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Parlamento grego apoia Tsipras apesar da rebeldia de seu partido

Primeiro-ministro conseguiu apoio a proposta, mas 17 deputados do Syriza votaram contra

María Antonia Sánchez-Vallejo
O primeiro-ministro Tsipras na sessão desta madrugada.
O primeiro-ministro Tsipras na sessão desta madrugada.ANDREAS SOLARO (AFP)

O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras obteve o apoio da maioria do Parlamento na madrugada do sábado para negociar neste domingo em Bruxelas, em uma reunião crucial do Eurogrupo [instância que agrupa ministros de Finanças e outras autoridades da zona do euro], que se evite a saída do país da zona do euro. Com 251 votos em uma Câmara de 300 deputados –o maior apoio dado a um chefe de Governo grego nos últimos cinco anos–, Tsipras conseguiu a luz verde para sua mais recente proposta, quase idêntica àquela rejeitada no referendo de domingo passado por 61,3% dos eleitores e que inclui cortes de 12 bilhões de euros (cerca de 43 bilhões de reais) em troca de um resgate com duração de três anos no valor de 53 bilhões de euros.

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Mas Tsipras pagou um preço alto: a rebelião no Syriza ameaça sua maioria parlamentar absoluta que mantém com seus parceiros e levaria, ao menos, a uma reestruturação do Governo. O apoio maciço foi empanado pela rebeldia de 17 dos 149 deputados do Syriza, dos quais apenas dois votaram contra o texto, enquanto o resto se absteve ou faltou à votação (como o ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis). Entre estes últimos figuram três nomes de peso no partido e do Governo: o ministro da Reconstrução Produtiva, Panayotis Lafazanis –líder da Plataforma de Esquerda, a ala mais radical do Syriza e frontalmente contrária ao resgate financeiro–, o ministro adjunto da Seguridade Social, Dimitris Stratulis, e a presidenta do Parlamento, Zoé Konstandopulu.

Outro grupo de 15 deputados do Syriza que votou a favor da proposta de Tsipras assinou, contudo, uma declaração na qual ratifica sua oposição a qualquer medida de austeridade adicional, como as que estão na lista de reformas apresentada a Bruxelas e que será examinada neste sábado pelo Eurogrupo. No entanto, tendo em conta o peso específico da ala radical –cerca de 35 cadeiras–, o resultado da votação não foi de todo adverso para Tsipras.

A proposta colheu, assim, os votos favoráveis da maioria dos deputados do Syriza, todos os de seu parceiro de governo, Gregos Independentes (ANEL), apesar de anúncios prévios de dissenso, e, por unanimidade, os votos dos três partidos da oposição parlamentar, o conservador Nova Democracia, o liberal To Potami, e o socialista Pasok, que indicaram que seu apoio a Tsipras é unicamente para evitar a saída do país do euro.

Os constitucionalistas examinam agora em detalhe esses 17 votos do Syriza que Tsipras não conseguiu, que o fizeram perder a maioria parlamentar do Governo (162 no total, incluindo os 149 do Syriza e os 13 do ANEL). Segundo a Constituição, o princípio da maioria absoluta deve ser respeitado, embora os especialistas consultados não estejam todos de acordo sobre se a derrota deveria implicar na convocação de novas eleições ou simplesmente em mudanças internas. Analistas políticos apontam para a possibilidade de mudanças em curto prazo tanto no Governo como nas fileiras do Syriza, mas somente depois de superada a prova de fogo de Bruxelas.

Fortalecido externamente e com uma grande fissura em casa, Tsipras enfatizou em um comunicado que a primeira coisa a fazer é obter um acordo com os parceiros, pois “o resto virá no seu devido tempo”. A formação To Potami pediu a formação de um Governo de unidade nacional.

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