_
_
_
_
_

Tsipras mantém o referendo e pede votação maciça no não

‘O Governo grego continua na mesa de negociação’, disse o primeiro-ministro grego

Foto: AGENCIA_DESCONOCIDA | Vídeo: reuters-LIVE!
M. A. S-V.

“O referendo de domingo na Grécia não tem nada a ver com o euro ou com a Europa; aqueles que nos acusam de ter uma agenda secreta [a favor da saída do euro] mentem”. Taxativo, firme e sem fazer concessões, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras dirigiu-se na tarde desta quarta-feira ao país apenas uma hora antes do início da reunião do Eurogrupo [instância que reúne ministros de Finanças e outras autoridades da zona do euro], e depois de um dia cheio de rumores e informações contraditórias, para confirmar que o referendo segue adiante, como porta para uma nova rodada de negociações mais vantajosa para a Grécia.

“Queremos um acordo com os parceiros, mas um acordo com perspectiva de futuro, uma solução viável. Após o anúncio do referendo, recebemos melhores propostas, especialmente no que diz respeito à reestruturação da dívida, e o Governo grego continua na mesa de negociação. Um veredito popular é muito mais poderoso do que a vontade de um Governo, de modo que um grande não no referendo de domingo será um passo decisivo para um melhor acordo. Porque o ‘não’ não significa uma ruptura com a Europa, mas um retorno à Europa dos valores”, disse ele, repetindo os mesmos argumentos usados na segunda-feira, na primeira entrevista depois do anúncio do referendo, um dia que muitos esperavam uma rendição.

Mais informações
Promessas não cumpridas do Governo grego
Grécia aceita as condições propostas pela União Europeia
Alemanha afasta possibilidade de acordo imediato com a Grécia

Com sua referência aos esboços do acordo, Tsipras aludiu a um em particular, que na manhã de quarta-feira parecia quase definitivo, a contraproposta que Atenas enviou na terça-feira aos responsáveis pelas três instituições credoras, na qual o Governo insistia em três condições irrenunciáveis –mas não particularmente dispendiosas– para firmar a paz com os parceiros: um desconto especial de 30% do IVA para as ilhas, o adiamento do aumento da idade de aposentadoria e uma prorrogação para eliminar o EKAS, o fundo social de pensões compensatórias para os gregos com pensões mais baixas.

O chefe do Governo se referiu às dificuldades que o país enfrenta, com um corralito [retenção de depósitos bancários] desde segunda-feira e um máximo de 60 euros por cliente e por conta por dia disponível nos caixas eletrônicos. “Estou perfeitamente consciente das dificuldades. Nos obrigaram a fechar os bancos em resposta ao anúncio do referendo, em um clima de grande asfixia econômica, mas o controle de capitais é temporário e não haverá perda de salários e pensões; também estão garantidos os depósitos das pessoas que não retiraram seu dinheiro”.

Horas depois de o Conselho da Europa ter se pronunciado sobre as dúvidas levantadas pelo referendo grego — pouco tempo para ser organizado e um enfoque defasado, o da proposta dos parceiros, para não mencionar a formulação da pergunta —, Tsipras se atreveu a replicar fazendo uma revisão dos últimos referendos realizados na Europa. “Outros países europeus fizeram referendos sobre temas relacionados com a Europa e, entretanto, parece que a Grécia não pode fazê-lo”. “Viremos a página, defendendo a democracia e nossa convicção sobre um melhor acordo. Por nossos filhos, pelas gerações futuras, ele não é o nosso dever diante da história “, concluiu o chefe do Executivo grego num tom firme e enérgico que não mostrava qualquer indício de dúvida sobre a possibilidade de ter abortado a crise com o que todos consideravam a iminente assinatura de um acordo.

Diante da segurança do discurso do primeiro-ministro, as críticas da oposição aumentaram de volume, à medida que se aproxima o referendo. "O governo está mentindo e levando o país à bancarrota; então você tem que votar sim, sim para o euro, a Europa e para o futuro ", disse o líder conservador Andonis Samarás. 

"O governo está mentindo ou desconhece a realidade. No referendo de domingo se decide a via europeia do país; por razões legais e econômicas, um não, no melhor dos casos, significa deixar o euro, e na pior das hipóteses, deixar a União Europeia", sustentava Pavlos Elefzeriadis, professor de Direito Comunitário na Universidade de Oxford e chefe da política europeia do liberal To Potami, que faz campanha para o sim. No extremo oposto, um grupo de funcionários do Ministério das Finanças estenderam, sem permissão, uma grande faixa das janelas do edifício, com o slogan "Não à chantagem". O tamanho da faixa só não era comparável ao desafio que a Grécia enfrenta nos dias de hoje.

Varoufakis explica os motivos do "não" do Governo grego

O ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, publicou na tarde de quarta-feira em seu blog um texto curto que explica os motivos do Governo a que pertence para se opor à proposta europeia no referendo de domingo. Reproduzimos abaixo, traduzido do inglês, o artigo do ministro das Finanças grego:

Por que recomendamos votar “não” em seis pontos

  1. As negociações estão paralisadas porque os credores da Grécia se recusaram a reduzir nossa impagável dívida pública e insistiram que deveria ser paga pelos cidadãos mais fracos da nossa sociedade, seus filhos e netos.
  2. O FMI, o Executivo dos Estados Unidos, muitos Governos de todo o mundo e a maioria dos economistas independentes acreditam –como nós– que a dívida deve ser reestruturada.
  3. Em novembro de 2012 o Eurogrupo admitiu que a dívida deveria ser reestruturada, mas se recusou a fazer essa reestruturação.
  4. Desde o anúncio do referendo, as instituições europeias deram sinais de que estão preparadas para debater uma reestruturação da dívida. Esses sinais mostram que a Europa também votaria "não" à sua própria oferta final.
  5. A Grécia permanecerá no euro. Os depósitos bancários em bancos gregos estão a salvo. Os credores optaram pela estratégia da chantagem com base no fechamento dos bancos. O impasse atual nas negociações se deve à vontade dos credores, não é uma escolha dos credores ou responde à vontade da Grécia de sair do euro (Grexit) e impor uma desvalorização. O lugar da Grécia na zona do euro e na UE não é negociável.
  6. O futuro exige uma Grécia orgulhosa na zona do euro e no coração da Europa. Esse futuro necessita que a Grécia diga um sonoro "não" no domingo, que permaneçamos na zona do euro e que, com o poder que nos for concedido por esse sonoro "não", renegociemos a dívida pública grega e a distribuição das responsabilidades.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_