os embaixadores dos países da União Europeia na Argentina. Ali, a portas fechadas, Scioli foi ambíguo segundo vários deles, mas lhes transmitiu a ideia de que sua política exterior será diferente da dos últimos anos de Cristina, que nem sequer compareceu à última cúpula UE-Mercosul em Bruxelas. De forma privada, Scioli lança mensagens sinalizando uma política mais aberta para os investimentos internacionais, embora nunca com compromissos que poderiam fazê-lo enfrentar o kirchnerismo.

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