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Hungria oferece ônibus aos refugiados que querem chegar à Áustria

Mais de cem migrantes resistem em um trem para não ser registrados na Hungria

Foto: atlas | Vídeo: MATT CARDY (GETTY) / ATLAS
Gabriela Cañas

Centenas de refugiados que estavam há dias retidos em Budapeste começaram nesta sexta-feira uma marcha a pé até à fronteira com a Áustria, que fica a cerca de 200 quilômetros da capital húngara. Um grupo de cerca de 200 pessoas caminhava esta tarde pela rua Hegyalja a caminho de deixar a cidade, uma vez que as autoridades os impedem de usar o trem para a Alemanha. Este país é o destino desejado pela grande maioria das pessoas que chegaram à Europa fugindo da guerra. Pais, crianças, idosos, famílias inteiras caminham neste momento pela autoestrada húngara M-1, rumo à Áustria. Os homens e os mais jovens abrem caminho. São seguidos por famílias completas com carrinhos de bebê e mochilas nas costas. À falta de línguas para se entenderem, alguns repetem apenas: “Síria; Áustria”.

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Segundo as agências de notícias internacionais, o Governo húngaro anunciou de última hora na sexta-feira que tinha a intenção de oferecer uma centena de ônibus para acelerar no traslado na fronteira dos refugiados que deixam a capital e os que seguem na estação ferroviária de Keleti.

É um êxodo em massa. A voz parece ter se espalhado em todas as partes do país onde os refugiados estão concentrados. Se eles não podem viajar de trem, avião ou ônibus, o farão a pé. Muitos dos que permaneceram durante dias na estação de trem de Keleti, no centro de Budapeste, começaram a andar para deixar a cidade perto das 13 horas. “A situação é terrível. Estou há quatro dias aqui e não aguento mais”, disse Nasir al Omar, estudante de Arte e Literatura da Universidade de Aleppo, na Síria, à agência Efe.

Quase ao mesmo tempo, mais de 60 migrantes escaparam de um abrigo perto de Bicske, no centro do país, e 300 também deixaram outras instalações de acolhida de estrangeiros na fronteira com a Sérvia, informa a agência Reuters. Trata-se do centro de Röszke, no extremo sul do país, e cerca de 300 se dirigiam para a estrada M5, como afirmou o portal de notícias index.hu. Um jornalista desse veículo de comunicação na região disse que parte dos refugiados correu para um campo próximo, enquanto a polícia os perseguia para trazê-los de volta ao abrigo.

A maioria dos refugiados fugidos foi retida pela polícia, disse a imprensa local. Em Röszke, onde no passado já aconteceram tumultos entre refugiados e as forças da ordem, estão internadas cerca de 2.000 pessoas, apesar de ter capacidade para apenas de 800.

Um trem parado em uma pequena estação a oeste de Budapeste foi o epicentro da crise europeia de imigração durante a manhã. Alguns meios de comunicação já o chamam de trem da vergonha. Duzentos dos quinhentos refugiados transportados por trem na quinta-feira de manhã de Budapeste a Bicske, a 36 quilômetros da capital, permanecem nos vagões. Eles se recusam a ir para o campo de acolhida que existe na localidade. Os outros trezentos já estão alojados nesse campo, onde esperam colocar em ordem seus documentos para poder viajar.

A polícia tcheca escreve números nas mãos dos refugiados

A imprensa tcheca informou que a polícia deteve na terça-feira, em Breclav, no sudeste do país, mais de 200 sírios viajando sem documentos rumo à Alemanha. Com canetas tipo pincel atômico, os agentes escreveram números nas mãos de 115 homens, 38 mulheres e 61 crianças que chegaram da Hungria, supostamente para agrupar os refugiados por famílias, segundo a polícia local.

A medida ocasionou comentários críticos nas redes sociais por sua semelhança com os números que os nazistas tatuavam em suas vítimas nos campos de extermínio durante a Segunda Guerra Mundial.

A República Tcheca pertence ao grupo de países que se opuseram às quotas obrigatórias para aliviar a crise de refugiados na Europa. “As cotas seriam o caminho errado”, disse o primeiro-ministro checo Bohuslav Sobotka no dia 31 de agosto. Até agora, os tchecos se comprometeram a receber 1.500 refugiados até 2017.

A maioria dos migrantes não quer que as autoridades húngaras registrem suas identidades, um processo que implica que é nesse país, no caso, a Hungria, que deve tramitar seu pedido de asilo. Eles querem seguir caminho para a Alemanha. Muitos mostram suas passagens. O trem que tomaram na quinta-feira na estação Keleti de Budapeste tinha como destino a cidade de Sopron, perto da fronteira austríaca. A partir daí, os refugiados, principalmente sírios, pretendiam continuar a pé. Surpreendentemente, a polícia parou o trem logo após sair de Budapeste, em Bicske, e levou muitos deles para o campo de acolhida. Outros resistem. Eles passaram a noite no trem. Eles exigem liberdade para seguir viagem. Oferecem resistência passiva, segundo a polícia. Alguns se jogaram sobre os trilhos ontem, desesperados ao saber que não poderiam chegar à fronteira austríaca. A severidade com que a polícia agiu na estação de Bicske levou a que muitos deles permanecessem no trem, o único trem que partiu ontem da capital húngara.

A empresa ferroviária húngara MAV, por sua vez, informou que não há trens partindo da capital para destinos na Europa Ocidental. Só podem ser feitas viagens dentro do país e, mesmo assim, a polícia exige que os viajantes tenham seus documentos em ordem. Assim, a única opção dos refugiados é caminhar.

A imprensa local fala de duas razões para a tentativa de fuga dos refugiados. Uma das teorias é que os refugiados queriam falar com a imprensa sobre suas condições no centro, o que foi negado pelas autoridades. A outra afirma que a fuga é um protesto contra as más condições do centro, causadas principalmente pela superpopulação do mesmo. O acampamento de Röszke está localizado a cerca de quatro quilômetros da fronteira com a Sérvia, um pouco fora da cidade, cercado por terras agrícolas e florestas.

Foto: atlas | Vídeo: atlas

Enquanto isso, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban continua com seu discurso contra o afluxo de imigrantes. “A realidade é que a Europa está ameaçada pelo fluxo maciço de pessoas, muitas dezenas de milhões de pessoas podem vir para a Europa”, enfatizou na sexta-feira. “Agora falamos de centenas de milhares, mas no próximo ano falaremos de milhões e isto não tem fim”, alertou. “De repente, vemos que somos uma minoria em nosso próprio continente”, previu ele em declarações a uma rádio local, exortando a Europa a “mostrar força, protegendo nossas fronteiras”.

A polícia húngara informou nesta sexta-feira que as autoridades interceptaram 3.313 refugiados na quinta-feira, que entraram no país de forma ilegal pela fronteira sul com a Sérvia. Os cinco campos de acolhida húngaros só têm capacidade para até 8.000 refugiados. É uma capacidade ridícula para a avalanche que chega a esse país de dez milhões de habitantes. O ACNUR calcula que já entraram mais de 150.000. Todos os dias entram entre 2.000 e 3.000 novos migrantes.

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