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Banco Central Europeu aumentará a ajuda de emergência a bancos gregos

Mario Draghi declarou que a necessidade de reestruturar a dívida da Grécia “é indiscutível”

O presidente do BCE, Mario Draghi.Foto: AGENCIA_DESCONOCIDA | Vídeo: ap / reuters-live!
Claudi Pérez

O que não era possível há apenas uma semana hoje já está sobre a mesa: o chefe do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, acaba de tirar da manga um desses truques de mágica que o tornaram mundialmente conhecido. Draghi anunciou que o Eurobanco amplia as linhas de crédito de emergência aos bancos gregos. Sua explicação: “Foram restabelecidas as condições”. O acordo de segunda-feira passada e as medidas de urgência aprovadas ontem pela Grécia permitiram o milagre, e as torneiras do BCE voltam a se abrir para os deteriorados bancos gregos. Draghi afirmou que o corralito [restrição de saques] deve acabar “o mais breve possível”.

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E tem mais. Draghi declarou que a necessidade de reestruturar a dívida “é indiscutível”. Com essas duas palavras, acabou de uma vez com a profusão de vozes que diziam que essa medida pedida por Atenas não era um assunto urgente. O presidente do BCE deixou aberta a modalidade desse alívio da dívida. Descartado a liquidação da dívida, o mais provável é uma ampliação dos prazos de carência sem pagamento de juros e de devolução.

E ainda sobrou tempo para um último truque. Draghi explicou à imprensa, em Frankfurt, que poderia comprar títulos gregos antes do previsto, dentro do seu programa de compra de dívida, a versão europeia do QE. Para isso, o programa de resgate deve ser posto em marcha. E a Grécia precisa demonstrar que cumpre com folga as condições impostas: isto é, Atenas tem que se esforçar para executar as reformas e pagar o que deve ao FMI e ao BCE. Se assim for, a compra de títulos gregos vai começar inclusive antes do primeiro teste do programa, no final do verão.

A partir desta quinta, o Conselho de Governo do BCE volta a reativar a ajuda de emergência aos bancos gregos, após tê-las congelado há duas semanas em 89 bilhões de euros (cerca de 303 bilhões de reais). Draghi afirmou que foi atendido o pedido inicial do Banco da Grécia, o que significa subir essa linha em 900 milhões de euros (3,1 bilhões de reais) na próxima semana.

Draghi afirmou que a decisão contou com a maioria necessária (dois terços dos votos), mas não revelou se o voto foi unânime. Disse que é óbvio que será “necessária” uma reestruturação da dívida grega, mas não se pronunciou sobre as exigências de reserva da medida. “A questão é como”, acrescentou.

Draghi mencionou o “princípio de acordo” que o Eurogrupo alcançou nesta manhã para liberar 7 bilhões de euros (23,8 bilhões de reais) de forma iminente para a Grécia, a fim de que o país possa cumprir com os vencimentos urgentes da próxima segunda, quando deve fazer frente a um pagamento de 4,2 bilhões de euros (14,3 bilhões de reais) ao próprio BCE. Dentro dos motivos que agora levam o supervisor do euro a considerar a que foi reforçada a solvência dos bancos gregos, e que eles podem oferecer ativos como garantia para conseguir esses empréstimos de curto prazo, o presidente do BCE também ressaltou o apoio do Parlamento grego ao terceiro programa de resgate proposto pelo Eurogrupo e aceito pelo Governo de Tsipras.

O congelamento das injeções de liquidez obrigou os bancos a manter as portas fechadas e a estar sujeitos a uma restrição dos movimentos de capital para evitar o colapso diante de uma previsível fuga massiva de capitais por medo da saída grega do euro. O aumento da injeção de liquidez por parte do BCE é um elemento indispensável para que os bancos gregos voltem a operar de maneira gradual e levantem o corralito, ainda que os controles e as restrições possam continuar enquanto não for executada a parte do resgate que reserva 25 bilhões de euros (85 bilhões de reais) para recapitalizar as entidades.

Na quarta, o Governo grego decidiu manter fechados os bancos pelo menos até a sexta e deixou intacto o limite de 60 euros (204 reais) para os saques em dinheiro dos caixas eletrônicos e de 120 euros (408 reais) como o máximo semanal para os pensionistas que só têm o cartão de seguridade social.

Draghi argumentou que a linha de crédito de emergência aos bancos gregos foi congelada após o não pagamento de uma parte da dívida da Grécia com o FMI. E afirmou que as últimas decisões da Grécia e do Eurogrupo melhoram as perspectivas de cumprimento dos compromissos da dívida, um ponto essencial para a avaliação da solvência dos bancos gregos, que, junto às instituições, são os principais detentores de títulos da dívida grega. “Toda a informação que tenho indica que a Grécia pagará a nós [BCE] e ao FMI”, disse.

Draghi declarou também que o BCE agiu sempre com a premissa de que a Grécia era membro da zona do euro. E, diante da polêmica criada pelas afirmações do Governo alemão acerca de uma possível saída temporária do país da zona do euro, para tornar possível a liquidação da dívida, o presidente do Banco Central insistiu que esta seria uma decisão dos Estados, mas que não é o fundamento que agora orienta a ação do BCE.

Além disso, o Conselho de Governo do BCE decidiu nesta quinta manter as taxas de juros do euro no mínimo histórico de 0,05%, tal como previsto. Draghi destacou que o programa de compra de ativos iniciado em março levou a uma melhora da transmissão da política monetária, mas também lembrou que o objetivo é voltar à estabilidade de preços, tendo como referência uma inflação próxima de 2%, quando agora está em 0,2%.

“Vamos manter esta orientação de maneira firme até alcançarmos nossos objetivos”, disse Draghi, em referência às taxas de juros no mínimo histórico e às compras de ativos. Outros supervisores, como o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) e o Banco da Inglaterra, apontaram para uma próxima alta das taxas pelo avanço da recuperação econômica nessas áreas.

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