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Eduardo Cunha anuncia rompimento com o Governo Dilma

Presidente da Câmara dos Deputados diz que será oposição ao Governo a partir de agora Vice-líder do Governo na Casa defende o afastamento de Eduardo Cunha da presidência

Gil Alessi
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Antonio Cruz (Agência Brasil)

O que na prática já vinha acontecendo agora é oficial: Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acaba de anunciar seu rompimento formal com a presidenta Dilma Rousseff. Acuado após um delator da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, tê-lo acusado de ter recebido 5 milhões de dólares em propinas, o até então todo-poderoso presidente da Câmara convocou a imprensa nesta sexta-feira pela manhã para anunciar o fato. Eduardo Cunha culpa o Governo pelos vazamentos de depoimentos envolvendo seu nome e, após as denúncias do lobista Julio Camargo, entrou em guerra declarada com os petistas.

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"Saiba que o presidente da Câmara agora é oposição ao Governo. Eu, formalmente, estou rompido com o Governo. Politicamente estou rompido", afirmou o peemedebista durante o breve anúncio. Ele fez questão de frisar, no entanto, que este fato não irá afetar a governabilidade: "Nada deixará de ser pautado ou impedido. Teremos a seriedade que o cargo ocupa".

Cunha também disparou contra o juiz responsável pela Lava Jato em Curitiba: "O Sérgio Moro atuou ontem com aquilo que ele não tinha competência para atuar". Ele disse ainda que essa ação foi feita "obviamente, em conjunto com o Ministério Público, e as ações do MP são combinadas com o Governo". Na opinião do peemedebista, a atuação do MP tem sido seletiva. "As casas que foram invadidas [pela PF], nenhuma era de senadores do PT", afirmou.

Saiba que o presidente da Câmara agora é oposição ao Governo Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Em nota, o Planalto afirmou que "sempre teve e tem atuado com total isenção em relação às investigações realizadas pelas autoridades competentes", e que só intervêm "quando há indícios de abuso ou desvio de poder".

O vice-líder do Governo na Câmara, deputado Sílvio Costa (PSC-PE), anunciou pouco depois que vai pedir o afastamento temporário de Eduardo Cunha do comando da Casa. “Do ponto de vista legal, Cunha tem a seu favor a presunção da inocência, mas do moral, perdeu as condições de ocupar a presidência". Ele afirmou, porém, que age como parlamentar e não em nome da vice-liderança do Governo.

“Do ponto de vista moral,  perdeu as condições de ocupar a presidência Sílvio Costa (PSC-PE)

Até o momento trata-se de uma posição individual de Cunha, uma vez que o PMDB continua na base petista. Em nota à imprensa, o partido do vice-presidente Michel Temer informou que "A manifestação de hoje do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB. Entretanto, a Presidência do PMDB esclarece que toda e qualquer decisão partidária só pode ser tomada após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional".

Apesar disso, Cunha afirmou que irá tentar inverter a situação: "Eu vou tentar que meu partido vá para a oposição". Ele disse ainda que caso esse seja o caminho escolhido pela legenda, será preciso devolver os ministérios.

O presidente da casa ainda fez questão de tentar se diferenciar dos petistas presos durante a operação Lava Jato, e disse que "essa lama, em que está envolvida a corrupção da Petrobras, cujos tesoureiros do PT estão presos, eu não vou aceitar estar junto dela". As palavras de Camargo ao juiz Sergio Moro, porém, mostram que Cunha terá de empenhar muita energia para não ter a imagem vinculada à corrupção.

O vazamento dos depoimentos de Camargo na tarde desta quinta veio em um momento inoportuno para Cunha, que vai ao ar em rede nacional de TV na noite de hoje para falar sobre as realizações do primeiro semestre da casa. Ontem ele havia classificado as denúncias como mentirosas, e disse que o delator está sendo pressionado por alguém para acusá-lo. O presidente da Câmara chegou a citar o nome do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como possível artífice da acusação. "Acho estranho que na véspera da eleição para procurador-geral e um dia antes de eu ir falar na TV aconteça isso" , afirmou.

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