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Dilma admite que subestimou efeitos da crise econômica no Brasil

Presidenta diz que gravidade do quadro econômico ficou clara após eleição

Rousseff no dia 13, em Brasília.
Rousseff no dia 13, em Brasília.Fernando Bizerra Jr. (EFE)

Pela primeira vez desde que se viu inserida em uma grave crise que atinge o seu governo, a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, admitiu que subestimou os efeitos da turbulência econômica no ano passado. Durante a campanha eleitoral que resultou em sua reeleição entre agosto e outubro, ela negava os problemas, enquanto seus adversários previam meses uma série de erros na condução da política econômica.

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Nesta segunda-feira, indagada sobre o que poderia ter errado enquanto governante, a presidenta ensaiou um raro mea-culpa. “Fico pensando o que é que podia ser que eu errei. Em ter demorado tanto para perceber que a situação podia ser mais grave do que imaginávamos. E, portanto, talvez, nós tivéssemos de ter começado a fazer uma inflexão antes”.

Rousseff disse que só percebeu a gravidade do problema em novembro ou dezembro, depois de reeleita. As declarações foram dadas a repórteres de três jornais brasileiros, Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo.

A petista declarou ainda que sua equipe econômica não esperava que haveria uma queda tão grande na arrecadação de impostos e que não havia nenhum indício de “uma coisa dessa envergadura”.

Ainda assim, Rousseff defendeu as políticas adotadas em seu primeiro Governo (2011-104). Ela ressaltou que sua gestão manteve a desoneração da folha de pagamentos no valor de 25 bilhões de reais e concedeu subsídios para os empréstimos de longo prazo feitos no Brasil.

“O que é possível considerar é que poderia ter começado [a fazer] uma escadinha. Agora, eu nunca imaginaria, ninguém imaginaria que o preço do petróleo cairia de 105 dólares [o barril] em abril, para 102 dólares em agosto, para 43 dólares hoje. A crise começa em agosto, mas só vai ficar grave, grave mesmo, entre novembro e dezembro. É quando todos os estados da Federação percebem que a arrecadação caiu”, declarou.

Sobre a economia internacional, que agora vê o início de uma crise chinesa, Rousseff disse que o futuro é imprevisível. Ela se mostrou chocada, segundo a Folha, com as informações que circulavam no mercado financeiro de que seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estaria de saída do cargo porque na segunda-feira estava em viagem aos Estados Unidos, sem compromisso oficial. Conforme Rousseff, é mentira que ele deixaria o cargo e a viagem ocorreu por motivos familiares. "Foi ver a menina [filha] dele, que vai morar na China".

Perda de apoio

A presidenta convidou os três jornais para essa entrevista no mesmo dia em que o vice-presidente Michel Temer deixou a articulação política para se dedicar a assuntos mais amplos do Governo. A decisão do vice assustou mercados e o mundo político.  Ou seja, Temer deixou de negociar cargos e emendas parlamentares com deputados e senadores, para debater apenas os principais projetos de interesse da gestão que tramitam no Congresso.

O desembarque de Temer da articulação política foi vista como um movimento natural pela presidenta. Ela disse que o vice-presidente cumpriu o seu papel ao ajudar o Governo a aprovar o ajuste fiscal. “O Temer tem sido de imensa lealdade comigo. Nós tivemos uma primeira fase da articulação política coordenada pelo Temer. Qual é o resultado dessa fase? Um sucesso. Conseguimos aprovar as medidas do reequilíbrio fiscal. E estabelecemos uma relação com o Congresso. A gente perde e a gente ganha no Congresso. Cada vez que a gente perde é uma crise? Não é”.

Corrupção e Lava Jato

Sobre as investigações conduzidas pelo juiz Sérgio Moro, que fez seu Governo estremecer com as revelações sobre a corrupção na Petrobras, a presidenta afirmou que “ninguém pode interromper esse processo”. “Quanto mais rápidas as investigações, melhor”. A presidenta disse ainda que não tinha imaginado que petistas estivessem envolvidos no esquema. Questionada se foi surpreendida, ela disse: “Fui. E lamento profundamente”.

Reforma administrativa

Além de mudar sua avaliação sobre a crise econômica, nesta semana Rousseff também mudou sua opinião sobre o tamanho da máquina pública. Até então, ela defendia com unhas e dentes a manutenção de todos os seus 39 ministérios. Na segunda-feira, seu Governo anunciou que pretende reduzir até de pastas e cortar ao menos 1.000 dos 22.000 cargos comissionados, que são de servidores sem concursos públicos. “Não posso dizer quem é que está marcado para morrer porque não tenho certeza, primeiro, se vai morrer”, disse.

Nesse ponto, o desafio da presidenta será obter o apoio dos seus aliados para esses cortes de cargos, sem perder a sustentação de seu Governo no Congresso Nacional. Atualmente, há nove partidos ocupando ministérios. O PT, com 13, e o PMDB, com seis, são os que mais têm cargos no primeiro escalão governista. Mas até mesmo legendas que já anunciaram rompimento com Rousseff, como o PDT e o PTB, mantêm o comando de algumas pastas. Assim, o corte de ministérios deve ser seguido de uma reforma ministerial entre os que sobreviverem.

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